São Paulo, sexta-feira, 09 de setembro de 2011

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Cultura em pedaços

Entre reflexões sobre o intervencionismo e o revanchismo, 11 de Setembro mudou a indústria cultural

THALES DE MENEZES
DE SÃO PAULO

"O que aconteceu lá foi a maior obra de arte já feita!"
Proferida em Hamburgo, numa entrevista no dia 16 de setembro de 2001, a frase do alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007) foi explosiva.
Para muitos, o maior compositor erudito do século 20 passou da conta ao comentar o ataque terrorista ao World Trade Center, em Nova York, que completa dez anos.
Mas Stockhausen não deixou de sinalizar o efeito que o 11 de Setembro provocaria na indústria cultural. Não significa pouco o então prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, ter escolhido o humorístico de TV "Saturday Night Life" para falar à população após o atentado.
A série "West Wing", sobre bastidores da Casa Branca, produziu às pressas um episódio sobre o ataque para abrir uma nova temporada naquele mesmo mês.
Um herói de TV é o grande "filho" do 11 de Setembro, o mais icônico personagem do sentimento revanchista de boa parte dos americanos. Jack Bauer, agente de "24 Horas", deu corpo ao vale tudo para impedir terroristas de atacar seu país. Matar e torturar são ferramentas do dia a dia de Bauer contra os estrangeiros malvados. Para conseguir uma informação, cometeu atrocidades por várias temporadas.
Interrogou pessoas atirando no joelho delas ou aplicando choques com o fio que arrancou de um abajur. Bauer passou tanto dos limites que os generais americanos proibiram seus soldados no Oriente de assistir aos episódios de "24 Horas". No cinema, o documentário "Fahrenheit 11/9" trouxe a visão de Michael Moore sobre a política intervencionista de George W. Bush. Mais uma vez, foi acusado de manipular seus entrevistados.
Oliver Stone dirigiu um drama de bombeiros presos no WTC, "As Torres Gêmeas", e Paul Greengrass foi mais contundente com o modesto "Voo 93", relato ficcional de como os passageiros derrubaram o avião sequestrado que atacaria o Pentágono. Hollywood não produziu tanto sobre o 11 de Setembro porque a transmissão ao vivo foi impactante demais.
"Você pode criar uma reconstituição incrível de uma batalha da Segunda Guerra que ninguém viu, mas como competir com a emoção provocada pelas imagens reais do atentado?", disse Steven Spielberg, que produziu documentários sobre o ataque.
Quem melhor captou o espírito do 11 de Setembro foi a diretora Kathryn Bigelow. Seu "Guerra ao Terror", filme de baixo orçamento sobre soldados americanos desarmando bombas no Iraque, fez o público americano refletir sobre sua atuação no mundo e tirou o Oscar quase certo da ficção escapista "Avatar".
Os livros de análise podem lotar estantes enormes, numa lista de autores que inclui Gore Vidal e Noam Chomsky. Na ficção, sobrou espaço para consagrados e novatos. Don DeLillo publicou sua melhor obra em anos, "Homem em Queda" (2003), que começa com um sujeito procurando mulher e filho nas cinzas do World Trade Center.
Mas foi a revelação Colum McCann que escreveu uma alegoria comovente sobre o ataque. Em "Deixe o Grande Mundo Girar", usa a figura do equilibrista que cruzou as torres sobre um cabo, em 1974.
Nos quadrinhos, os politizados Art Spiegelman e Joe Sacco lançaram gibis que eram esperados por seus fãs. Agora, dez anos depois, até Frank Miller dá sua versão.
Passada a efeméride, talvez títulos sobre o 11 de Setembro percam apelo no mercado, mas seus efeitos perduram no entretenimento.

Conheça os filmes, livros, HQs e discos sobre 11 de Setembro
folha.com/no972115



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