São Paulo, quarta, 9 de setembro de 1998

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NETVOX
Pesquisa diz que Internet provoca depressão

MARIA ERCILIA
Editora de Internet

O uso da Internet pode aumentar a depressão e a solidão -esta é a conclusão de um estudo de dois anos, realizado por pesquisadores da universidade Carnegie Mellon (Pensilvânia, EUA).
Segundo a pesquisa, foi encontrada uma correlação entre o número de horas que os usuários passam na rede e seu nível de depressão e diminuição do círculo de amizades.
Deprimidos devem ter ficado os patrocinadores do estudo: Apple, IBM, Intel, HP, AT&T e outros gigantes da indústria de informática desembolsaram 1,5 milhão de dólares para o projeto, provavelmente esperando resultados positivos.
Em vez de mostrar que a Internet é mais construtiva socialmente que a TV, a pesquisa chegou à conclusão contrária.
Foram entrevistadas 169 pessoas, que anteriormente ao estudo não tinham acesso à Internet. Elas ganharam computadores, fizeram um treinamento e responderam questionários no começo do estudo e dois anos depois.
O resultado da pesquisa, chamada de "HomeNet", acaba de sair na revista "American Psychologist".
Há uma série de problemas com o estudo da universidade Carnegie Mellon, apesar do dinheiro e do tempo gastos nele. Alguns que me chamaram mais a atenção:
As pessoas pesquisadas não começaram a usar a Internet espontaneamente. Ganharam computadores e acesso de graça, especificamente para ser avaliadas. Isso já torna a amostra bem diferente de usuários que se conectaram voluntariamente.
Os autores da pesquisa não têm como diferenciar se foi o uso da Internet que afetou o humor dos usuários, ou o uso do computador. Talvez tivessem obtido o mesmo resultado se as pessoas tivessem ficado o mesmo número de horas no computador, sem Internet, ou na TV.
Os pesquisadores mediram o uso da rede apenas pelo número de horas. Uma pessoa que passa uma hora pesquisando para um trabalho escolar, outra que passa o mesmo tempo procurando desesperadamente por companhia e uma terceira que gasta 15 minutos respondendo e-mail têm experiências muito diferentes.
É como dizer que uma pessoa que aluga uma ou duas comédias no sábado e outra que assiste uns oito filmes pornô por semana são "usuários de vídeo".
As variações no humor dos entrevistados são muito pequenas. Algo como um 1% a mais de depressão para 4% de uso da rede. Para a solidão, os valores são ainda menores. Ninguém começou a pesquisa num estado de ânimo normal e terminou clinicamente deprimido.
Os pesquisadores dizem que os entrevistados ficaram mais deprimidos por causa da Internet, e não que passaram mais tempo conectados por estarem mais deprimidos, ou para tentar escapar da depressão.
Mas isso é muito difícil de quantificar. Seria muito provável que algumas pessoas que estivessem atravessando períodos negativos tivessem buscado a Internet como válvula de escape. Numa amostra pequena como a desta pesquisa, é fácil desequilibrar os resultados assim.
Mas não precisa de pesquisa de US$ 1,5 milhão para descobrir que nenhuma máquina substitui o contato entre duas pessoas. A Internet é mais uma maneira de gastar o tempo, que vem competir com todo o aparato da mídia pela nossa atenção.
Só que o tempo é um recurso finito -o dia continua tendo 24 horas e nossa expectativa de vida não vai aumentar drasticamente nos próximos anos.
A questão é: quem usa a Internet algumas horas por semana está deixando de fazer o quê? Brincar com os filhos, sair, ver televisão? Eu já notei que leio menos revistas e quase não vejo TV, por exemplo. E você?

Russo mostra trabalho no Isea
"Revolution", do russo Alexei Isaev, é um dos trabalhos que estão sendo apresentados no Isea 98 (International Symposium on Electronic Art), que acontece nesta semana em duas cidades inglesas, Liverpool e Manchester. Confira no endereço www.aha.ru/newart

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