|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"PARADE"
Exposição mostra universo moderno em desfile em SP
FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA
No momento em que colhemos as incertezas plantadas
pelo século mais assassino da história, "Parade" chega a São Paulo
como uma brisa de esperança. A
mostra reúne obras-primas do
poder criador concentrado em
Paris nos últimos cem anos.
O acervo provém de um museu
de primeira grandeza. O Centro
Pompidou não mediu esforços
para enviar aos trópicos peças do
mais alto valor estilístico e histórico. O espectador brasileiro poderá ver obras que figuravam nas salas de exibição permanente do
Beaubourg até antes da recente
reforma do prédio parisiense, como "As Duas Barcas", de André
Derrain, e "Os Poderes do Desastre", de Roberto Matta.
A curadoria tematiza o século
20. Os núcleos de exibição dividem-se cronologicamente. Como
num panorama acelerado, vemos
desfilar momentos cruciais da reflexão da arte moderna sobre o
desenrolar da cultura sob o ponto
de vista da grande capital da civilização ocidental.
Os primórdios da arte moderna
mostram a fé no poder crítico da
criação. É emblemático o filme
"Viagem à Lua" (1902), de Méliès:
uma sátira simbolista aos altos valores da França positivista. O público poderá ver uma cópia projetada na calota do prédio, como
num planetário.
O deleite com o período anterior à Primeira Guerra estende-se
pela sala expressionista de Kandinsky, pelos "fauves" de primeira linha e pela enigmática roda de
bicicleta de Duchamp (1913).
A poética da vanguarda clássica
é realçada pela ousadia da montagem primorosa. A "Musa Adormecida" (1910), de Brancusi, parece dançar com a "Cabeça de
Mulher" (1912), de Modigliani,
devido ao efeito de uma iluminação giratória. A crença na revolução comunista merece destaque.
A vanguarda abraçou os ideais da
Revolução de Outubro de modo
emblemático no "Modelo do Monumento à Terceira Internacional" (1919), de Tatlin, e na exaltação da máquina no "Balé Mecânico" (1923), de Léger.
O mergulho europeu na decadência do entre-guerras foi registrado de forma dialética. Por um
lado, a exacerbação do pensamento cartesiano está presente na
amostragem de design: Le Corbusier, Eileen Gray, Jean Prouvé. No
extremo oposto, a irracionalidade
surrealista questiona os esquemas
tradicionais de diversas mídias:
fotografia, cinema, escultura.
A criteriosa seleção de obras do
pós-guerra põe em cheque a propagandeada perda da posição
central de Paris para Nova York.
Como não admitir a qualidade da
pintura informal de Staël, Riopelle e Mathieu?
A utilização de pequenos monitores para dialogar com as obras é
especialmente esclarecedora na
exibição de Yves Klein.
O contemporâneo emerge em
toda sua multiplicidade por meio
de núcleos localizados no subsolo. Estações de vídeo e salas isoladas permitem uma visita sem nenhuma confusão visual, apesar da
profusão de estilos exibidos.
A curadoria ora opta por aproximações entre semelhantes, como na abstração gestual de Mitchel, Soulages e Michaux, ora pela
ruptura criadora, como na sala
azulejada que agrupa uma obra
op de Soto e os instantâneos da
inauguração de um templo disco
ao som de música dancing.
A saída é apoteótica. Sobem as
rampas os 602 desenhos de Corpet, representando a herança sadomasoquista que marca as práticas sexuais européias hoje. Por
fim, encontramos a eterna surrealista, Louise Bourgeois. O prédio
orgânico é ocupado por um percurso de tirar o fôlego. E o chapéu.
Parade
Onde: Oca (av. Pedro Álvares Cabral, s/
nš, portão 2, parque Ibirapuera, tel. 0/
xx/11/5573-6073)
Quando: de ter. a qui., das 9h às 21h;
sáb. e dom., das 10h às 21h. Até 15/1
Quanto: R$ 7
Texto Anterior: José Simão Próximo Texto: Periferia eletrônica Índice
|