São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2004

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TEATRO

De sátiras a polêmicas complexas, peças em cartaz no Reino Unido usam a Guerra do Iraque para criticar Bush e Blair

Palcos britânicos refletem sobre política

PAUL MAJENDIE
DA REUTERS, EM LONDRES

Em um país enraivecido pela decisão de Tony Blair de aderir aos Estados Unidos na invasão do Iraque, nada lota uma sala de teatro mais rápido do que uma peça sobre George W. Bush.
A confiança em Blair despencou, o desdém pelos políticos não pára de aumentar e o teatro oferece aos eleitores desiludidos uma sensação de que estão engajados.
A paleta política disponível abarca dos muitos matizes da sátira, em "The Madness of George Dubya" (A loucura de George W.) e "Embebbed" (Incorporado), à complexa polêmica proposta por David Hare em "Stuff Happens" (Coisas acontecem).
"As guerras do governo Bush no Afeganistão e no Iraque estão se provando tão benéficas para o teatro quanto o foram para os grandes comerciantes de armas norte-americanos", segundo o jornal "Independent".
"É a mais importante questão política desde a Guerra das Malvinas, em 1982, que gerou algumas peças bem ruins. As pessoas querem descobrir por que o Iraque aconteceu", diz Charles Spencer, crítico de teatro do jornal "Daily Telegraph". "Para mim, o teatro se tornou um lugar para refletir sobre política", disse ele à Reuters.
Os britânicos, aparentemente, estão mais interessados do que os norte-americanos em teatro político. "Na Broadway, não existe apetite por isso. O teatro de idéias simplesmente não existe, por lá", diz Spencer.
Matt Wolf, crítico de teatro da revista "Variety", de Hollywood, disse à Reuters que "o teatro é uma das maneiras pela qual uma sociedade verifica sua temperatura. Nos Estados Unidos, há um grande temor de envolvimento direto". Ele acredita que o ressurgimento do drama político no teatro britânico reflita o desencanto dos eleitores.
Nas duas sátiras em cartaz, Bush é alvo de zombaria como um caubói global sempre disposto a atirar. "Madness of George Dubya", de Justin Butcher, retrata Bush como um bufão usando pijama e abraçado a um ursinho de pelúcia. Em "Embedded", de Tim Robbins, os líderes dos EUA são satirizados com o uso de máscaras caricatas. As críticas não são nem de longe todas favoráveis.
Já "Stuff Happens", que David Hare escreveu para o National Theatre britânico, foi elogiada pelos críticos porque Bush e Blair são tratados com profundidade e de maneira crível, como personagens. "Como homem de esquerda, Hare lembra um pouco Bernard Shaw, sempre tem uma boa discussão a oferecer", diz Spencer sobre o dramaturgo, cronista da vida britânica moderna.
Para Wolf, da "Variety", a sutileza da peça ao registrar os antecedentes da guerra com o Iraque é sedutora. "Pela primeira vez compreendi de que maneira Bush se tornou presidente. "Stuff Happens" está muito acima das demais peças", disse.


Tradução de Paulo Migliacci


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