|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
De sátiras a polêmicas complexas, peças em cartaz no Reino Unido usam a Guerra do Iraque para criticar Bush e Blair
Palcos britânicos refletem sobre política
PAUL MAJENDIE
DA REUTERS, EM LONDRES
Em um país enraivecido pela
decisão de Tony Blair de aderir
aos Estados Unidos na invasão do
Iraque, nada lota uma sala de teatro mais rápido do que uma peça
sobre George W. Bush.
A confiança em Blair despencou, o desdém pelos políticos não
pára de aumentar e o teatro oferece aos eleitores desiludidos uma
sensação de que estão engajados.
A paleta política disponível
abarca dos muitos matizes da sátira, em "The Madness of George
Dubya" (A loucura de George W.)
e "Embebbed" (Incorporado), à
complexa polêmica proposta por
David Hare em "Stuff Happens"
(Coisas acontecem).
"As guerras do governo Bush no
Afeganistão e no Iraque estão se
provando tão benéficas para o
teatro quanto o foram para os
grandes comerciantes de armas
norte-americanos", segundo o
jornal "Independent".
"É a mais importante questão
política desde a Guerra das Malvinas, em 1982, que gerou algumas
peças bem ruins. As pessoas querem descobrir por que o Iraque
aconteceu", diz Charles Spencer,
crítico de teatro do jornal "Daily
Telegraph". "Para mim, o teatro
se tornou um lugar para refletir
sobre política", disse ele à Reuters.
Os britânicos, aparentemente,
estão mais interessados do que os
norte-americanos em teatro político. "Na Broadway, não existe
apetite por isso. O teatro de idéias
simplesmente não existe, por lá",
diz Spencer.
Matt Wolf, crítico de teatro da
revista "Variety", de Hollywood,
disse à Reuters que "o teatro é
uma das maneiras pela qual uma
sociedade verifica sua temperatura. Nos Estados Unidos, há um
grande temor de envolvimento
direto". Ele acredita que o ressurgimento do drama político no
teatro britânico reflita o desencanto dos eleitores.
Nas duas sátiras em cartaz, Bush
é alvo de zombaria como um caubói global sempre disposto a atirar. "Madness of George Dubya",
de Justin Butcher, retrata Bush
como um bufão usando pijama e
abraçado a um ursinho de pelúcia. Em "Embedded", de Tim
Robbins, os líderes dos EUA são
satirizados com o uso de máscaras caricatas. As críticas não são
nem de longe todas favoráveis.
Já "Stuff Happens", que David
Hare escreveu para o National
Theatre britânico, foi elogiada pelos críticos porque Bush e Blair
são tratados com profundidade e
de maneira crível, como personagens. "Como homem de esquerda, Hare lembra um pouco Bernard Shaw, sempre tem uma boa
discussão a oferecer", diz Spencer
sobre o dramaturgo, cronista da
vida britânica moderna.
Para Wolf, da "Variety", a sutileza da peça ao registrar os antecedentes da guerra com o Iraque é
sedutora. "Pela primeira vez compreendi de que maneira Bush se
tornou presidente. "Stuff Happens" está muito acima das demais peças", disse.
Tradução de Paulo Migliacci
Texto Anterior: Rodapé: Saudades de vidas romanescas Próximo Texto: Artes: Ciclo "Cremaster" tem sua estréia apenas hoje Índice
|