São Paulo, sábado, 09 de outubro de 2004

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"UM PUNHADO DE GITANES"

Gainsbourg exibe a arte de fumar antes e depois de fazer amor

XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA

Serge , eu te amo, eu também não. "Je t'Aime, Moi Non Plus", esse é o cara, o grito, o sussurro, a fome de viver, o beijo no chão da vida. Só o pé-na-jaca conduz ao palácio da sabedoria. Serge, o homem-basfond, o mal diagramado -a beleza é passageira, a feiúra não. A feiúra é linda, para sempre, amém.
Toque outra vez, Serge Gainsbourg (1928-1991). Resenha com trilha sonora: "Ballade de Melloddy Nelson". Agora escutemos, gozo ao longe, "Bonnie & Clyde". Saiu nos Tristes Trópicos a biografia, não a maior, que é francesa, mas a inglesa, do mais puro dos canalhas líricos. "Uma doce figura trágica com aquela cara de quem tinha acabado de sair de uma garrafa de uísque", confessa a autora, Sylvie Simmons, célebre periodista do rock'n'roll.
Com vocês "Serge Gainsbourg -Um Punhado de Gitanes". Bom relato da vida do rapaz que amava as mulheres, muito mais do que o Bertrand do Truffaut, muito mais que todos, pois amava sempre entre o trágico, o gozo e a cócega.
Brigitte Bardot e Jane Birkin cantaram com ele "Je t'Aime, Moi Non Plus", cada uma a seu jeito de amor com Gitanes -o cigarro do pós-gozo, aquela mesma marca do povo da nouvelle vague, gola alta e falante, ah, o trago de autor a sair pela janela.
Gainsbourg fez de tudo. Conduziu a chanson ao pop, botou a "Marselhesa" em ritmo de reggae (para náusea de França), confessou amor sexual às cachorras. As que latem de verdade.
E dele diz o rapper francês MC Sollar, subúrbio-soul que levou ao hip hop as aventuras de "Bonnie & Clyde", sample, modo de usar: "Eu descobri o Serge quando tinha uns 12, 13 anos, durante o seu período reggae, e o que me chamou a atenção de imediato foram as letras".
Amante de uma certa escatologia o Gainsbourg escritor deu ao mundo "Evguénie Sokolov", novela sobre um jovem que sofre de flatulência e confunde seus odores com arte.
Embora seja direcionada aos ingleses, com um mea-culpa pela demora da aceitação de Gainsbourg entre os britânicos, a biografia é valiosa. A autora ouviu até motoristas de táxi que geraram filhos aos grunhidos da maior música de motel e striptease de todos os tempos, a linda e única "Je t'Aime, Moi Non Plus".


Serge Gainsbourg - Um Punhado de Gitanes
   
Autora: Sylvie Simmons
Tradutora: Juliana Lemos
Editora: Barracuda
Quanto: R$ 36 (240 págs.)



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