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"UM PUNHADO DE GITANES"
Gainsbourg exibe a arte de fumar antes e depois de fazer amor
XICO SÁ
CRÍTICO DA FOLHA
Serge , eu te amo, eu também
não. "Je t'Aime, Moi Non
Plus", esse é o cara, o grito, o sussurro, a fome de viver, o beijo no
chão da vida. Só o pé-na-jaca conduz ao palácio da sabedoria. Serge, o homem-basfond, o mal diagramado -a beleza é passageira,
a feiúra não. A feiúra é linda, para
sempre, amém.
Toque outra vez, Serge Gainsbourg (1928-1991). Resenha com
trilha sonora: "Ballade de Melloddy Nelson". Agora escutemos,
gozo ao longe, "Bonnie & Clyde".
Saiu nos Tristes Trópicos a biografia, não a maior, que é francesa, mas a inglesa, do mais puro
dos canalhas líricos. "Uma doce
figura trágica com aquela cara de
quem tinha acabado de sair de
uma garrafa de uísque", confessa
a autora, Sylvie Simmons, célebre
periodista do rock'n'roll.
Com vocês "Serge Gainsbourg -Um Punhado de Gitanes". Bom
relato da vida do rapaz que amava
as mulheres, muito mais do que o
Bertrand do Truffaut, muito mais
que todos, pois amava sempre entre o trágico, o gozo e a cócega.
Brigitte Bardot e Jane Birkin
cantaram com ele "Je t'Aime, Moi
Non Plus", cada uma a seu jeito de
amor com Gitanes -o cigarro do
pós-gozo, aquela mesma marca
do povo da nouvelle vague, gola
alta e falante, ah, o trago de autor a
sair pela janela.
Gainsbourg fez de tudo. Conduziu a chanson ao pop, botou a
"Marselhesa" em ritmo de reggae
(para náusea de França), confessou amor sexual às cachorras. As
que latem de verdade.
E dele diz o rapper francês MC
Sollar, subúrbio-soul que levou ao
hip hop as aventuras de "Bonnie
& Clyde", sample, modo de usar:
"Eu descobri o Serge quando tinha uns 12, 13 anos, durante o seu
período reggae, e o que me chamou a atenção de imediato foram
as letras".
Amante de uma certa escatologia o Gainsbourg escritor deu ao
mundo "Evguénie Sokolov", novela sobre um jovem que sofre de
flatulência e confunde seus odores com arte.
Embora seja direcionada aos ingleses, com um mea-culpa pela
demora da aceitação de Gainsbourg entre os britânicos, a biografia é valiosa. A autora ouviu até
motoristas de táxi que geraram filhos aos grunhidos da maior música de motel e striptease de todos
os tempos, a linda e única "Je t'Aime, Moi Non Plus".
Serge Gainsbourg - Um Punhado de Gitanes
Autora: Sylvie Simmons
Tradutora: Juliana Lemos
Editora: Barracuda
Quanto: R$ 36 (240 págs.)
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