São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2008

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Jardim elétrico

Celebrado quinteto Fleet Foxes, de Seattle, mergulha no cancioneiro do rock e mistura letras de clima bucólico e pastoral com arranjos vocais complexos

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Quase uma experiência religiosa. Descrição perfeita da América rural. Doce melancolia. Puro prazer. Utilizando instrumentos simples, o Fleet Foxes faz música que desperta sensações variadas no ouvinte. Já as críticas à banda são uniformes: se baseiam em elogios.
Quinteto saído de Seattle, a terra do grunge, o Fleet Foxes surpreendeu o mundo pop no início do ano, com uma apresentação descrita como arrebatadora no festival South by Southwest, no Texas. Em junho, com o lançamento do disco de estréia, homônimo, os aplausos se multiplicaram.
A empolgação em torno do Fleet Foxes é motivada pela beleza de suas canções, que são compostas a partir de harmonias vocais complexas (duas, três ou até quatro vozes criando climas distintos).
Nesse sentido, são comparados a bandas como Beach Boys e Crosby, Stills & Nash, artistas que ficaram famosos por construir canções que possuem arranjos sinuosos mas que conservam um viés pop.
"Crescemos ouvindo Beach Boys e bandas que se preocupavam com a harmonia das canções, então há uma preocupação com isso nas nossas músicas", diz à Folha, por telefone, Casey Wescott, tecladista e vocalista do grupo. "Pensamos nos arranjos vocais, na forma como as letras são cantadas. A melodia tem de ser forte...".
Além de Wescott, o Fleet Foxes é formado por Robin Pecknold, vocalista e guitarrista; Skye Skjelset, guitarrista; Joshua Tillman, baterista e vocalista; e Christian Wargo, baixista.
Pecknold é o principal compositor, responsável por letras que muitas vezes funcionam como paisagens desenhadas por rios, árvores, montanhas, pôr-do-sol. Coisas que já foram cantadas por muita gente, mas que ganham contornos às vezes agressivo, às vezes inconformista, com o Fleet Foxes.
Van Morrison, Crosby, Stills & Nash, Beach Boys, Bob Dylan, The Zombies, The Birds, até Marvin Gaye -o Fleet Foxes mergulha fundo no cancioneiro do rock e emerge com material suficiente para produzir um amálgama criativo e original. Até Mutantes pode ser citado como influência da banda.
Bandolins e piano são utilizados para emprestar às canções um clima insinuante.
"O bandolim possui notas com um brilho diferente, que tornam a melodia mais distinta. Já o piano traz uma certa sensação de calmaria à canção. Talvez sejam esses detalhes que façam a banda soar diferente de outros grupos."
Pecknold já tentou explicar a origem das músicas do Fleet Foxes: "Nos sentimos bem-sucedidos se fazemos uma canção em que cada instrumento faz algo interessante e melódico. Nos inspiramos na tradição da música folk, pop, corais gospel, psicodelia barroca, música da Costa Oeste [dos EUA], música tradicional da Irlanda e do Japão, trilhas sonoras. E somos inspirados pela música de nossos amigos de Seattle".

Longe do grunge
Para penetrar no mundo pastoral e alegremente bucólico do Fleet Foxes, um bom ponto de partida é "White Winter Hymnal", uma espécie de hino que faz lembrar Arcade Fire -pode ser ouvida no www.myspace.com/fleetfoxes.
Wescott comenta um pouco sobre a música: "Robin apareceu com a canção e então fomos ao estúdio que mantenho em casa para terminá-la. Gravamos boa parte das músicas assim, na minha casa. Fizemos essa canção bem rápido, na verdade, porque queríamos que ela soasse simples. Demoramos muito mais para fazer o arranjo de outras canções".


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