São Paulo, sexta-feira, 09 de outubro de 2009

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Alemã Herta Müller leva Nobel de Literatura

Autora de origem romena foi perseguida pelo comunismo e é pouco conhecida fora da Europa

Jack Mikrut - 19.mai.05/Efe
A romancista, contista e poeta Herta Müller, autora de "O Compromisso", em 2005

MARCOS STRECKER
RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Nome em ascensão na Alemanha, pouco conhecida fora da Europa, a alemã de origem romena Herta Müller ganhou ontem o Prêmio Nobel de Literatura de 2009, anunciado pela Academia Sueca. A escolha surpreendeu tanto pela notoriedade limitada como por ela ser jovem -tem 56 anos. A 12ª mulher a levar o prêmio, que é entregue desde 1901, chamou a atenção após lançar na Romênia "Niederungem" (terras baixas), coletânea de contos, em 1982.
Nascida e criada na comunidade alemã daquele país, na cidade de Nitchidorf, Müller foi crítica da ditadura de Nicolau Ceausescu, tendo sido censurada e perseguida pela polícia secreta. Em 1987, fugiu para a Alemanha com o marido. Durante o anúncio, Müller foi definida como "alguém que, com a concentração da poesia e a franqueza da prosa, retrata a paisagem dos abandonados".
"Estou muito surpresa e ainda não consigo acreditar", limitou-se a comentar a autora ontem, em nota. "Não posso dizer mais nada no momento." Na véspera do resultado, no entanto, ela já aparecia, com o israelense Amós Oz, como a mais cotada para o prêmio, segundo a casa de apostas inglesa Ladbrokes. Os dois estavam à frente de nomes como Joyce Carol Oates e Philip Roth.
Embora as indicações -feitas por professores, escritores laureados e membros de academias de letras do mundo todo- sejam secretas, neste ano uma dinamarquesa quebrou o protocolo ao revelar que indicara o cantor Bob Dylan, o que o deixou bem colocado nas apostas. Müller teve um único romance publicado no Brasil, "O Compromisso". O livro saiu em 2004 pela editora Globo, com tradução de Lya Luft. Até junho, vendera 285 exemplares da tiragem de 2.090. Ontem foram vendidas para livrarias todas as unidades restantes.
"Esperamos que o interesse aumente", diz o coordenador editorial da Globo, Joaci Furtado, que voltará a negociar com a agente de Müller. "Veremos em Frankfurt", diz, referindo-se à feira literária na próxima semana. Luft disse à Folha por e-mail que tinha "esquecido" o título. "Não deve ter sido um livro muito interessante."
A obra retrata uma mulher que é intimada pelo serviço secreto romeno a depor, sem saber por quê. Por aqui, ela teve também o conto "A Canção de Marchar" publicado na antologia "Escombros e Caprichos: O Melhor do Conto Alemão no Século 20" (L&PM).

Política e migrantes
Como nos últimos tempos, o prêmio é também um gesto político. Ao premiar uma escritora perseguida pela ditadura comunista, a Academia Sueca volta a dar suporte a autores que usaram a literatura como elemento transformador. Doris Lessing (crise pós-colonial na África), em 2007, J.M. Coetzee (apartheid na África do Sul), em 2003, e Imre Kertész (holocausto e ditadura comunista na Hungria), em 2002, são exemplos. O turco Orhan Pamuk, em 2006, estava ameaçado de morte em seu país.
Num sentido mais literário, é uma premiação à "Migrantenliteratur" (literatura de migrantes), dos autores expatriados, um gênero que tem raízes históricas e é forte na Alemanha. Müller ainda se associa a uma seleta linhagem de autores exilados de origem romena.
Emil Cioran (1911-95) e Paul Celan (1920-70), que também escrevia em alemão, são os dois nomes mais conhecidos. O prêmio, de US$ 1,4 milhão (cerca de R$ 2,5 mi), será entregue em 10/12, em Estocolmo.


Leia trecho de "O Compromisso"

www.folha.com.br/092813




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