São Paulo, domingo, 09 de outubro de 2011

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Americano cria Jesus Cristo musculoso

Artista plástico Stephen Sawyer recebe críticas por transformar filho do Deus cristão em "bad boy" tatuado

Jornal define obras como "Chuck Norris de sandálias"; criador defende que força está descrita na Bíblia

Divulgação
Pintura "Undefeated" (invicto), do artista plástico Stephen Sawyer, com Jesus boxeador

ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER
DE SÃO PAULO

A fé é mesmo capaz de mover montanhas? Se depender do tamanho dos bíceps que Jesus Cristo adquiriu na arte de Stephen Sawyer, 58, pode apostar que sim.
Americano morador de Kentucky e "criado na tradição cristã", Sawyer deu contornos bem literais à superforça do chamado filho de Deus. Em seus retratos, ele mostra um Jesus musculoso, boxeador e com tatuagem típica de marinheiro: um coração vermelho cruzado por uma faixa onde se lê "PAI".
"Um Chuck Norris de sandálias", na definição do jornal britânico "The Guardian", ou "o Messias machão", segundo o "New York Times". Afinal, esse Jesus é ou não é um "bad boy"?
"O que isso significa? Um causador de problemas? Alguém que desafia a autoridade religiosa? Hmmm...
Talvez ele fosse e ainda seja um 'bad boy'", diz o artista à Folha.
Mas logo vem a ressalva: "Porém, todos esses eventos que acabaram em confusão sempre foram em nome da liberdade espiritual e da salvação dos outros".
A intenção deste senhor cristão, de aparência até bem convencional, é "confrontar o preconceito teológico" sobre certos tipos de pessoa.
Para Sawyer, "preocupar-se com tatuagens" é cisma de quem não absorveu um dos ensinamentos mais básicos da cristandade. "Jesus deixou claro que Deus liga para o que está dentro do corpo, e não fora dele", afirma.

SANTA POLÊMICA
Mas críticas continuam a transbordar desse corpo cheio de santa testosterona. Sawyer afirma que sua versão sarada de Jesus angariou certo mal-estar entre cristãos.
Os detratores costumam sacar citações bíblicas contra sua arte. Entre elas, uma do Levítico, livro do Antigo Testamento: "Não fareis lacerações na vossa carne pelos mortos; nem no vosso corpo imprimireis qualquer marca".
Outra passagem é associada ao profeta Isaías e fala de um Jesus que "não tinha formosura nem beleza", bem diferente do aspirante a galã de novela criado por Sawyer.
O americano defende seu Jesus como uma figura mais próxima da realidade descrita na Bíblia. Ele sustenta que algumas narrativas da religião não poderiam ser obra de um Jesus mirrado e "paz e amor".
Como no episódio em que o filho de José e Maria entra no templo de Jerusalém para expulsar comerciantes dali, furioso com a troca de dinheiro e o comércio de produtos feitos no local.
O barulho em torno dessa visão peculiar de Jesus remete a outras obras controversas, como uma foto de 1987 do conterrâneo Andres Serrano: um Cristo na cruz atingido pelo jorro da urina do artista.
Nas duas últimas décadas, Sawyer rodou o mundo para garantir justamente o contrário. Ele diz não correr atrás de polêmica gratuita, mas de "verdade, beleza e bondade".
Assim caminha a humanidade de Sawyer: "Focar nas diferenças apenas valida nossos medos, preconceitos, intolerâncias e outros assuntos que acabam em violência".
Chances de nocaute?


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