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"As Três irmãs" retrata cotidiano
da Sucursal do Rio
Calça jeans, camiseta branca e
uma tiara-cocar xavante feita de
penas vermelhas prendendo os cabelos. Vestida dessa maneira, Bia
Lessa, 40, acertava os últimos detalhes da montagem de "As Três Irmãs", de Tchecov, numa tradução
de José Celso Martinez Corrêa.
A peça entra em cartaz com ensaios abertos ao público a partir de
hoje no Rio e estréia oficialmente
no dia 14 no Teatro 1 do CCBB
(Centro Cultural Banco do Brasil).
O traje de trabalho da diretora
remete tanto ao seu estilo contemporâneo de conceber espetáculos,
quanto à simplicidade que guia a
proposta de interpretação do clássico do teatro russo, que terá em
cena Renata Sorrah comemorando
30 anos de carreira.
Com ela, estão Deborah Evelyn,
Ana Beatriz Nogueira, Lorena da
Silva, Fernando Alves Pinto, Emílio de Mello, Dionísio Neto, alguns
nomes de um elenco de 17 atores.
Afetação zero. Ao invés de impostação de voz, tom coloquial e
até sussurros. A palavra de ordem
de Bia para seus atores é pensar em
movimentos cotidianos, como escovar os dentes ou lavar louça.
O espaço utilizado para os ensaios foi um casarão em Santa Teresa, centro do Rio. Nele o elenco
usava quartos, banheiros e cozinhas para atingir o grau de intimidade máximo em atos banais do
dia-a-dia, necessários para mostrar o conflito entre as três mulheres que desejam sair da província.
Na sua "estréia" em teatro -é a
primeira vez que a diretora, que levou para o palco romances como
"Viagem para o Centro da Terra",
de Júlio Verne e "O Homem sem
Qualidades", de Robert Musil, usa
um texto teatral- Bia quis buscar,
com o cotidiano em cena, a desglamurização do teatro.
"Nesse espetáculo todo mundo
ter que ser muito humilde, não dá
para ter grandes cenas", diz Bia.
Olga (Renata Sorrah), Macha
(Deborah Evelyn) e Irina (Lorena
da Silva) são três irmãs que desejam voltar a Moscou fugindo de
uma vida provinciana. Conscientes da frustração e da falta de sentido em suas existências, elas apenas
sonham com a mudança.
A visita de oficiais russos, amigos
de seu falecido pai, é retratada por
Tchecov como a desencadeadora
dos conflitos.
A crise aumenta quando Natacha
(Ana Beatriz Nogueira), noiva de
Andrei (o russo Vadin Nikitin), irmão com quem elas dividem a casa, passa a morar com a família,
tornando ainda mais distante o sonho da volta à capital.
O primeiro ato se passa de manhã, o segundo à noite, o terceiro
de madrugada e o quarto novamente de manhã, mas durante cinco anos. As primeiras mudanças
são sutis, mas as marcas do tempo
vão se mostrando irreversíveis.
Numa tela à direita legendas surgirão em momentos de sussurros e
do uso de outras línguas.
"Aquelas três irmãs absolutamente cultas e poliglotas num lugar tão provinciano para o autor é
quase tão desnecessário como ter
seis dedos. É a desconexão entre os
que as pessoas fazem e o que falam.
Por isso fiquei louca por Tchecov.
Ele trata ao mesmo tempo da banalidade e de uma riqueza do espírito", diz a diretora.
O cenário de Gringo Cardia, com
prateleiras, compartimentos e armários cobrindo todas as três paredes do palco é escalado pelo
elenco em alguns momentos.
Os atores, vestidos com o figurino de Kalma Murtinho, andam sobre sete toneladas de raspa de pneu
que dão o efeito de uma neve negra.
O médico russo Anton Tchekov
(1860-1904) tomou uma sábia decisão ao trocar o bisturi pela pena.
Após o sucesso de sua primeira coletânea de contos, ele traçou uma
trajetória que o tornou elemento
chave na dramaturgia mundial e
um mestre do conto russo.
Após a entrada definitiva no universo das letras, Tchekov substituiu o tom jornalístico das crônicas humorísticas por temas e atmosfera mais sérios.
Tchekov fez experiências com o
teatro, especialmente com dramas
curtos. As quatro grandes peças de
sua maturidade - "A Gaivota"
(1896), "Tio Vânia" (1897), "As
Três Irmãs (1901) e "O Jardim das
Cerejeiras" (1904) o transformaram no maior dramaturgo russo.
Seu universo tem seres entediados e decadentes, pateticamente
perdidos entre o fim de um tempo
e a dúvida do início de outro.
Suas peças giram em torno de
desejos e esperanças frustrados.
Ao invés do melodrama, fazem uso
da suposição, de referências cruzadas e mal entendidos para atingir a
tensão dramática.
²
Peça: "As Três Irmãs", de Anton Tchecov
Onde: Teatro 1 do Centro Cultural Banco do
Brasil (r. Primeiro de Março, 66, centro, tel.
021/216-0237)
Quando: de quarta a domingo, às 19h
Quanto: R$ 10 (estudantes R$ 5)
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