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RENT, UM MUSICAL NO BRASIL
No teatro Ópera, candidatos tentaram obter lugar no elenco cantando até "Meu Erro"
Na pré-seleção, Bexiga parecia o Bronx
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Reportagem Local
Como São Paulo não é Nova
York e nem "Rent" é "Hair" ou "A
Chorus Line", o ambiente "jovens
artistas lutando para ser percebidos" também foi adaptado à brasileira no processo de seleção
ocorrido há dois meses.
O cenário é o teatro Ópera (ex-Studium, ex-Záccaro, ex-Aquarius), na rua Rui Barbosa, em outros tempos palco de programas
do Chacrinha e, até, da primeira
versão brasileira do musical hippie "Hair", então com Sonia Braga e Antonio Fagundes no elenco.
Centenas de candidatos cantaram e dançaram para uma comissão chefiada pelo diretor artístico
Billy Bond, 53, na pré-seleção
-para que a equipe norte-americana dê o veredicto final.
"A primeira qualidade é cantar
direito. É uma história de amor
contada em tempo de rock, espécie de ópera adaptada de "La Bohème", de Puccini. Interpretar é a
segunda qualidade. Quem canta
pode aprender a interpretar com
facilidade, o contrário é mais difícil", disse Bond, antes dos testes.
Primeiro candidato, Reinaldo,
21. Canta "Seasons of Love", Bond
se espanta: "Já conhece o espetáculo?". "Seasons of Love" é uma
das canções de "Rent". "Nossa,
ele já sabe a música." "É que eu assisti à peça "Pocket Broadway",
uma colagem de musicais", explicou depois Reinaldo.
O repertório se dispersa. Marcelo, 29, vai de "Ticket to Ride", dos
Beatles. A terceira candidata tenta
acertar o tom com o maestro,
Bond comenta: "Não existe cultura de partitura no Brasil. Assim
demora, irrita o júri".
Filipe, 18, Gustavo, 28, e Diogo,
20, aparentemente de um mesmo
grupo teatral, cantam a mesma
música, sobre playback, lendo a
letra numa folha de papel. "Chegam aqui e não jogam tudo que
têm na vida para ganhar uma
chance. A postura não é de quem
quer muito a chance. Eles não têm
nenhuma chance", crava Bond.
Mais Bexiga que Bronx são José,
31, e André, 24. O primeiro teatraliza "Meu Erro", dos Paralamas
do Sucesso -hit entre os aspirantes a astros da Broadway da Rui
Barbosa; adiante aparecerá Thiago, 22, com "Caleidoscópio".
De André em diante -incluindo Thiago-, Renato Russo aparece como o fantasma da ópera
dos testes. André faz "Blue
Moon", entre Elvis e Russo. Seguirão versões Renato Russo de
"Over the Rainbow" ("dançou"),
"Bete Balanço", Red Hot Chili
Peppers ("no chance"), Guns'n
Roses ("tem ar, sabe respirar").
Sérgio, 30, foge à regra pop e opta por "My Funny Valentine".
"Você não tem nada popular?",
pergunta Bond. "Trouxe tudo
Gershwin, Cole Porter", atrapalha-se o candidato. "Está bem,
obrigado", encerra Bond.
Rosemeire, 30, insinua "Summertime", e Bond nem espera:
"Tem de ter coragem para cantar
isso. É a melhor de todos até agora". E a dispensa, sem delongas.
Intervalo, comentários. "A bichinha do piano é ótima." "A
crioula canta pra caramba."
Maurício, 27, negro, ex-aluno
de Oswaldo Montenegro, extrovertido e de voz potente e funkeada, entusiasma o diretor. "Já ganhou. É a cara da peça."
Bibba, 31, pára nos primeiros
acordes de "Summertime". "Desce, Bibba", manda Bond. "Essa
entra com absoluta certeza." Ela
integrou, como outros que a seguem, o elenco do musical "Pocket Broadway", exibido em 96.
Juntos, Bibba, Luiz, 23, Fábio, 22,
David, 24, Jarbas, 30, e Neusa, 30,
modulam um coral gospel mais
Bronx que Bexiga. "A leva está toda aprovada", cochicha Bond.
Não sobra para George, 28, ao
violão. "Me perdi, estou nervoso.
Depois do show então..." O Bexiga vive seus dias de Bronx.
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