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ARTES PLÁSTICAS
O artista apresenta suas criações em SP
Artur Barrio reage com matéria podre
CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha
Artur Alípio Barrio está revivenciando uma situação intrínseca. "Lembrando Fernando Pessoa, não sou mais que uma folha
ao vento", disse, sexta passada,
observando com olhos vagos as
obras que ajeitara nas paredes da
Nova Galeria, em São Paulo, para
a exposição que abre hoje, perguntando-se: "Por que, depois de
tanto tempo, ainda permaneço?".
É a "maldição" de todo grande
artista inserido "dentro de uma
instituição que só o consagra para
desarmá-lo", como atestou o crítico Ronaldo Brito em 1981. De
qualquer forma, aí está Barrio,
novamente, com seu instinto rude, reagindo à consagração com
veemência, como sempre fez.
É que, desde os anos 60, quando
o artista protestava contra a ditadura jogando trouxas ensanguentadas no piso nobre de museus,
insinuava-se nele uma índole revolucionária cuja característica
fundadora era (e ainda é) a utilização de elementos orgânicos na
fruição artística.
Não deixa de haver algo de idealizador nisso. Mas, voltando ao"real", a obra com que o visitante
primeiro se irá deparar nesta
mostra foi concebida com pedaços de bacalhau.
Estranho? Para quem conhece o
"Livro de Carne", apresentado na
24ª Bienal de São Paulo, não. A
transgressão de Barrio se dá pela
"chegada à coisa extremamente
efêmera", como diz. O "Livro de
Carne" apodreceu em algumas
horas, o bacalhau da "Parede nº
17" terá o mesmo fim. E aí vai o
paradoxo: Barrio fixou-se na história da arte pelo caráter evanescente de sua obra, que compreende a "incógnita de nossa situação,
de nossa realidade, que diz que temos de ver nosso lado monstruoso no espelho, pois senão viramos
seres robóticos e passamos a entender que tudo está perfeito em
nossa grande miséria".
O quê: exposição de Artur Barrio
Quando: vernissage hoje, às 20h; de seg.
a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., das
10h às 18h
Onde: Nova Galeria (r. Estados Unidos,
1.581, São Paulo, tel.: 0/xx/11/3064-9496)
Quanto: entrada franca
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