São Paulo, Terça-feira, 09 de Novembro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
O artista apresenta suas criações em SP
Artur Barrio reage com matéria podre

CRISTIAN AVELLO CANCINO
free-lance para a Folha

Artur Alípio Barrio está revivenciando uma situação intrínseca. "Lembrando Fernando Pessoa, não sou mais que uma folha ao vento", disse, sexta passada, observando com olhos vagos as obras que ajeitara nas paredes da Nova Galeria, em São Paulo, para a exposição que abre hoje, perguntando-se: "Por que, depois de tanto tempo, ainda permaneço?".
É a "maldição" de todo grande artista inserido "dentro de uma instituição que só o consagra para desarmá-lo", como atestou o crítico Ronaldo Brito em 1981. De qualquer forma, aí está Barrio, novamente, com seu instinto rude, reagindo à consagração com veemência, como sempre fez.
É que, desde os anos 60, quando o artista protestava contra a ditadura jogando trouxas ensanguentadas no piso nobre de museus, insinuava-se nele uma índole revolucionária cuja característica fundadora era (e ainda é) a utilização de elementos orgânicos na fruição artística.
Não deixa de haver algo de idealizador nisso. Mas, voltando ao"real", a obra com que o visitante primeiro se irá deparar nesta mostra foi concebida com pedaços de bacalhau.
Estranho? Para quem conhece o "Livro de Carne", apresentado na 24ª Bienal de São Paulo, não. A transgressão de Barrio se dá pela "chegada à coisa extremamente efêmera", como diz. O "Livro de Carne" apodreceu em algumas horas, o bacalhau da "Parede nº 17" terá o mesmo fim. E aí vai o paradoxo: Barrio fixou-se na história da arte pelo caráter evanescente de sua obra, que compreende a "incógnita de nossa situação, de nossa realidade, que diz que temos de ver nosso lado monstruoso no espelho, pois senão viramos seres robóticos e passamos a entender que tudo está perfeito em nossa grande miséria".


O quê: exposição de Artur Barrio Quando: vernissage hoje, às 20h; de seg. a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., das 10h às 18h Onde: Nova Galeria (r. Estados Unidos, 1.581, São Paulo, tel.: 0/xx/11/3064-9496) Quanto: entrada franca



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