São Paulo, sábado, 09 de novembro de 2002

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CRÍTICA

Romance não traz novidade ao universo de Auster

DE NOVA YORK

Se, diferentemente de Gustave Flaubert e Madame Bovary, David Zimmer não é Paul Auster, Hector Mann pode ter traços de uma figura conhecida dos brasileiros. O escritor é amigo do cineasta Hector Babenco (de "Pixote"), nascido na Argentina e radicado no Brasil.
Indagado, Auster desconversa: "Sempre invejei o Hector Babenco porque, enquanto eu trabalho numa reles Segunda Avenida, ele trabalha na rua Emanuel Kant". Sem querer, o autor dá a dica para ler este "O Livro das Ilusões": não procure por duplos sentidos e significados ocultos.
Está tudo lá, escrito, embora nem tudo esteja escrito lá. Assim, enquanto o leitor acompanha a jornada do acadêmico Zimmer em busca do desaparecido Mann, fica cada vez menos claro se o argentino realmente existiu e, do meio do livro para o final, se a própria jornada de fato ocorre.
Mas realismo não é a prioridade de um escritor que já nos deu um garoto que aprendia a voar ("Mr. Vertigo", de 1994) e um cachorro que entendia a língua dos homens ("Timbuktu", de 1999).
Há passagens fracas, como a que o narrador justifica sua riqueza, logo no começo, que soa algo forçada e feita só para "tirar o assunto do caminho", mas no geral o livro vai bem. Principalmente por trazer o que Paul Auster faz melhor: uma narrativa criativa e inesperada sobre alguém em busca de si mesmo.
Não, "O Livro das Ilusões" não acrescenta nenhuma novidade ao universo austeriano, assim como o décimo CD de Tom Waits era praticamente idêntico ao anterior. Mas, nesse caso, quem quer novidades? (SÉRGIO DÁVILA)

O Livro das Ilusões


   
Autor: Paul Auster
Editora: Cia. das Letras
Quanto: R$ 37 (320 págs.)




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