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CRÍTICA
Romance não traz novidade ao universo de Auster
DE NOVA YORK
Se, diferentemente de
Gustave Flaubert e Madame
Bovary, David Zimmer não é Paul
Auster, Hector Mann pode ter
traços de uma figura conhecida
dos brasileiros. O escritor é amigo
do cineasta Hector Babenco (de
"Pixote"), nascido na Argentina e
radicado no Brasil.
Indagado, Auster desconversa:
"Sempre invejei o Hector Babenco porque, enquanto eu trabalho
numa reles Segunda Avenida, ele
trabalha na rua Emanuel Kant".
Sem querer, o autor dá a dica para
ler este "O Livro das Ilusões": não
procure por duplos sentidos e significados ocultos.
Está tudo lá, escrito, embora
nem tudo esteja escrito lá. Assim,
enquanto o leitor acompanha a
jornada do acadêmico Zimmer
em busca do desaparecido Mann,
fica cada vez menos claro se o argentino realmente existiu e, do
meio do livro para o final, se a
própria jornada de fato ocorre.
Mas realismo não é a prioridade
de um escritor que já nos deu um
garoto que aprendia a voar ("Mr.
Vertigo", de 1994) e um cachorro
que entendia a língua dos homens
("Timbuktu", de 1999).
Há passagens fracas, como a
que o narrador justifica sua riqueza, logo no começo, que soa algo
forçada e feita só para "tirar o assunto do caminho", mas no geral
o livro vai bem. Principalmente
por trazer o que Paul Auster faz
melhor: uma narrativa criativa e
inesperada sobre alguém em busca de si mesmo.
Não, "O Livro das Ilusões" não
acrescenta nenhuma novidade ao
universo austeriano, assim como
o décimo CD de Tom Waits era
praticamente idêntico ao anterior. Mas, nesse caso, quem quer
novidades?
(SÉRGIO DÁVILA)
O Livro das Ilusões
Autor: Paul Auster
Editora: Cia. das Letras
Quanto: R$ 37 (320 págs.)
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