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São Paulo, domingo, 09 de novembro de 2003

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Morta há duas décadas, autora de 21 telenovelas continua presente até hoje no horário nobre da Globo

20 anos com Janete Clair

LAURA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

ALVARO LEME
DA REPORTAGEM LOCAL

Dica a quem quer conhecer ou recordar o estilo de Janete Clair, cujas novelas bateram os primeiros recordes de audiência da TV: veja "Celebridade", na Globo.
Morta há duas décadas, em 16 de novembro de 1983, a autora segue como forte influência da teledramaturgia brasileira e tem como principais seguidores Gilberto Braga, autor da atual novela das oito, e Glória Perez, de "O Clone" (2001/02). Hoje no time VIP de escritores, os dois iniciaram a carreira sob os ensinamentos "clairianos". Braga, 57, assinou "Bravo!" (1975/76) com ela. Perez, 55, era sua colaboradora em "Eu Prometo" (1983). Com a morte da autora, escreveu o desfecho da história com Dias Gomes (1922-99), marido de Janete.
"A Glória é mais próxima pelo estilo passional. Ela pode sacrificar a coerência em função da emoção. Em "O Clone", o personagem ia ao Marrocos e voltava em dois dias. Já o Gilberto herdou os conflitos bem amarrados, personagens que, mais tarde, revelam uma ligação do passado com outros", diz Mauro Ferreira, autor de "Nossa Senhora das Oito - Janete Clair e a Evolução da Telenovela no Brasil" (editora Mauad), a ser lançado na próxima semana.
Braga tem da novelista a crítica social, as cenas de ação, o mistério. "Quem matou Odete Roitman?", de sua "Vale Tudo" (88/ 89), recriava o "Quem matou Salomão Hayala?", de "O Astro", escrita por Janete Clair em 78.
Perez ficou com os romances impossíveis, dilemas da ciência. Seus "O Clone" e "Barriga de Aluguel" (90/91) têm como antepassado "O Homem que Deve Morrer" (71/ 72), que falava de um transplante de coração, cirurgia nova no Brasil da época.

O fim dos castelos
Janete Clair nasceu em 1925 e foi batizada Jenete (o escrivão não entendeu o sotaque árabe de seu pai) Stocco Emmer. Começou a atuar como radioatriz e autora de radionovelas nos anos 40 e adotou o nome artístico em razão da música "Clair de Lune". Em 45, conheceu o dramaturgo Dias Gomes, à época radioator, com quem ficou casada até morrer.
Criou 31 radionovelas, principalmente na Rádio Nacional. Em 64, escreveu a primeira história televisiva, para a Tupi. Mas foi na Globo que se consagrou, com 18 novelas. Na emissora, inaugurou a era pós-Glória Magadan, autora cubana das histórias de castelos, com heróis de capa e espada.
Os originais da obra de Janete, guardados por Dias Gomes até sua morte, estão atualmente no guarda-roupa de um de seus filhos, Alfredo, 43. É uma pilha interminável de pastas, com originais datilografados pela escritora nas únicas duas máquinas que usou na vida. Os papéis sofrem ação do mofo e de traças. "Tentamos parcerias para guardar o material em local adequado. Seria ótimo se algum instituto nos ajudasse a preservá-lo", diz Alfredo.
Na semana passada, equipe do "Fantástico" registrou a montanha de papéis. Se não for cortada, a imagem estará em reportagem sobre a autora, na edição de hoje.



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