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crítica
Ruim e ideológico, longa consagra estética da TV
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Há um bom princípio,
em "Romance": observar a contaminação do teatro pela TV no Brasil (na trama, jovem atriz
aceita trocar o anonimato do
teatro pelas novelas).
A questão existe, de fato, e
reflete-se no estilo de interpretação quase insuportável,
porém freqüente nos nossos
palcos, em que à idéia geral
de que teatro consiste de gritos e gesticulação excessiva
juntou-se a autocomplacência criada pelo êxito na TV.
Aos poucos, porém, percebemos que Guel Arraes não
vê na TV algo daninho. A ridicularização das novelas
mostra-se apenas um pretexto para melhor demonstrar que as relações ali são
mais complexas -e até criativas. Ou seja, o filme discute,
ou finge discutir, as relações
entre uma arte "pura", mas
que não fala a ninguém, e outra "impura", que fala a muitos, e explora o território das
relações entre representação
e verdade. Tudo amarrado
pelo paralelo maníaco entre
"vida real" (a ficção do filme)
e "Tristão e Isolda" (a peça
encenada de início).
Se no nível das idéias o filme avança para o macete puro e simples, no da encenação caminha para uma espécie de ressurreição do estilo
Vera Cruz, ou de algo tão antiquado quanto. Se no roteiro
boas idéias se alternam com
falatório inútil, no setor interpretação os vícios da TV
atacam o elenco em peso (exceção: Wagner Moura).
As voltas, os circunlóquios,
a desgastada aproximação de
clássico e moderno (saudade
de "Carnaval Atlântida", de
J.C. Burle) levam à consagração da estética de TV no teatro (ver cena final) e à vitória
do bom senso sobre a paixão.
Desde os tempos do CPC
(Centro Popular de Cultura),
não se via nada tão carregado
de ideologia.
ROMANCE
Direção: Guel Arraes
Quando: estréia na próxima sexta-feira
Classificação: não indicado a menores de 12 anos
Avaliação: ruim
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