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Comentário
Berlim discute arte e política na celebração da queda do muro
Enquanto MTV promovia show do U2, punks discutiam capitalismo em bares
NINA LEMOS
EM BERLIM
"Com o muro ou sem
o muro, o Estado
continua aparelhado para oprimir", o grafite, na
parede do Tacheles, um dos
"squats" (prédios ocupados)
mais antigos da parte leste de
Berlim, mostra o espírito crítico com que artistas e frequentadores do underground celebram os 20 anos da queda do
muro, completados hoje.
No Portão de Brandemburgo, hordas de turistas se comprimem para ver atrações
"mainstream". E, nos pontos
mais escondidos, fanzines falam sobre os problemas do kapital (com k) e grafites (uma
das marcas da Berlim pós-muro) reclamam do capitalismo.
A poucos passos do Tacheles,
que como outros prédios ocupados, além de moradia, funciona como centro de artes,
uma mostra da fotógrafa americana Nan Goldin, que morou
em Berlim, mostra que a cidade
é, definitivamente, um dos centros da arte no momento.
A capital alemã tem também,
na temporada, uma exposição
do monstro sagrado da fotografia, famoso pelas fotos de moda
e glamour, Helmut Newton. Os
cartazes do evento estão por toda a cidade.
Mas outro fotógrafo, menos
famoso, provoca burburinho.
Harald Hauswald, fotojornalista da antiga Alemanha comunista, tem mostra no Mitte, na
região onde ficam as principais
galerias de arte, como o instituto KW, um dos principais centros de arte contemporânea do
mundo. Hauswald pode ser
considerado uma mistura de
Goldin com Newton do Leste.
Suas fotos, dos anos 1970 e
1980, mostram cenas casuais
da vida na Alemanha Oriental.
São imagens da vida cotidiana e
da cidade. Adolescentes punks,
donas de casa, jovens bêbados e
festas foram retratados pelo fotógrafo. Suas obras feitas no
Leste pré-muro são vendidas
no Leste pós-muro por cerca de
3.500 (cerca de R$ 8.900).
Hoje, a parte leste de Berlim
é o cool. Para vários tipos de
gostos, bolsos e ideologia. Em
Prenzlauerberg, bairro do antigo leste que tem o maior índice
de natalidade do país e abriga
alternativos ricos, ainda há fila
para comprar pão -mas para
consumir um pão natural vendido por 3,50 (cerca de R$
8,90) na famosa feirinha orgânica que toma conta de algumas ruas da cidade no sábado.
À noite, clubes como o Berghein reúnem os maiores DJs
do mundo. E a cena mais alternativa continua forte em bairros como Friedrichshain. Nesses lugares, ainda existem
punks. Alguns "squats" ostentam bandeiras pretas de luto
(contra a especulação imobiliária que faz com que alguns desses prédios sejam vendidos).
E, enquanto a MTV promovia um show do U2 na quinta,
punks se reuniam para fumar e
beber nos bares de Friedrichshain, no meio de prospectos
que anunciavam ações contra o
capitalismo e debates sobre política. Política e arte em Berlim
são coisas sérias.
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