São Paulo, segunda-feira, 09 de novembro de 2009

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Comentário

Berlim discute arte e política na celebração da queda do muro

Enquanto MTV promovia show do U2, punks discutiam capitalismo em bares

NINA LEMOS
EM BERLIM

"Com o muro ou sem o muro, o Estado continua aparelhado para oprimir", o grafite, na parede do Tacheles, um dos "squats" (prédios ocupados) mais antigos da parte leste de Berlim, mostra o espírito crítico com que artistas e frequentadores do underground celebram os 20 anos da queda do muro, completados hoje.
No Portão de Brandemburgo, hordas de turistas se comprimem para ver atrações "mainstream". E, nos pontos mais escondidos, fanzines falam sobre os problemas do kapital (com k) e grafites (uma das marcas da Berlim pós-muro) reclamam do capitalismo.
A poucos passos do Tacheles, que como outros prédios ocupados, além de moradia, funciona como centro de artes, uma mostra da fotógrafa americana Nan Goldin, que morou em Berlim, mostra que a cidade é, definitivamente, um dos centros da arte no momento.
A capital alemã tem também, na temporada, uma exposição do monstro sagrado da fotografia, famoso pelas fotos de moda e glamour, Helmut Newton. Os cartazes do evento estão por toda a cidade.
Mas outro fotógrafo, menos famoso, provoca burburinho. Harald Hauswald, fotojornalista da antiga Alemanha comunista, tem mostra no Mitte, na região onde ficam as principais galerias de arte, como o instituto KW, um dos principais centros de arte contemporânea do mundo. Hauswald pode ser considerado uma mistura de Goldin com Newton do Leste.
Suas fotos, dos anos 1970 e 1980, mostram cenas casuais da vida na Alemanha Oriental. São imagens da vida cotidiana e da cidade. Adolescentes punks, donas de casa, jovens bêbados e festas foram retratados pelo fotógrafo. Suas obras feitas no Leste pré-muro são vendidas no Leste pós-muro por cerca de 3.500 (cerca de R$ 8.900).
Hoje, a parte leste de Berlim é o cool. Para vários tipos de gostos, bolsos e ideologia. Em Prenzlauerberg, bairro do antigo leste que tem o maior índice de natalidade do país e abriga alternativos ricos, ainda há fila para comprar pão -mas para consumir um pão natural vendido por 3,50 (cerca de R$ 8,90) na famosa feirinha orgânica que toma conta de algumas ruas da cidade no sábado.
À noite, clubes como o Berghein reúnem os maiores DJs do mundo. E a cena mais alternativa continua forte em bairros como Friedrichshain. Nesses lugares, ainda existem punks. Alguns "squats" ostentam bandeiras pretas de luto (contra a especulação imobiliária que faz com que alguns desses prédios sejam vendidos).
E, enquanto a MTV promovia um show do U2 na quinta, punks se reuniam para fumar e beber nos bares de Friedrichshain, no meio de prospectos que anunciavam ações contra o capitalismo e debates sobre política. Política e arte em Berlim são coisas sérias.

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