São Paulo, sábado, 09 de dezembro de 2000

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DA RUA

Rapsódia

FERNANDO BONASSI

Nas noites de domingo, quando o nada em que ficamos deixa uns aí capazes de matar a dentadas, ouvimos os tiros das desavenças nas esquinas mais próximas e os trens vazios de marmitas ao longe. Na segunda de manhã, quando vamos ao salário, aí sim, fazemos bem-me-queres dos cadáveres espalhados nas sarjetas. "Antes eles do que nós", pensamos rápido, como fôssemos diferentes. Somos do bem. Trabalhamos o que for preciso pra ter nada que preste em casa. Votamos em papeizinhos, na promessa mais justa e na foto mais colorida. O que acontecer depois será o futuro. Nem pensamos que comemos pouco pra isso. Aliás, se um dia o mundo acabar, que seja depressa. Em sofrimento desse tanto nosso passado basta.


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