São Paulo, sexta-feira, 09 de dezembro de 2005

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CDS

ROCK


"Hypnotize", complemento de "Mesmerize", não tem mesma energia do anterior

Novo System of a Down segue com mais barulho e protesto

Divulgação
O quarteto System of a Down, que lança novo disco, "Hypnotize'


DA REPORTAGEM LOCAL

Desde o fim do Rage Against the Machine, em outubro de 2000, um outro quarteto norte-americano assumiu a liderança do rock pesado de protesto (e das vendas milionárias) contra o governo dos Estados Unidos: o System of a Down.
Depois de lançar, em maio, um dos melhores álbuns de 2005, a pedrada "Mesmerize", a banda volta agora com o anunciado disco-sinônimo "Hipnotyze" (mesmerizar, registra o "Aurélio", é sinônimo de hipnotizar).
O novo álbum complementa o trabalho iniciado no anterior de várias maneiras. Em primeiro lugar, visualmente: as caixas, os encartes e os desenhos não são apenas parecidos, eles realmente se encaixam fisicamente, formando um único CD duplo.
Em segundo lugar, os discos se ligam musicalmente, fechando um círculo que, agora, fica visível. A última música do novo "Hypnotize", a barulhenta "Soldier Side", completa a primeira -"Soldier Side Intro"- do disco anterior. São 23 músicas (11 de "Mesmerize" e 12 de "Hypnotize") onde a banda vai da grosseria do speed metal ao reggae.
Analisado separadamente, no entanto, o novo disco se mostra menos criativo e impactante que o anterior. A rápida repetição de fonemas nos refrães, a alternância de velocidade dentro das músicas, os começos arrasadores seguidos de placidez instrumental, todas as marcas registradas dos quatro descendentes de armênios -Daron Malakian (guitarras e vocais), Serj Tankian (vocal), Shavo Odadjian (baixo) e John Dolmayan (bateria)- começam a se parecer com fórmulas e ameaçam se tornarem repetitivas.
Se não mantém o pique de seu antecessor, "Hypnotize" também não chega a ser ruim. Ele começa muito bem, por exemplo, com a adequadamente intitulada "Attack", que alterna uma artilharia de guitarra e bateria com momentos de suavidade, permitindo ao ouvinte atentar para a letra e berrar no refrão. A pop "Lonely Day", que já toca nas rádios, também não faz feio, com uma melodia tristonha que se encaixa bem na letra sobre um dia solitário.
Mas Daron Malakian simplesmente não consegue dar conta de criar tantas novas melodias. Das 23 músicas dos dois álbuns, 19 foram feitas só por ele, que participou também das outras três -algum grau de repetição já era esperado, e ele começa a pesar aqui.

Contra todos
Nas letras, o alvo principal continua sendo o governo belicista de George Bush (em "Tentative" e "Soldier Side", por exemplo), mas sobra também para a sociedade de consumo (em "Kill Rock n" Roll"), para os turcos -com referência ao massacre dos armênios (1915-1923) na letra de "Holy Mountains"- e até para o regime comunista chinês ("Por que você não pergunta aos garotos da praça da Paz Celestial / se eles estavam lá por modismo?", diz a letra da faixa-título, "Hypnotize").
É inegável a sinceridade dos protestos do System of a Down, cujos membros têm uma ONG, batalham para que os EUA reconheçam o massacre dos armênios pelos turcos, fizeram campanha anti-Bush. Tampouco é possível ignorar que a atitude de contestação continua sendo usada pela indústria para faturar alto (a banda já vendeu mais de 10 milhões de discos) e que os resultados políticos de tanta gritaria continuam pífios (vide a reeleição nos EUA).
(MARCO AURÉLIO CANÔNICO)

Hypnotize
  
Artista: System of a Down
Lançamento: Sony/BMG
Quanto: R$ 33, em média


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