São Paulo, domingo, 09 de dezembro de 2007

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Crítica/"Roma"

Série desaponta por excesso de ficção

Segunda e última temporada narra a disputa de poder entre Otavio e Marco Antonio após o assassinato de Julio Cesar

SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Roma" veio, viu, venceu... e, infelizmente, acabou de forma desapontadora. A famosa frase latina ("Veni, vidi, vici") atribuída a Julio Cesar e dirigida ao Senado, dando mostras do aumento de seu poder, poderia traduzir o impacto transformador que o seriado co-produzido pela HBO e pela BBC causou na produção televisiva recente.
De fato, a primeira temporada da série, que acompanhou a ascensão de Cesar, desde o ano 49 a.C., sua transformação em ditador e seu posterior assassinato por traição, no ano de 44 a.C., chamou atenção do público e foi louvada pela crítica.
Além disso, sugeriu uma nova linha de tratamento de temas históricos pela TV, com uma mistura bem dosada de rigor histórico, construções de personagens fictícios a partir dos reais e criação de um suspense folhetinesco fazendo uso de episódios célebres.
Uma das mais milionárias séries já produzidas na história, "Roma" não economizou nas tintas para reproduzir a cidade tal como devia ser nas décadas anteriores ao alvorecer da cristandade. Réplicas do Senado, das villas aristocráticas e caóticas ruas da cidade que abrigava mais de um milhão de pessoas então, foram reconstruídas, assim como foram reencenadas imensas batalhas históricas. É uma pena que a segunda temporada, que chega agora ao DVD, não tenha correspondido às expectativas de fãs conquistados pela primeira parte.
A trama agora começa enquanto Cesar sangra no chão do Senado. Disputam o poder então Otavio, herdeiro escolhido por Cesar, e Marco Antonio, aliado de outros tempos. Intrigas e batalhas recheiam a história até a vitória final de Otavio (31 a.C.), que se transformaria no imperador Augusto.
O destaque é a interpretação do galã britânico James Purefoy, um Marco Antonio que se torna mais simpático ao público. Passional, brigão, traiçoeiro e sedutor, acende a raiva e o desejo de vingança de Otavio, a princípio desprezado na sucessão por ser ainda muito novo. Marco Antonio, ainda, conquista Cleópatra e comove ao deixar-se levar pelo romance que enfraqueceria seu poder.
Bem interpretado pelo garoto Max Pirkis na primeira parte, o personagem de Otavio vira um odioso pequeno tirano, construído com demasiada afetação pelo ator Simon Woods, que o interpreta na fase adulta. Uma mudança na personalidade da ardilosa Attia contribui também para a gradual queda do interesse pela trama. A bela sobrinha de Cesar e ex-amante de Marco Antonio, que armara golpes, traições, torturas, assassinatos e afins, reduz-se aos poucos numa mulher amarga e chorosa, depois que seu amado a trocou pela rainha egípcia. Impedida de seguir aprontando com a vida dos outros, Attia esvazia aquilo que havia de "thriller" no programa.
O que mais compromete a temporada, entretanto, é a crescente importância que os legionários Titus Pullo e Lucius Vorenus ganham nas tomadas de decisão da cúpula do poder romano. Colocados na série para servirem como "ponto de vista popular" da história, passam a ser quase protagonistas de episódios dos quais devem ter passado longe os soldados que, na vida real, os inspiraram.
Dando demasiada relevância à dupla, que é charmosa, porém inverossímil, os roteiristas caíram no erro de valorizar a mentira em detrimento da "verdade". Ainda que todos saibamos que "Roma" é uma obra de ficção, a ilusão de que poderia substituir os tradicionais livros de história ao público leigo -e ao não tão leigo assim- era seu principal trunfo. Trunfo este que agora vai para o lixo.


ROMA - 2ª TEMPORADA
Distribuidora:
Warner (R$ 140, em média)
Avaliação: regular


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