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Projeto prevê ocupação do vale do Anhangabaú
Intervenções na região central pretendem levar cultura a espaços desabitados
Para o secretário municipal Carlos Augusto Calil, praça Roosevelt precisa ser recuperada, mas não pode virar "ilha da fantasia"
DA REPORTAGEM LOCAL
Enquanto a praça Roosevelt
espera a prometida reforma,
um outro projeto que enlaça
cultura e urbanismo começa a
sair das gavetas. A Folha teve
acesso ao estudo que pretende
dar novas feições à região da
chamada Cinelândia, que, entre as décadas de 1940 e 1960,
concentrou as mais concorridas telas de cinema da cidade.
O ponto de partida do projeto é a Praça das Artes, espaço
voltado à dança e à música que
tem inauguração prometida
para 2012.
"O investimento de
R$ 100 milhões na Praça das
Artes não pode ficar isolado,
então a secretaria desenvolveu
um processo de irradiação da
atividade cultural que se estende ao Anhangabaú, av. São
João, até chegar à av. São Luiz e
ao viaduto Santa Ifigênia", diz o
secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.
FOLHA - Quais são os pilares do
projeto?
CALIL - A vocação de cada lugar.
O largo do Paissandu é tradicionalmente o lugar do circo. O
Anhangabaú, que foi transformado em banheiro público, deve virar um ponto de encontro.
A passagem subterrânea da
galeria Prestes Maia tem que
ser aberta. É essencial, para a
cidade, recuperar seus prédios
mais tradicionais. O cine Ipiranga pode ser devolvido à função de cinema, o Cine Art Palácio, um marco da arquitetura,
pode ser um palácio da música.
É importante a cidade reaver
seus bens culturais de grande
envergadura. Na Líbero Badaró, o primeiro edifício de SP, o
Sampaio Moreira, foi desapropriado para ser restaurado. A
secretaria vai mudar para lá.
FOLHA - Os projetos de revitalização são inúmeros e quase nunca se
concretizam. Por que este vingaria?
CALIL - Pelo seu valor simbólico e cultural. O cruzamento da
São João com o Anhangabaú
tem grande significado histórico. A cultura é uma das atividades mais valorizadas em São
Paulo, e o centro da cidade é o
território comum de todos. As
primeiras intervenções não são
caras, são pontuais e simples.
FOLHA - O episódio da praça muda
em alguma coisa esse projeto?
CALIL - Se o episódio trouxer
conteúdo dramático para a recuperação da própria praça, já
está ótimo. A praça precisa desse ressurgimento, mas isso deve ser irradiado. Ela não pode
ser uma ilha da fantasia no centro degradado.
FOLHA - Como é pensar em cultura
na galeria Olido, com viciados em
crack dormindo ali à porta?
CALIL - A cultura não é melhor
do que a sociedade, é fruto dela
e reproduz seus defeitos.
FOLHA - Antes de assumir a secretaria, o senhor imaginava que uma
intervenção no centro seria um dos
seus projetos ?
CALIL - Projetos feitos fora do
governo são vagos. Quando você se depara com a realidade,
tem que dar respostas. Percebi
que a cultura tinha um papel a
cumprir na revitalização do
centro. A Virada ganhou uma
dimensão que não podíamos
supor. Ela mostrou que a população quer circular no centro e
que a ocupação é sua melhor
medida de segurança.
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