São Paulo, quarta-feira, 09 de dezembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Projeto prevê ocupação do vale do Anhangabaú

Intervenções na região central pretendem levar cultura a espaços desabitados

Para o secretário municipal Carlos Augusto Calil, praça Roosevelt precisa ser recuperada, mas não pode virar "ilha da fantasia"


DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto a praça Roosevelt espera a prometida reforma, um outro projeto que enlaça cultura e urbanismo começa a sair das gavetas. A Folha teve acesso ao estudo que pretende dar novas feições à região da chamada Cinelândia, que, entre as décadas de 1940 e 1960, concentrou as mais concorridas telas de cinema da cidade.
O ponto de partida do projeto é a Praça das Artes, espaço voltado à dança e à música que tem inauguração prometida para 2012.
"O investimento de R$ 100 milhões na Praça das Artes não pode ficar isolado, então a secretaria desenvolveu um processo de irradiação da atividade cultural que se estende ao Anhangabaú, av. São João, até chegar à av. São Luiz e ao viaduto Santa Ifigênia", diz o secretário municipal de Cultura, Carlos Augusto Calil.

 

FOLHA - Quais são os pilares do projeto?
CALIL
- A vocação de cada lugar. O largo do Paissandu é tradicionalmente o lugar do circo. O Anhangabaú, que foi transformado em banheiro público, deve virar um ponto de encontro. A passagem subterrânea da galeria Prestes Maia tem que ser aberta. É essencial, para a cidade, recuperar seus prédios mais tradicionais. O cine Ipiranga pode ser devolvido à função de cinema, o Cine Art Palácio, um marco da arquitetura, pode ser um palácio da música. É importante a cidade reaver seus bens culturais de grande envergadura. Na Líbero Badaró, o primeiro edifício de SP, o Sampaio Moreira, foi desapropriado para ser restaurado. A secretaria vai mudar para lá.

FOLHA - Os projetos de revitalização são inúmeros e quase nunca se concretizam. Por que este vingaria?
CALIL
- Pelo seu valor simbólico e cultural. O cruzamento da São João com o Anhangabaú tem grande significado histórico. A cultura é uma das atividades mais valorizadas em São Paulo, e o centro da cidade é o território comum de todos. As primeiras intervenções não são caras, são pontuais e simples.

FOLHA - O episódio da praça muda em alguma coisa esse projeto?
CALIL
- Se o episódio trouxer conteúdo dramático para a recuperação da própria praça, já está ótimo. A praça precisa desse ressurgimento, mas isso deve ser irradiado. Ela não pode ser uma ilha da fantasia no centro degradado.

FOLHA - Como é pensar em cultura na galeria Olido, com viciados em crack dormindo ali à porta?
CALIL
- A cultura não é melhor do que a sociedade, é fruto dela e reproduz seus defeitos.

FOLHA - Antes de assumir a secretaria, o senhor imaginava que uma intervenção no centro seria um dos seus projetos ?
CALIL
- Projetos feitos fora do governo são vagos. Quando você se depara com a realidade, tem que dar respostas. Percebi que a cultura tinha um papel a cumprir na revitalização do centro. A Virada ganhou uma dimensão que não podíamos supor. Ela mostrou que a população quer circular no centro e que a ocupação é sua melhor medida de segurança.


Texto Anterior: Cultura reproduz defeitos da sociedade, diz Calil
Próximo Texto: Artistas pedem "distrito boêmio" no centro de SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.