São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 2006

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FERNANDO BONASSI

Metáforas futebolísticas para um ano de Copa

Futebol é mesmo uma caixinha de más surpresas, é ou não é?!
A gente acredita num time jovem, sem aquelas jogadas místicas e viciadas dos olheiros e boleiros do passado e que, além do mais, era uma meninada que parecia querer não apenas ganhar, mas dar assim um verdadeiro espetáculo que, se não fosse de crescimento, fosse de amadurecimento, para que ao menos uma dessas gerações perdidas nas partidas que não chegam a nada tivesse chance de alguma coisa...
Era um grupo que se apresentava bem e era reconhecido por jogar limpo...
Há quanto tempo a torcida não andava com o saco cheio de sujeira, tendo até mesmo exigido a punição de uns e outros mais imundos? Alguns chegaram a ser julgados, passando lisos e ilesos para a reserva, sendo assim os premiados com o esquecimento das sacanagens que fizeram.
Os titulares mais necessários às desnecessárias disputas desleais foram perdoados de suas malandragens nos tribunais, já que os juízes andam assoprando alto demais por baixo das togas, uniformes e tapetes morais. Fazem questão de mostrar quem manda nas próprias leis, penhorando sentenças sem pudores! Os torcedores, por sua vez, em vez de se juntarem para conquistar suas coberturas ao sol, preferem se dividir às porradas nos subterrâneos da cidade...
Legal não é, mas é bem bacana! Especialmente para os sacanas que julgam as próprias faltas e aplicam-se as drogas de punições. Os cartões não saem dos bolsos. Nem os vermelhos! Ou, quando saem, estão tão cheios de recomendações e influências que logo as firulas das interpretações os colocam na base da indigência desse esquema.
É o de sempre: monta-se uma equipe de feras, que, à primeira oportunidade diante dos leões, corre de rabo entre as pernas, atrasando a bola para o goleiro. O goleiro está ali para agarrar, mas não pega nada, para não se comprometer com um resultado pelo qual precise responder.
É o de sempre: quando a gente pensa ter encontrado um craque para a posição, acaba tendo ungido um escroque pronto para melhorar a sua condição, já que os bandeirinhas que deviam enxergar e se mexer, foram instruídos, como a polícia, para baixar o braço e o sarrafo nos descontentes.
É o de sempre: até funciona para aqueles que estão em certas posições de banheira, ou banheiro, como queiram. É isso mesmo: entre o público e o privado preferem o "púbico" e a "privada" para o bem de suas obras arranjadas em jantares finos, licitações de marmelada e revistas de autopromoção! Armam a confusão dessa retranca na frente do cofre de investimentos sociais e deixam escancarado o dos subsídios para as juras, juros e para o proveito, ou proventos, desses atacantes fominhas que se acertam em cheio enquanto levamos chapéu.
Alguns nem têm vergonha de se assumirem banqueiros de apostas, mas são as mesmas lesmas lerdas desses perdedores...
Não é por falta de tática. É mais essa tal de ética... ou titica, sei lá...
Os profissionais se concentram todos cercados de cuidados, seguranças e ares condicionados para que aumentem a sua potência em nossa defesa, mas quando vão a campo fica apenas essa inocência, incompetência ou impotência de quem tem medo de chamar o jogo para si.
Os adversários vêm para cima mesmo, e a gente desejava um pouco mais de empenho, reação, senão de atenção com essas pauladas e balas que nos atiram pelas costas, como a facada traiçoeira de um drible da vaca.
É uma vergonha...
Vergonha na cara a gente tem, acontece que qualquer sem-vergonha pode votar e ser eleito numa eleição, já que não se avalia a condição mental, mas só a física dessa elite de cartolas suicidas e seus procuradores impostores.
Além do mais, os resultados podem estar sendo maquiados, massageados ou simplesmente enfiados bem lá dentro das caneleiras, cuecas e calções...
Quanto aos talentos, há os que jogam muito, enciumando até mesmo os atletas companheiros; há os que jogam demais, insistindo em jogadas espirais e jogando fora as chances de gol apenas porque receiam vencer por si mesmos, "quiçá por nós outros". Há também os que chutam sem olhar, contando com a pontaria do acaso e os que cabeceiam de olhos fechados no ocaso dos acontecimentos. Todos que, sem tesão pelas pelotas, ficam nessa "empatação", onde resultados empulhados são exibidos por treinadores retrancados e travados. Isso sem contar com chuveirinhos que não molham e uns lances tão esquisitos que só mesmo a parcimônia dos apitos não encontra qualquer penalidade.
A gente sabe que são 11 contra 11, mas tem sempre essa sensação que falta alguém numa posição mais definida, cuja contribuição seja efetiva na decisão do campeonato. Acontece que desde o primeiro confronto o fôlego não agüenta para a chegada, ficando todos meio tontos compondo tantos ideais, estratégias e interesses difusos...
Cansamos de engolir o que dizem os locutores desses estádios patrocinados e estúdios comprados de anúncios de televisão.
Se cada ingresso fez toda essa arrecadação, porque as rendas são sempre mal contadas e distribuídas, como as favas, que somos obrigados a engolir para parar em pé?
A regra até pode ser clara, mas o jogo anda obscuro que só revendo no replay para não entender de uma vez...


@ - fbonassi@uol.com.br

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