São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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"Reparação" tem bênção de seu autor

Ian McEwan acompanhou "cada rascunho" do roteiro adaptado do romance; filme concorre a sete Globos de Ouro

Para jornal britânico "Observer", adaptação de Christopher Hampton é "magistral'; "New York Times" viu reducionismo

Divulgação
Cecilia (Keira Knightley) e Robbie (James McAvoy) em cena do filme "Desejo e Reparação', do diretor inglês Joe Wright

EDUARDO SIMÕES
DA REPORTAGEM LOCAL

Baseado em "Reparação" (Companhia das Letras, 2002), romance do escritor inglês Ian McEwan finalista do Booker Prize 2001, o mais prestigioso prêmio literário britânico, o filme "Desejo e Reparação" é o campeão de indicações ao Globo de Ouro (sete), feito que pode repetir no Oscar, que anuncia os concorrentes no dia 22.
Segundo longa de Joe Wright ("Orgulho e Preconceito"), o longa, que estréia amanhã no Brasil, custou US$ 30 milhões (R$ 53 milhões) e é a narrativa de como uma sucessão de mal-entendidos, seguidos de mentiras, podem ser tão devastadores quanto a guerra, pano de fundo desta história de amor.
No verão de 1935, a aristocrática Briony Tallis (Saoirse Ronan), de 13 anos, acusa o filho da governanta Robbie Turner (James McAvoy), amante da irmã mais velha, Cecilia (Keira Knightley), de um crime que não cometeu. A reparação, tardia, é pretendida por meio da arte -um livro que Briony escreve ao longo de seis décadas.
Uma das categorias do Globo em que tem mais chances é a de melhor roteiro, para o dramaturgo e diretor Christopher Hampton, que já assinou adaptações como, entre outras, "O Americano Tranqüilo" (de Philip Noyce, 2002) e "Ligações Perigosas" (de Stephen Frears, 1988), que lhe valeu um Oscar.
A adaptação tem a bênção do próprio McEwan. Em entrevista ao jornal inglês "The Guardian", Hampton disse que o autor "leu cada rascunho do roteiro e foi bastante assíduo". "A revelação no exato final da história foi a coisa mais complicada em termos fílmicos. Mas acredito que tenhamos conseguido [um bom resultado]."

Crítica dividida
A crítica na Inglaterra e Estados Unidos ficou um tanto dividida: o britânico "The Observer" elogiou a "adaptação magistral", as "atuações fortes" e "ótima fotografia". Já no "The New York Times", o crítico A.O. Scott falou mal da falta de sutileza na interpretação da atriz Blenda Blethin, que vive a mãe de Robbie, e da trilha sonora de Dario Marianelli, que buscou injetar tensão na trama misturando à música o som das batidas de uma máquina de escrever. Scott diz que o filme é um exemplo clássico do quão "sem sentido e reducionista" pode ser a "transmutação de literatura em cinema".
Uma das seqüências mais elogiadas em resenhas inglesas foi o travelling de quase seis minutos que mostra Robbie em meio à saída de tropas inglesas e francesas pós-Batalha de Dunquerque (1940), durante a Segunda Guerra. Para Philip French, do "Observer", o virtuosismo da tomada é comparável ao de diretores como Orson Welles, Alfred Hitchcock e Michelangelo Antonioni. Para A.O. Scott, é vazio.
Keira Knightley, que já havia trabalhado com Wright em "Orgulho e Preconceito", quando recebeu uma indicação ao Oscar de melhor atriz, disputa o Globo de Ouro na mesma categoria por "Desejo e Reparação". De acordo com o "Guardian", sua atuação é "frágil, brilhante, distante".
Escolhido por seu "background" de classe operária, como seu personagem em "Desejo e Reparação", o escocês McAvoy considera que Robbie é seu primeiro grande papel principal convencional -em "O Último Rei da Escócia", McAvoy foi um tanto ofuscado por Forest Whitaker.
Em entrevista ao "Guardian", o ator disse ainda que o papel de Robbie é mais simbólico do que literal. "Ele é todo bondade. Quase como um Cristo ou angelical. Acho que é por isso que é tão difícil para o público, mas também para mim, vê-lo sendo destroçado. É como se nós fôssemos destroçados. Eu queria ser ele. Queria que ele existisse."


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