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Crítica
Diretor usa formas clássicas para fazer cinemão dos bons
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Cinemão (tal como teatrão) é um termo que se
usa, com intenção quase sempre pejorativa, para designar obras que recorrem a todo o arsenal de formas clássicas
de representação com o objetivo de agradar o maior número
possível de pessoas. Filmes que
ganham Oscar, por exemplo,
quase sempre são cinemão.
"Desejo e Reparação" é cinemão e deve fazer um arrastão
no Globo de Ouro e no Oscar.
Mas, neste caso, todo o repertório clássico convocado pelo diretor Joe Wright em seu segundo longa não se esgota na necessidade de agradar um gigantesco público.
Do mesmo modo que Ian
McEwan dialoga com princípios fundamentais da narrativa
em "Reparação", romance que
deu origem ao filme, o diretor
consegue estabelecer com a
imagem clássica e, sobretudo,
com a ordem em que elas se
mostram ao espectador um jogo que traz à tona uma questão
crucial a ambos relatos: o que
distingue fato e ponto de vista
na história literária? O que distingue imagem e imaginação na
narrativa cinematográfica?
Todo relato conta uma história, como se convencionou.
Seus sentidos, porém, podem
variar radicalmente conforme
quem a narra e como. McEwan
propõe essa indagação ao retomar temas de Jane Austen e
Henry James sem fazer pastiche de autores clássicos. E o filme consegue estabelecer o
mesmo diálogo com o cinema
britânico, reencontrando alturas de Michael Powell e David
Lean, sem para isso se reduzir
ao decorativo, como muito se
viu nos filmes de James Ivory.
Muita gente vai achar o filme
uma obra ultrapassada, mero
cinemão. Que seja. Mas, ao lado
de "A Espiã", de Paul Verhoeven, que também estréia amanhã, há muito tempo não se via
cinemão tão espetacular.
DESEJO E REPARAÇÃO
Produção: Inglaterra, 2007
Direção: Joe Wright
Com: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai
Onde: estréia amanhã nos cines Bristol, TAM, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: ótimo
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