São Paulo, quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

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Crítica

Diretor usa formas clássicas para fazer cinemão dos bons

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Cinemão (tal como teatrão) é um termo que se usa, com intenção quase sempre pejorativa, para designar obras que recorrem a todo o arsenal de formas clássicas de representação com o objetivo de agradar o maior número possível de pessoas. Filmes que ganham Oscar, por exemplo, quase sempre são cinemão.
"Desejo e Reparação" é cinemão e deve fazer um arrastão no Globo de Ouro e no Oscar. Mas, neste caso, todo o repertório clássico convocado pelo diretor Joe Wright em seu segundo longa não se esgota na necessidade de agradar um gigantesco público.
Do mesmo modo que Ian McEwan dialoga com princípios fundamentais da narrativa em "Reparação", romance que deu origem ao filme, o diretor consegue estabelecer com a imagem clássica e, sobretudo, com a ordem em que elas se mostram ao espectador um jogo que traz à tona uma questão crucial a ambos relatos: o que distingue fato e ponto de vista na história literária? O que distingue imagem e imaginação na narrativa cinematográfica? Todo relato conta uma história, como se convencionou.
Seus sentidos, porém, podem variar radicalmente conforme quem a narra e como. McEwan propõe essa indagação ao retomar temas de Jane Austen e Henry James sem fazer pastiche de autores clássicos. E o filme consegue estabelecer o mesmo diálogo com o cinema britânico, reencontrando alturas de Michael Powell e David Lean, sem para isso se reduzir ao decorativo, como muito se viu nos filmes de James Ivory.
Muita gente vai achar o filme uma obra ultrapassada, mero cinemão. Que seja. Mas, ao lado de "A Espiã", de Paul Verhoeven, que também estréia amanhã, há muito tempo não se via cinemão tão espetacular.


DESEJO E REPARAÇÃO
Produção:
Inglaterra, 2007
Direção: Joe Wright
Com: Keira Knightley, James McAvoy, Romola Garai
Onde: estréia amanhã nos cines Bristol, TAM, Reserva Cultural e circuito
Avaliação: ótimo


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