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Crítica/DVD/"My Fair Lady"
Musical simboliza a "velha" Hollywood
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Em meados dos anos 60,
o "sistema dos estúdios" que marcou o
apogeu de Hollywood declinava. A geração que seria responsável pela renovação da indústria, no final da década, começava a despontar. Tratado então pela Warner como o novo
"E o Vento Levou" (1939), "My
Fair Lady" parecia deslocado.
Concebido como um musical
tradicional, baseado em show
da Broadway e inteiramente
rodado em estúdio, o longa seria o penúltimo supervisionado
pelo todo-poderoso produtor
Jack Warner no estúdio que
fundara com os irmãos mais velhos, em 1923, e do qual se afastaria em 1967.
Jack não dava mostras de entender que o seu tempo já se
aproximava do fim no jantar de
apresentação do projeto à imprensa, em agosto de 1963. As
imagens desse evento, típico da
"velha Hollywood", são um dos
mais reveladores extras da versão em DVD de "My Fair Lady"
(levado aos cinemas como "Minha Bela Dama").
"[Este filme] Não será como
"Cleópatra'", garantiu Jack aos
jornalistas e convidados, em referência à turbulenta superprodução da Fox que, lançada meses antes, custara exorbitantes
US$ 40 milhões e arrecadara
pouco mais do que a metade.
Ao seu lado na mesa, havia um
remanescente desse naufrágio,
o ator Rex Harrison.
O produtor estimava que
"My Fair Lady" sairia por US$
12 milhões -incluídos US$ 5,5
milhões para a compra dos direitos da peça, que estreara em
Nova York em março de 1956 e
se tornara sucesso global. Uma
bilheteria de US$ 20 milhões
seria o bastante para recuperar
o investimento, supunha.
Bilheteria miúda
Seu faro, contudo, já não era
o mesmo. O orçamento estouraria em quase 50% e, apesar
dos oito Oscar (inclusive o de
melhor filme), a arrecadação ficou em US$ 12 milhões. A excelência conservadora da realização tornava mais simbólico o
fiasco: conceitos e métodos
precisavam mudar.
"My Fair Lady" faz do anacronismo seu charme, com as
canções notáveis de Alan Jay
Lerner e Frederick Loewe dando novo colorido à peça "Pigmalião", de Bernard Shaw. De
volta ao papel que criou nos
palcos, Harrison interpreta o
arrogante e preconceituoso
professor de fonética que aposta ser capaz de transformar
uma florista vulgar (Audrey
Hepburn, dublada nas canções)
em dama sofisticada.
Curiosamente, Hollywood
viria a percorrer caminho inverso para sobreviver nos anos
seguintes: menos salões de baile e mais sujeira das ruas.
MY FAIR LADY
Distribuidora: Paramount
Quanto: R$ 19,90 (livre)
Avaliação: ótimo
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