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Diretor restaura a série "Vigilante Rodoviário"
Primeiro seriado da TV brasileira, filmado em 1961 por Ary Fernandes, tem 35 episódios reunidos em caixa de DVD
Programa tirou hegemonia de enlatados e programas de auditório; ator entrou no "Guinness" por ter virado patrulheiro após seriado
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
"De noite ou de dia, firme no
volante, vai pela rodovia bravo
vigilante." A música marcava o
início de "O Vigilante Rodoviário", em março de 1961.
Também sinalizava o começo da produção nacional. Quase
não havia telenovelas. A programação se baseava em enlatados, programas de auditório e
de perguntas e respostas.
"Foi sofrido demais ser o pioneiro, fazer as pessoas acreditarem que ia dar certo", conta o
diretor Ary Fernandes, que
convenceu a patrocinadora
Nestlé. O ator Carlos Miranda,
76, faz coro: "A maior dificuldade era não ter parâmetros".
E foi "fazendo um monte de
besteiras" que Fernandes e o
produtor Alfredo Palácios se
"aventuraram" nos seriados.
"Fomos motivo de piada por
querermos criar um herói brasileiro. O pessoal debochava
que ia virar um malandro",
conta ele, aos 78 anos.
A ideia de defender a cultura
nacional estava em sua cabeça
desde criança, quando assistia a
"Lanceiros de Bengala" e "Rin-Tin-Tin". "Achava estranho
não ter nenhum nome brasileiro no elenco." A intenção aflorou após deslanchar a carreira.
O seriado, que no início se
chamava "O Patrulheiro", chegou a estar presente em 80%
das casas. "Era uma loucura.
Todo mundo assistia. Naquela
época, era tudo ou nada."
Daí o susto quando a concorrente Toddy lançou "Patrulheiros Toddy", imitando o nome
do seriado. Fernandes pensou
em processar a empresa, mas o
patrocinador disse para trocar
para "Vigilante" e "que o melhor ficaria no ar". "Até me deu
dor de barriga. Mas vencemos."
Uma dificuldade superada
entre outras tantas técnicas e
financeiras. A viatura-símbolo
da série, o Simca-Chambord
1959, era emprestada pela
montadora. Nem havia instrutor para o cachorro Lobo. "Mas
tudo bem, ele nasceu inteligente. Foi o maior ator da série e
inclusive supria as falhas de alguns atores", exagera Miranda.
Um Carlos para o Carlos
O roteiro estava já delineado,
mas o diretor não conseguia
achar alguém para o inspetor
Carlos. "Fizemos 60 testes."
Naquela época, Miranda era
recém-formado e trabalhava de
assistente de produção. "Como
o cinema estava em crise, cozinhei muita macarronada para
alimentar o pessoal desempregado", conta Fernandes.
Foi a mulher do diretor que
teve a ideia de testar Miranda.
"Quando vi ele fardado, terminei a busca. O nome igual foi
apenas uma coincidência."
Ao final do programa, em
1962, o ator ingressou na Polícia Rodoviária, entrando no
"Guinness" por ser o primeiro
personagem a virar realidade.
"O convívio foi tão intenso que
resolvi virar policial. Me aposentei como tenente-coronel."
A caixa, com quatro DVDs,
reúne 35 dos 38 episódios
-três não puderam ser recuperados. Com narrativa simples,
pouca violência e ingenuidade
-crianças desarmam um bandido, o policial se defende com
socos e pontapés-, a série se
mantém no ar no Canal Brasil,
às segundas (20h30), terças
(15h30) e domingos (11h).
O VIGILANTE RODOVIÁRIO
Quanto: R$ 49,90, em média
Classificação: 12 anos
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