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Hopkins diz ser uma "festa" interpretar o dr. Lecter e compara seu personagem a Dirty Harry
Hannibal o jantar está servido
Filme de Ridley Scott será exibido no Festival de Berlim amanhã e chega às telas no Brasil dia 23
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Divulgação
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Anthony Hopkins volta a interpretar o clássico dr. Hannibal Lecter, papel que lhe rendeu o Oscar há dez anos, agora em "Hannibal" |
TETÉ RIBEIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM NOVA YORK
Anthony Hopkins não se importa com sua carreira. Também
não se importa com o sucesso de
seu novo filme, "Hannibal", que o
Festival de Berlim exibe amanhã e
o Brasil assiste a partir do dia 23.
Na verdade, o ator britânico de
63 anos não se importa muito
com nada. Acha que as opiniões
de um "dumb actor" ("ator burro") não são relevantes.
Recusa-se a comentar o canibalismo do dr. Hannibal Lecter, personagem que interpreta maravilhosamente pela segunda vez no
cinema, explicando que é "apenas
uma ficção".
Irrita-se com perguntas sobre o
roteiro ("pergunte para o roteirista") ou as decisões do filme que
não têm a ver com seu modo de
interpretar ("pergunte ao diretor", "pergunte ao autor").
Sobre a vida pessoal, sir Anthony Hopkins também não gosta de falar. Sabe-se que acabou de
virar cidadão americano ("não
combino com o jeito dos ingleses
e moro nos EUA há 25 anos, achei
que era a coisa certa a fazer") e
que recentemente se divorciou de
sua mulher ("não falo sobre minha vida, passe para a próxima
pergunta").
A conversa com ele acontece
aos trancos, entre as muitas interrupções que faz e as diversas variações de seu humor. Só foi possível ver o ator feliz quando, no final da entrevista coletiva que deu
em Nova York para a estréia de
"Hannibal", alguém sugeriu que
ele fizesse sua famosa imitação de
Marlon Brando.
Valia um Oscar. Assim como o
que recebeu na primeira vez em
que viveu o psicopata Hannibal
Lecter, dez anos atrás.
Pergunta - Neste filme, seu personagem, o dr. Hannibal Lecter,
tem duas novas manias: dizer
"okey-dokey" e "goody-goody".
De onde vieram?
Anthony Hopkins - Bem, ele mudou, dez anos se passaram. Eu
também mudei. "Okey-dokey"
foi uma expressão que eu coloquei na hora, é apenas uma brincadeira. Acho que uma expressão
tão inofensiva como essa, na boca
dele, o faz ainda mais assustador.
Imagino que a audiência tenha
se preparado para vê-lo fazendo
uma coisa muito aterrorizante
desta vez, então uma expressão
que se usa em geral com crianças,
como "goody-goody", toma uma
outra dimensão.
Pergunta - Você sentiu saudade
do personagem?
Hopkins - Não. Nem imaginava
que iria existir uma sequência do
filme. Pensei em Hannibal algumas vezes, mas não muito. Vivi
minha vida intensamente nesse
período. E, dois anos atrás, quando soube da sequência, voltei a
pensar nele e imaginei que seria
interessante voltar a ser Hannibal.
Foi fácil, na verdade, tinha um
ótimo diretor, o Ridley Scott, e
uma excelente estrela ao meu lado, que é a Julianne Moore.
Pergunta - Você se diverte interpretando Hannibal tanto quanto
parece para quem vê?
Hopkins - Muito. É uma festa viver um personagem tão cheio de
detalhes e ao mesmo tempo tão
irônico e terrível. Alguém me perguntou se ele é na verdade um justiceiro, já que só mata os maus
personagens. Não exatamente, o
que ele faz não é justiça.
Mas é como o Dirty Harry, de
Clint Eastwood. Nós todos vamos
ao cinema para ver esse tipo de
coisa acontecer num mundo que
não é o mesmo em que vivemos.
Não acho que tenha nada perturbador nesses filmes. São entretenimento, com alguns sustos.
Pergunta - Você disse que cada
personagem tem um pequeno truque. O Nixon era o jeito como ele
carregava a cabeça. Qual é o truque
de Hannibal?
Hopkins - É o jeito de andar, que
sai da pélvis. Sei que não tem nada
a ver com os felinos, mas eu os
adoro e observo muito. Desde os
pequenos gatos domésticos até os
leões e as onças.
Fui à África nas minhas longas
férias e vi as leoas andando, elas
têm esse andar, que é muito macio e elegante, mas também alerta.
É isso que Lecter tem como marca
característica.
Pergunta - O que você achou da
troca de Julianne Moore no papel
que foi de Jodie Foster?
Hopkins - Ela é muito diferente
de Jodie Foster, por isso foi uma
experiência muito diferente. Mas
é uma ótima atriz e uma ótima colega de trabalho, muito séria e
concentrada na personagem. Já
tinha trabalhado com ela no filme
"Picasso" e já sabia que era uma
atriz maravilhosa. Fiquei muito
feliz por ter sido ela.
Pergunta - Por que as pessoas
gostam de ver o mal nas telas?
Hopkins - Não sei. Mas o personagem mais interessante de Shakespeare é Iago, o traidor, e o jeito
como ele destrói as pessoas em
três horas de peça. É como assistir
a "Tubarão" ou aos filmes de
Hitchcock ou mesmo ir a uma
montanha-russa.
Ou mesmo assistir aos motoqueiros pularem sobre um enorme obstáculo -nós queremos
ver ele cair! Queremos ver Houdini não conseguir sair das caixas. A
sensação de medo nos atrai. E isso
não quer dizer que somos seres
humanos perturbados, somos
apenas humanos.
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