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LITERATURA
Marco da contracultura nos anos 70, "Me Segura Qu'Eu Vou Dar um Troço" é relançado pela Biblioteca Nacional
Subversão de Waly Salomão volta oficial
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
A reedição comemorativa de
"Me Segura Qu'Eu Vou Dar um
Troço" -marco da contracultura
nacional escrito pelo poeta, compositor e intelectual Waly Salomão (1944-2003)- traz consigo
um doce sabor de ironia, do ponto de vista histórico.
O livro surge em 1972. Preso por
porte de drogas, Salomão cumpre
18 dias numa cela no Carandiru,
em São Paulo. Nesse cenário, cria,
sob o pseudônimo Waly Sailormoon (o "Marujeiro da Lua"), sua
obra de estréia, de caráter libertário, antiacadêmico, urgente. Publicado, rapidamente se esgota.
Corta para 2004. Editado pela
Aeroplano em parceria com a Biblioteca Nacional, "Me Segura"
vira celebração oficial -uma homenagem ao autor, secretário nacional do Livro morto em maio
do ano passado, pouco depois de
ser empossado pelo ministro da
Cultura, Gilberto Gil.
De subversão a patrimônio,
"Me Segura" ganhou edição de luxo em capa dura, admiradores famosos e a chance de demonstrar
sua atualidade, como afirma a diretora da Aeroplano e professora
da UFRJ, Heloísa Buarque de Hollanda, que organizou a obra.
"Me Segura'" permanece atual
por seu valor especificamente literário. Pela invenção contínua de
estruturas poéticas poliédricas,
pelo trabalho no limite entre os
gêneros literários e, principalmente, pela força de uma imagética fascinante e brutal no seu melhor sentido", diz Hollanda.
Para atestar sua atemporalidade, o relançamento hoje, no Leblon (zona sul do Rio), conta com
presenças de cabeças de vários
tempos: poetas como Antonio Cicero (que escreve o ensaio introdutório), Eucanaã Ferraz e Chacal, e músicos como Caetano, Gil,
Adriana Calcanhotto, O Rappa e
Jards Macalé, entre outros.
No trabalho de reedição, houve
a preocupação de mostrar que o
livro pertence ao seu tempo. O
novo projeto gráfico e a organização tiveram a mão de Luciano Figueiredo, co-autor da capa original de 72. Foi mantida a foto que
retrata Salomão e o colunista da
Folha José Simão (em vastas cabeleiras e bocas-de-sino) na praia
de Copacabana, ao lado da menina Rubia Mattos, que vivia no
morro de São Carlos.
"Participei de muitos episódios
desse livro, nós éramos como irmãos. Acho que é um retrato essencial e pulsante dos anos da repressão, quando você tinha a coisa da luta armada mas também tinha a luta da cultura underground. É como relançar "On the Road", do Kerouac", diz Simão.
Sobre a capa, Figueiredo vai
além: "A própria presença do autor, segurando uma faixa com a
palavra "Fa-Tal", é uma situação
experimental daqueles anos", diz
o artista, hoje diretor do Centro
de Artes Hélio Oiticica.
A experimentação nas reflexões
vem em torrente, num verso libertário e liberado, que flerta com
a prosa e vice-versa. "Uma liberação da escritura", como o próprio
Salomão afirmaria depois.
"É o manifesto de uma pessoa
só", diz o poeta Armando Freitas
Filho, "não apenas literário, mas
de posicionamentos e costumes".
Uma escrita que, para Hollanda,
não precisa de uma definição à
parte. "Trata-se de poesia pura.
Ainda que sempre brincando
com os limites entre poesia e prosa, a obra de Waly é poesia em estado de alerta, 24 horas por dia."
ME SEGURA QU'EU VOU DAR UM
TROÇO. De: Waly Salomão. Editora:
Aeroplano e Biblioteca Nacional.
Quanto: R$ 35 (promocional; 208 págs.).
Quando: hoje, às 19h. Onde: Dantes
Livraria (r. Dias Ferreira, 45, Leblon, Rio,
tel. 0/xx/21/2511-3480).
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