THIAGO NEY
DA REDAÇÃO

O Grammy seria mais um prêmio enfadonho da indústria do entretenimento norte-americana não fossem suas trapalhadas e idiossincrasias.
Praticamente todas as formas de música que a raça humana produz -desde polca a bluegrass gospel, dando uma parada em álbum latino tropical tradicional- estão espalhadas por suas 105 categorias. Até o ex-presidente da antiga União Soviética Mikhail Gorbatchov foi lembrado -ao lado de Bill Clinton e da atriz Sophia Loren, por melhor álbum falado para criança ("Pedro e o Lobo").
No meio disso tudo, quem levou mais estatuetas de gramofone foi Beyoncé, com cinco prêmios, incluindo cantora, performance de duo/grupo e álbum, todos na categoria r&b.
Por outro lado, a jovem cantora de 22 anos foi vítima da maior injustiça desta 46ª edição do Grammy, ocorrida anteontem. Em melhor canção, sua "Crazy in Love", uma das melhores e mais tocadas músicas de 2003, perdeu para "Clocks", do Coldplay.
Outro que se deu bem na premiação foi a dupla Outkast, que saiu vitoriosa em três categorias: álbum do ano (merecidamente, com "Speakerboxxx/ The Love Below"), disco de rap e performance alternativa de r&b. O conceito de "alternativo" é um pouco abrangente no Grammy: em 1993, "Zooropa", do U2, ganhou como "melhor disco alternativo de rock". Este álbum do Outkast é de uma grande gravadora (BMG)...
Justin Timberlake, que no domingo retrasado arrancou a blusa de Janet Jackson durante apresentação transmitida pela TV (o que levou a rede CBS a transmitir a premiação com atraso de alguns segundos), ganhou como performance solo masculina ("Cry Me a River" e álbum pop ("Justified").
O grupo teen Evanescence, com "Bring Me to Life", levou em canção de hard rock -categoria que, em 1988, premiou a banda de progressivo Jethro Tull, numa das maiores esquisitices da história do Grammy (uma outra foi premiar os Chemical Brothers, um dos papas da eletrônica, por "melhor disco de rock instrumental", em 1997...). A melhor canção de rock ficou com "Seven Nation Army", do White Stripes.
Três brasileiros concorriam ao Grammy. Caetano Veloso e o grupo Angola Pelourinho (world music) e Luciana Souza (disco de jazz com vocais). Nenhum dos três foi premiado.
Nem só de prêmios vive o Grammy. A noite foi recheada com vários shows e colaborações inusitadas, como Beyoncé e Prince, Foo Fighters e Chick Corea, além de um "momento funk" com George Clinton, Outkast e o grupo Earth, Wind & Fire.


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