São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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CRÍTICA FAROESTE

"Bravura Indômita" funciona, mas deixa ponta de frustração

Refilmagem de longa de 1969 tem muitas qualidades, mas não traz a marca pessoal da dupla de cineastas


É UM FILME ESTRANHO DENTRO DA FILMOGRAFIA DOS COEN. PELA PRIMEIRA VEZ ELES ABDICARAM DE IMPOR SEU ESTILO


ANDRÉ BARCINSKI
CRÍTICO DA FOLHA

Numa carreira de quase 30 anos e 15 filmes, os irmãos Coen sempre fizeram tudo à sua maneira.
Mesmo quando atuam dentro das fórmulas de um determinado gênero, como o "noir" ("O Homem que Não Estava Lá", "Fargo"), a comédia ("O Grande Lebowski") ou o filme de gângster ("Ajuste Final"), a dupla imprime uma marca inconfundível em seus filmes.
"Bravura Indômita", refilmagem do faroeste dirigido por Henry Hathaway em 1969 e que deu a John Wayne seu único Oscar, é uma exceção. No filme, que estreia amanhã no Brasil, os Coen se preocuparam apenas em contar uma boa história.
Funciona, mas deixa uma ponta de frustração. Jeff Bridges interpreta Rooster Cogburn, o personagem de John Wayne, um caçador de recompensas beberrão. Com seu tapa-olho, mau humor e fala arrastada de quem está eternamente bêbado, Cogburn parece um pirata no Velho Oeste.
Ele é procurado por Mattie (Hailee Steinfeld), uma menina de 14 anos, que o contrata para prender o assassino do pai, o criminoso Tom Chaney (Josh Brolin).
Acontece que Chaney está escondido no meio do território indígena, onde poucos se atrevem a ir.
Cogburn e Mattie recebem a ajuda de La Boeuf (Matt Damon), um policial que também está atrás de Chaney.
Os dois filmes, tanto este quanto o de 1969, foram adaptados do romance de Charles Portis, um faroeste sobre vingança e determinação. Mas o livro também tem um lado cômico e divertido.
Os diálogos são ótimos. Dá para entender por que os Coen, que sempre escreveram bons textos, se identificaram com o senso de humor e o "timing" do livro.
As farpas trocadas entre Cogburn e La Boeuf e, principalmente, a verve de Mattie, totalmente inesperada para uma menina tão nova, dão um toque de leveza e humor.
Estilisticamente, o "Bravura Indômita" dos Coen não traz grandes inovações.
A fotografia de Roger Deakins, que já fez 11 filmes com os diretores nos últimos 20 anos, explora os grandes espaços da paisagem rochosa para realçar o mistério e perigo da saga do trio.
"Bravura Indômita" é um filme estranho dos Coen. Talvez pela primeira vez eles tenham abdicado de impor seu estilo. O que não quer dizer que o filme não tenha muitas qualidades.
E para quem quiser ver um faroeste típico dos Coen, sugiro recorrer ao DVD e rever o torto e genial "Onde os Fracos Não Têm Vez".

BRAVURA INDÔMITA

DIREÇÃO Joel e Ethan Coen
PRODUÇÃO EUA, 2010
COM Jeff Bridges, Matt Damon
ONDE estreia amanhã nos cines Frei Caneca, Reserva Cultural, Cidade Jardim e circuito
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom


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