São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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NINA HORTA

O mais simples possível


Um bom livro de receitas é aquele que te ensina a cozinhar. Com a repetição, se aprende o jeitão do chef


NEM DÁ para recomendar para os amigos em viagem porque vão achar muito simplezinho. É um restaurante pequeno, algumas mesas comunitárias, "takeaway", garçons conversando com os clientes, fila animada na porta. Muitas frutas e legumes frescos empilhados nas prateleiras à vista de todos.
Quase não há necessidade de geladeira, porque o produto vai do mercado para a panela e para o cliente. Uma mulher está sentada com o carrinho do filho perto de um saco de aniagem cheio de maçãs, que será retirado logo que o primeiro responsável passe por lá.
O nome do restaurante é Ottolenghi, num pequeno espaço em Notting Hill, Londres. Mas queremos falar aqui é do livro, e o livro foi escrito em 2002.
Ottolenghi e o sócio queriam começar com estas palavras: "Se você não gosta de limão e alho, pule para a última página".
As receitas são das mães e avós, ou melhor, lembram o lugar onde foram criadas. Israel e Palestina. E o limão e o alho não passam de uma metáfora de sua comida pungente, forte, cheia de gosto de infância e de comida de rua. Os pepinos quebrando nos dentes, laranjas de Jericó, romãs manchando o prato de vermelho.
Ao folhear o livro pela primeira vez, não se desconfia que pende muito para o vegetariano. Tem até umas receitas de frango e cordeiro. Aliás, os autores não são vegetarianos, só que andam meio sem apetite para carne.
Um bom livro de receitas é aquele que te ensina a cozinhar. Com a repetição, se aprende o jeitão do chef. E, num repente, depois de umas quatro receitas bem obedecidas, você intui o que o autor faria com aquela batata-doce que está nas suas mãos. E então está livre para criar sua batata-doce à Ottolenghi.
Para isso o cozinheiro-escritor tem que ter muito estilo, muita filosofia, porque a maioria dos livros é um apanhado de receitas daqui e dali. Servem, mas há que recorrer a eles a toda hora. Esses dois autores sabem muito bem do que gostam e se apoiam muito nos ingredientes, o que não é novidade nos tempos de hoje. E querem tudo o mais simples possível. Já não estamos mais no tempo da sofisticação das tortas trabalhadas, das aves encaixadas uma na outra. Queremos uma bela berinjela recheada, um pão, um vinho e pronto.
Outra coisa boa é que as receitas dão certo, o que deixa todo mundo muito animado, dançando com alegria como os cronópios do Cortázar. A ideia é o prazer. Se fizermos tudo com capricho fica bom demais, juro.
São extremamente fáceis e por isso requerem um cuidado e uma atenção maior. Os tomates, as alcachofras. Pequenas batatas com casca, cozidas e misturadas a ovos de codorna moles e ervilhas com um pouco de pesto. Fatias de abóbora assadas no forno recobertas de pistache e nozes. Pepinos cortados grandes e salpicados de papoula.
Receitas não cabem neste espaço, posso dar algumas no Facebook, não é uma boa ideia? Peçam, se quiserem. O nome dos livros que eles têm é: "Plenty" (R$ 30,15, na Amazon) e "Ottolenghi" (R$ 38,50, na Amazon), os dois da Ebury Press.

ninahorta@uol.com.br


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