São Paulo, Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 1999
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ARTES PLÁSTICAS
Feira Arco abre hoje
Colecionador faz compras em Madri

CELSO FIORAVANTE
da Reportagem Local

O cheiro de tinta vai estar fresco hoje à noite, quando for inaugurada em Madri, para convidados, a 18ª edição da feira de arte contemporânea Arco. O evento deve mostrar o que de mais novo está sendo produzido por milhares de artistas de todo o mundo.
"Novo", aqui, não é exagero, já que, mesmo entre os artistas brasileiros, alguns acabaram de produzir novos trabalhos para a mostra. É o caso de Adriana Varejão, que, segundo seu galerista Marcantonio Vilaça, não tinha obras "nem para fazer chá".
Mas "Tinta" é apenas uma metáfora para a miríade de materiais e suportes que estarão em exibição na cidade até o dia 16.
Serão 235 galerias de todo o mundo -mais de 30 países- tentando vender seu peixe para colecionadores, muitos deles tratados a pão-de-ló pela organização do evento, que lhes pagou passagem e estadia na capital espanhola.
Hoje, o evento abre apenas para a visita de colecionadores e jornalistas. Amanhã, a abertura será também para o público.
O Brasil estará lá, com as galerias Camargo Vilaça e Casa Triângulo e quatro artistas nos "project rooms", seção em que cada artista ganha um espaço exclusivo.
O evento é um dos mais importantes do mundo. Concorre apenas com as feiras de Chicago (EUA) e da Basiléia (Suíça).
Bem tratada também será a França, o país homenageado, que além de dezenas de galerias, marca presença com mostras nos principais museus do país.
O envolvimento de instituições renomadas, como o Centro de Arte Reina Sofia, que abriga uma retrospectiva da top artista Annette Messager, só é possível graças à organização do evento, que decide com anos de antecedência o país homenageado.
Já estão determinados os lugares privilegiados até o ano 2005. Depois da França, será a vez da Itália (2000), Grã-Bretanha (2001), Austrália (2002), Suíça (2003), Canadá (2004) e Califórnia e Pacífico (2005).
Segundo o artista e curador Adriano Pedrosa, a Espanha é o país que, atualmente, na Europa, melhor reúne as características de pólo difusor da arte contemporânea produzida fora dos grandes eixos (Europa e EUA).
"A Espanha é o país que pode monopolizar essa nova relação da Europa com a América Latina, continente que hoje representa "a arte do outro", já que ele representa um forte papel no atual panorama de arte contemporânea, mais forte mesmo que o da França", disse.
Adriano Pedrosa é o responsável pela seleção de artistas brasileiros para os "project rooms": Iran do Espírito Santo, Edgard de Souza, Rochele Costi e Sandra Cinto. "Não me preocupei com uma amarração conceitual. Procurei privilegiar artistas pouco vistos na Europa e que dessem uma idéia dos diversos níveis de produção contemporânea no país", afirmou.
Sandra Cinto já está em Madri para criar um "site specific" (obra criada especialmente para o local em que será exibida).
Trata-se de uma instalação com objetos e esculturas em madeira torneada em cor cinza. Sobre eles serão feitos desenhos que explodirão para as paredes da sala.
"A idéia é criar um ambiente confuso, em que convivam objetos da arte e da vida. Os desenhos vão sair dos objetos e tomar conta das paredes também, para criar uma idéia de camuflagem", disse ela.
Edgard de Souza comparece com cinco fotografias da série apresentada na última Bienal e duas esculturas. Uma delas, em bronze patinado de preto, mostra um corpo espelhado que simula uma força de retração, como se um quisesse se afastar do outro. A segunda escultura é uma nova versão da cadeira com dois encostos opostos que o artista apresentou na mostra Panorama, no MAM, em 1997. "Não é uma instalação, mas uma pequena individual", disse Souza.
Além das obras expostas, a feira se destaca pelo grande número de debates que promove, que devem contar com a participação de cerca de 80 curadores, artistas, críticos, galeristas e diretores de museus.
Adriano Pedrosa coordena no sábado, dia 13, a mesa-redonda "Perspectivas Estrangeiras: Curadoria de Arte Latino-Americana", com a presença de Dawn Ades (universidade de Essex, Inglaterra), María de Corral (curadora da Fundación La Caixa, em Barcelona) e Lynn Zelevansky (diretora do Los Angeles County Museum).
Na segunda, dia 15, a crítica de arte Mónica Amor, de Nova York, conduzirá uma mesa sobre "o esforço da crítica para repensar os cânones artísticos", com a presença dos críticos e curadores Carlos Basualdo, Guy Brett, Okwui Enwezor e Russel Ferguson.


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