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POLÊMICA
Atritos entre o diretor do museu e empresa de engenharia inviabilizam verba obtida pela Lei Rouanet
Impasse derruba megaprojeto do MIS
ALVARO MACHADO
especial para a Folha
A anunciada reforma do prédio
e modernização dos equipamentos do Museu da Imagem e do
Som (MIS), em São Paulo, que,
segundo seu diretor, Marcos Santilli, seria o principal plano da instituição para este ano, não tem
possibilidade de se concretizar
tão cedo.
O projeto de reforma, inscrito
na Lei Rouanet em 97, com valor
total de cerca de R$ 13,5 milhões
(e captação de R$ 9 milhões autorizada até 99), não se encontra
mais em vigor. Foi engavetado
pelos autores, da empresa F. A.
Fator S/C Ltda., após desentendimentos com Santilli no final do
último ano.
Tampouco se procedeu a reapresentação obrigatória do projeto (Pronac nº 970671) ao Ministério da Cultura antes do final de 99,
condição para continuar a captação de recursos em 2000.
Santilli afirmou a continuidade
do projeto dez dias antes de seu
prazo de validade expirar (31/12/
99). O diretor fez a declaração para a reportagem "Museus em Mudança", publicada na edição nº
147 do Guia da Folha (7/ 01/
2000), que circula na grande São
Paulo.
Novamente questionado sobre
o assunto no início deste mês,
Marcos Santilli afirmou poder revalidar a qualquer momento o
projeto intitulado "MIS Século
21", já que estaria em contato com
o engenheiro Fábio de Britto Álvares Affonso, da Fator Ltda.
Contudo, Álvares Affonso não
se recorda de contato com Santilli
desde outubro de 99, e no dia 18
deste mês distribuiu declaração
aos profissionais e instituições envolvidos no projeto.
No documento, informa a expiração da validade do projeto e a
desistência de reapresentá-lo "pelos motivos mais diversos, entre
os quais dificuldades apresentadas na captação de recursos e com
a direção do museu".
A declaração reafirma, também,
a propriedade intelectual do projeto "MIS Século 21", de Álvares
Affonso, com Katia Ludemann
(ex-programadora cultural do
MIS) e a arquiteta Maria Lúcia Pereira de Almeida.
Segundo Ludemann, Santilli
"jamais poderia reapresentar o
projeto sem a Fator, que bancou
todos os custos, até mesmo US$
18 mil para confecção da planta
baixa do prédio, que não existia".
Ludemann retirou-se da equipe
do MIS em novembro de 99, após
desentendimentos com Santilli,
que, segundo ela, "fazia oposição
sistemática ao projeto". Ela lembra, ainda, que, antes da nomeação do atual diretor, o projeto
"MIS Século 21" foi referendado
diretamente pela Secretaria de Estado da Cultura, ao qual o museu
é subordinado.
Conforme Ludemann, a oposição do diretor impediu a concretização de captação de R$ 2.350
mil que a empresa Volkswagen
estaria disposta a destinar à conservação do acervo. "É preciso
impermeabilizar com urgência a
área da reserva técnica, pois há
um lençol freático sob o prédio, e,
quando chove, a água sobe e os
funcionários têm de tirar os sapatos. Também é preciso readaptar
o espaço para cada tipo de suporte, pois está tudo junto, como
num depósito: vídeos, papéis,
material magnético etc.", diz.
Santilli contesta: "A afirmação é
mentirosa; o patrocínio de R$ 500
mil (sic) não foi concretizado porque a empresa queria se assegurar
da captação do restante da verba
do projeto".
Em sua segunda entrevista à Folha, o diretor do MIS opinou que
a responsabilidade exclusiva da
reapresentação do projeto em 99
era dos autores do projeto. Por
outro lado, declara que alguns de
seus itens se encontram "obsoletos" e teriam de ser refeitos.
Santilli abriria mão, por exemplo, "da compra de equipamento
de telecinagem de US$ 1,5 milhão,
com custo posterior de manutenção impossível para o Estado". O
diretor lamenta, ainda, a "possível
repercussão da divulgação de
uma intriga caseira, relativa ao
emprego de uma funcionária".
Segundo ele, "tornado público,
o caso dificultaria definitivamente a captação de recursos para o
MIS, prejudicando ainda os demais museus". Dizendo-se "vítima de perseguições pessoais",
lembra ter recebido ameaças anônimas de morte por telefone, "por
causa da demissão de Katia Ludemann".
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