São Paulo, sexta-feira, 10 de março de 2000


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POLÊMICA
Atritos entre o diretor do museu e empresa de engenharia inviabilizam verba obtida pela Lei Rouanet
Impasse derruba megaprojeto do MIS

ALVARO MACHADO
especial para a Folha

A anunciada reforma do prédio e modernização dos equipamentos do Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, que, segundo seu diretor, Marcos Santilli, seria o principal plano da instituição para este ano, não tem possibilidade de se concretizar tão cedo.
O projeto de reforma, inscrito na Lei Rouanet em 97, com valor total de cerca de R$ 13,5 milhões (e captação de R$ 9 milhões autorizada até 99), não se encontra mais em vigor. Foi engavetado pelos autores, da empresa F. A. Fator S/C Ltda., após desentendimentos com Santilli no final do último ano.
Tampouco se procedeu a reapresentação obrigatória do projeto (Pronac nº 970671) ao Ministério da Cultura antes do final de 99, condição para continuar a captação de recursos em 2000.
Santilli afirmou a continuidade do projeto dez dias antes de seu prazo de validade expirar (31/12/ 99). O diretor fez a declaração para a reportagem "Museus em Mudança", publicada na edição nº 147 do Guia da Folha (7/ 01/ 2000), que circula na grande São Paulo.
Novamente questionado sobre o assunto no início deste mês, Marcos Santilli afirmou poder revalidar a qualquer momento o projeto intitulado "MIS Século 21", já que estaria em contato com o engenheiro Fábio de Britto Álvares Affonso, da Fator Ltda.
Contudo, Álvares Affonso não se recorda de contato com Santilli desde outubro de 99, e no dia 18 deste mês distribuiu declaração aos profissionais e instituições envolvidos no projeto.
No documento, informa a expiração da validade do projeto e a desistência de reapresentá-lo "pelos motivos mais diversos, entre os quais dificuldades apresentadas na captação de recursos e com a direção do museu".
A declaração reafirma, também, a propriedade intelectual do projeto "MIS Século 21", de Álvares Affonso, com Katia Ludemann (ex-programadora cultural do MIS) e a arquiteta Maria Lúcia Pereira de Almeida.
Segundo Ludemann, Santilli "jamais poderia reapresentar o projeto sem a Fator, que bancou todos os custos, até mesmo US$ 18 mil para confecção da planta baixa do prédio, que não existia".
Ludemann retirou-se da equipe do MIS em novembro de 99, após desentendimentos com Santilli, que, segundo ela, "fazia oposição sistemática ao projeto". Ela lembra, ainda, que, antes da nomeação do atual diretor, o projeto "MIS Século 21" foi referendado diretamente pela Secretaria de Estado da Cultura, ao qual o museu é subordinado.
Conforme Ludemann, a oposição do diretor impediu a concretização de captação de R$ 2.350 mil que a empresa Volkswagen estaria disposta a destinar à conservação do acervo. "É preciso impermeabilizar com urgência a área da reserva técnica, pois há um lençol freático sob o prédio, e, quando chove, a água sobe e os funcionários têm de tirar os sapatos. Também é preciso readaptar o espaço para cada tipo de suporte, pois está tudo junto, como num depósito: vídeos, papéis, material magnético etc.", diz.
Santilli contesta: "A afirmação é mentirosa; o patrocínio de R$ 500 mil (sic) não foi concretizado porque a empresa queria se assegurar da captação do restante da verba do projeto".
Em sua segunda entrevista à Folha, o diretor do MIS opinou que a responsabilidade exclusiva da reapresentação do projeto em 99 era dos autores do projeto. Por outro lado, declara que alguns de seus itens se encontram "obsoletos" e teriam de ser refeitos.
Santilli abriria mão, por exemplo, "da compra de equipamento de telecinagem de US$ 1,5 milhão, com custo posterior de manutenção impossível para o Estado". O diretor lamenta, ainda, a "possível repercussão da divulgação de uma intriga caseira, relativa ao emprego de uma funcionária".
Segundo ele, "tornado público, o caso dificultaria definitivamente a captação de recursos para o MIS, prejudicando ainda os demais museus". Dizendo-se "vítima de perseguições pessoais", lembra ter recebido ameaças anônimas de morte por telefone, "por causa da demissão de Katia Ludemann".


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