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ARTES PLÁSTICAS
Lia Menna Barreto faz sinergia de arte e vida
free-lance para a Folha
Parece um universo de crueldade e perversão esse de cabeças de
bonecas arrancadas do corpo e lagartixas e sapos de borracha derretidos. Mas, por paradoxal que
seja, o que move Lia Menna Barreto em sua criação é a idéia de
um cuidado maternal extremado.
A cabeça de uma boneca antiga
torna-se recipiente para o cultivo
de uma planta. Os cabelos da boneca pendem junto dos arbustos,
seus pés acolhem as mudas menores, e essa obra de arte resulta
essencialmente da convivência
diária de Lia com o trabalho.
Mesmo as obras que não demandam cuidados rotineiros da
artista carregam um componente
vitalista. As bonecas e os animais
de plástico prensados contra tecidos de seda com um ferro de passar roupa ganham vida, ainda que
por alguns segundos, porque a
eles a artista agrega calor.
A obra de Lia Menna Barreto
que foi exposta no Itaú Cultural
ano passado como exemplo de
aproximação entre arte e vida,
uma boneca com um ferro de
passar incrustado no peito, ela
analisa assim: "Queria colocar calor dentro da boneca para mantê-la viva, mesmo desse jeito bruto".
Lia conta que as pessoas costumam achar sinistro o ambiente
formado por todas as cabeças de
bonecas em seu ateliê, mas prefere pensar no encantamento que
existe em ver algo crescer: "Os vasinhos necessitam de mim para
sobreviver, isso tem uma magia".
"Máquina de Bordar", em que
Lia constrói um desenho por
meio da plantação de grãos de milho em tecido usado como fralda
de bebês, é outra obra que requer
cuidados contínuos.
Apesar do repertório dessa artista carioca residente no Rio
Grande do Sul continuar o mesmo (o universo infantil e feminino, os objetos caseiros), sua obra
está muito além dessa superfície.
As soluções formais inserem o
trabalho em uma discussão pictórica, por exemplo. Os trabalhos
em seda transformam o tridimensional de bichos e flores de plástico em bidimensionalidade.
A escolha das cores resulta em
maior ou menor transparência (a
artista sobrepõe camadas de seda), remetendo à profundidade
da pintura, assim como fazem os
objetos ao penetrar a trama do tecido. "Quando arrasto um objeto
de plástico com o ferro, é como
imprimir uma pincelada sobre o
tecido", afirma Lia.
A crítica de arte Lisette Lagnado, que assina o texto do bem cuidado catálogo, relaciona a obra de
Lia à tradição da natureza-morta.
A reinvenção de um gênero que
aparentava ser impossível reinventar por meio da mistura de vivo e inerte, quente e frio, que Lisette denomina "vida silenciosa".
A convivência forçada entre
materiais é outro elemento que
seduz a artista: ela diz que um dia
se deu conta de que fazia junção
entre a loja cara do shopping onde compra a seda pura e a loja de
bugigangas onde encomenda sacos de animais de borracha.
Quem quiser levar uma das
obras vivas para casa vai ter de se
transformar em artista em certa
medida. "O dono vai ter de cuidar
da planta e estar pronto para
criar, porque, se a planta morre,
tem de ser replantada. Vai herdar
a mão do artista um pouco." Lia
conta que fez uma experiência,
deixando na casa de amigos uma
boneca. "Eles se afeiçoaram a elas
como eu."
(JULIANA MONACHESI)
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Exposição: Lia Menna Barreto
Onde: galeria Camargo Vilaça (r.
Fradique Coutinho, 1.500, Vila
Madalena, tel. 0/xx/11/210-7066)
Quando: hoje, às 20h. Seg. a sex., 10h às
19h; sáb., 10h às 14h. Até 31/3
Quanto: entrada franca
Preço das obras: US$ 5.000 a US$ 12 mil
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