São Paulo, sábado, 10 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Morre aos 90 anos o poeta Gerardo Mello Mourão

Intelectual participou do integralismo e teve os direitos políticos cassados durante o regime militar; indicado ao Nobel, ganhou prêmios no Brasil

Autor de "O Valete de Espadas" e "Invenção do Mar" estava internado desde janeiro no Rio e teve falência múltipla de órgãos


DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O poeta e escritor cearense Gerardo Mello Mourão morreu na madrugada de ontem, no Rio, aos 90 anos. Ele estava internado desde janeiro na Casa de Saúde São José, no Humaitá (zona sul), e foi vítima de falência múltipla de órgãos. O enterro será hoje, às 17h, no cemitério São João Batista (RJ).
Mourão tinha problemas respiratórios e cardíacos havia muito tempo, e piorou depois de ter sofrido uma queda ao descer de um avião.
Um dos três filhos de Mourão é o artista plástico Tunga, que estava fora do país ontem e voltará para o sepultamento. O poeta também deixa viúva, Léa.
Correspondente da Folha em Pequim entre 1980 e 1982, Mourão escreveu obras importantes como o romance "O Valete de Espadas" (1960); o livro de poemas "Peripécias de Gerardo" (1972), vencedor do Prêmio Mário de Andrade, da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); e o épico "Invenção do Mar" (1998), ganhador do Prêmio Jabuti. Foi um dos poucos brasileiros indicados ao Prêmio Nobel de Literatura -em 1979.
Nascido em Ipueiras, no Ceará, em 8 de janeiro de 1917, estudou em seminário em Congonhas do Campo (MG) e, depois, em um convento em Juiz de Fora (MG), onde aprendeu holandês, latim e grego. Ao longo da vida, viria a falar nove idiomas.
Antes de se dedicar à produção literária, no entanto, deixou o convento, ingressou no curso de direito (que não chegou a concluir) e se filiou à Ação Integralista Brasileira (AIB), movimento nacionalista, com traços de direita. Nessa época, passou a se dedicar também ao jornalismo e a dar aulas em vários colégios.
O envolvimento com o integralismo faria Mourão ser detido inúmeras vezes entre 11 de maio de 1938 -quando participou com os camisas-verdes do ataque ao Palácio Guanabara- e 1945, ano do fim do Estado Novo. Em 1942, acusado de colaborar com nazistas, foi condenado à morte -pena reduzida a 30 anos de prisão, dos quais cumpriria menos de seis.
Em 1977, no livro "Suástica sobre o Brasil", o brasilianista Stanley Hilton acusaria o escritor de ter participado de uma rede de espionagem nazista no país.
Amigo próximo do escritor francês Michel Deguy e do chileno Pablo Neruda, Mourão foi, nos anos 60, professor de história e cultura da América na Universidade Católica do Chile. Duas vezes deputado federal por Alagoas, teve seus direitos políticos cassados em 1969 pelo regime militar. Na década de 80, foi presidente da Rio Arte e secretário de Cultura do Estado do Rio.


Texto Anterior: Crítica/teatro/"Andaime": Peça adota com eficiência o humor ingênuo do rádio
Próximo Texto: Principais obras
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.