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Morre aos 90 anos o poeta Gerardo Mello Mourão
Intelectual participou do integralismo e teve os direitos políticos cassados durante o regime militar; indicado ao Nobel, ganhou prêmios no Brasil
Autor de "O Valete de Espadas" e "Invenção do Mar" estava internado desde janeiro no Rio e teve falência múltipla de órgãos
DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O poeta e escritor cearense
Gerardo Mello Mourão morreu
na madrugada de ontem, no
Rio, aos 90 anos. Ele estava internado desde janeiro na Casa
de Saúde São José, no Humaitá
(zona sul), e foi vítima de falência múltipla de órgãos. O enterro será hoje, às 17h, no cemitério São João Batista (RJ).
Mourão tinha problemas
respiratórios e cardíacos havia
muito tempo, e piorou depois
de ter sofrido uma queda ao
descer de um avião.
Um dos três filhos de Mourão
é o artista plástico Tunga, que
estava fora do país ontem e voltará para o sepultamento. O
poeta também deixa viúva, Léa.
Correspondente da Folha
em Pequim entre 1980 e 1982,
Mourão escreveu obras importantes como o romance "O Valete de Espadas" (1960); o livro
de poemas "Peripécias de Gerardo" (1972), vencedor do Prêmio Mário de Andrade, da
APCA (Associação Paulista de
Críticos de Arte); e o épico "Invenção do Mar" (1998), ganhador do Prêmio Jabuti. Foi um
dos poucos brasileiros indicados ao Prêmio Nobel de Literatura -em 1979.
Nascido em Ipueiras, no
Ceará, em 8 de janeiro de 1917,
estudou em seminário em
Congonhas do Campo (MG) e,
depois, em um convento em
Juiz de Fora (MG), onde
aprendeu holandês, latim e
grego. Ao longo da vida, viria a
falar nove idiomas.
Antes de se dedicar à produção literária, no entanto, deixou o convento, ingressou no
curso de direito (que não chegou a concluir) e se filiou à
Ação Integralista Brasileira
(AIB), movimento nacionalista, com traços de direita. Nessa
época, passou a se dedicar também ao jornalismo e a dar aulas
em vários colégios.
O envolvimento com o integralismo faria Mourão ser detido inúmeras vezes entre 11 de
maio de 1938 -quando participou com os camisas-verdes do
ataque ao Palácio Guanabara-
e 1945, ano do fim do Estado
Novo. Em 1942, acusado de colaborar com nazistas, foi condenado à morte -pena reduzida a 30 anos de prisão, dos
quais cumpriria menos de seis.
Em 1977, no livro "Suástica
sobre o Brasil", o brasilianista
Stanley Hilton acusaria o escritor de ter participado de uma
rede de espionagem nazista
no país.
Amigo próximo do escritor
francês Michel Deguy e do chileno Pablo Neruda, Mourão foi,
nos anos 60, professor de história e cultura da América na
Universidade Católica do Chile. Duas vezes deputado federal
por Alagoas, teve seus direitos
políticos cassados em 1969 pelo regime militar. Na década de
80, foi presidente da Rio Arte e
secretário de Cultura do Estado do Rio.
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