São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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Eclético, gênero baiano nasce da fusão de estilos

Sucesso de Luiz Caldas que inaugurou o gênero em 85 promoveu misturas inéditas

Experiente percussionista, Márcio Victor, do Psirico, tocou com Caetano Veloso e é apontado como um dos promissores nomes do axé


DA REPORTAGEM LOCAL

Chamado de gênero, o axé acaba por extrapolar os limites dessa designação.
"São diversos estilos musicais. É um tipo de repertório", defende o professor Milton Moura, da UFBA, que cita o Carnaval e a exaltação da identidade baiana até os anos 90 como os denominadores comuns da cena. "Tem canções de axé que são marchas, outras são próximas do samba dos blocos afros. Um reggae pode ser tocado como axé music", afirma.
"Ele é uma cena, não é um ritmo. É muita coisa, misturou-se muito", afirma o jornalista Osmar Martins. Para Daniela Mercury, o axé é uma vertente dançante da MPB, que bebeu no galope, no samba-reggae, no samba de roda e até no rock.
E esse sincretismo musical foi a base do primeiro sucesso do axé, "Fricote", do disco "Magia" (1985), de Luiz Caldas.
Na época, o cantor tocava em bailes da Bahia, "de Jackson Five a Pink Floyd", e dava seus primeiros passos no Carnaval. "Mas a música tocada era o frevo pernambucano e o galope ligado a São João. Eu não queria fazer uma coisa só", disse Caldas, 47, à Folha. O cantor então uniu sua bagagem de bailes aos ritmos do Carnaval. "Ele é o primeiro artista pop desse universo", diz Daniela, que prepara um documentário sobre os 25 anos do gênero.
Moura chama a atenção para o fato de Caldas, assim como Gerônimo, outro pioneiro do axé, continuar a lançar discos e a fazer shows na Bahia.
Já Martins argumenta que os dois, assim como Sara Jane (do sucesso "A Roda"), não conseguiram continuar em evidência justamente pelo seu pioneirismo. "A chamada segunda geração do axé, de Daniela, já pegou um mercado que estava se formando. Eles tiveram uma visão profissional e souberam se manter até hoje", diz. "A Bahia se profissionalizou", completa Ivete Sangalo.

Psirico
Entre novos nomes do gênero, Ivete cita as bandas Psirico, de Márcio Victor, e Parangolé, do hit "Rebolation", como nomes fortes do samba e pagode baiano. Lembra ainda do cantor Tomate, "uma grande voz e um showman", também citado por Martins, além de Mariana Assis, vocalista da Banda Mina.
Moura também destaca Márcio Victor e o Psirico. "Ele criou um tipo de bloco que é ao mesmo tempo axé music, pagode, groove, música eletrônica. Ele faz arranjos muito bem feitos, misturando tudo com tudo."
O vocalista tem uma longa carreira como percussionista na Bahia: tocou com Araketu, Timbalada, Daniela Mercury e Ivete Sangalo (na Banda Eva e no começo da carreira solo da cantora) e gravou disco de Carlinhos Brown. Por oito anos, fez parte da banda de Caetano Veloso. Participou de cinco discos do cantor e das respectivas turnês desses álbuns.
Márcio Victor, no entanto, acha que o Psirico pende mais para o pagode baiano do que para a axé music, confundindo as ainda mais tênues fronteiras da cena. "Eu me considero um sambista." (BRUNA BITTENCOURT)


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