São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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Mercado do disco cai com populares


Segundo associação de fabricantes, faturamento despencou de US$ 1,2 bi em 1997 para US$ 429 mi em 1999; desgaste de axé music e pagode contribuiu para a queda, afirma relatório


LUÍS PEREZ
da Reportagem Local

O desgaste de gêneros musicais como o pagode e o axé, que estiveram em alta até 1998, está levando consigo toda a indústria fonográfica nacional, que registrou, pelo segundo ano consecutivo, queda de vendas e faturamento.
Esses são alguns dos resultados que constam de relatório da ABPD (Associação Brasileira dos Produtores de Discos), divulgado na última semana. Enquanto em 1998 os brasileiros compraram 105,3 milhões de CDs, fitas cassete e -ainda- discos em vinil, no ano passado esse número caiu para cerca de 80 milhões.
Além da extenuação desses dois gêneros musicais, a associação atribui a queda ainda ao crescimento da oferta de música pela Internet, o MP3, e à pirataria. Segundo a ABPD, entre os artistas mais pirateados estão Amado Batista, Roberta Miranda, Zezé Di Camargo & Luciano, Daniel, Negritude Junior, É o Tchan, Banda Eva, Roberto Carlos e Leonardo.
O país ocupa, ao lado da China, o segundo lugar no ranking mundial da pirataria (veja quadro). A cada três discos comercializados, um é pirata. Com isso, o faturamento caiu, entre 1997 e 1999, de US$ 1,23 bilhão para US$ 429 milhões. Praticamente todas as fitas cassete comercializadas no país são de origem clandestina.
Todos esses fatores fazem com que o Brasil vá na contramão do mercado mundial, que registrou em 1998 um crescimento de 65% na venda de CDs, segundo o IFPI (International Federation of the Phonographic Industry). A América do Norte responde por 36,6% desse total. O faturamento mundial bateu nos US$ 38,7 bilhões.
No Brasil, segundo a associação, o mercado fonográfico é responsável por 66 mil empregos diretos e indiretos, com boa parcela ameaçada por esses fatores.

Discordância
Curiosamente, o próprio presidente da ABPD, Marcelo Castello Branco, 40, discorda do trecho do relatório que aponta enfraquecimento do pagode e do axé.
"Ocorre que a música brasileira se confirma plural. Assim, vários gêneros vão surgindo o tempo inteiro e coexistindo uns com os outros", afirma Castello Branco, presidente da gravadora Universal, que tem sob contrato vários artistas desses gêneros, como É o Tchan, Netinho, Ivete Sangalo, Raça Negra, além de sertanejos, como Roberta Miranda e o novo fenômeno Rionegro & Solimões.
Com o sertanejo, acontece um processo de revigoramento (leia texto ao lado), em parte impulsionado pelo desenvolvimento econômico do interior do país, sobretudo no Estado de São Paulo.
Segundo o presidente da ABPD, há projetos específicos que demandam atenção especial -e não queda e ascensão de artistas ou gêneros. "O Raça Negra vendeu 700 mil cópias no ano passado. Em 98, havia vendido 100 mil", diz, referindo-se ao grupo precursor do neopagode.
Ivete Sangalo, que explodiu em 98 com a Banda Eva, vendendo 2,4 milhões de cópias, está com 280 mil unidades de seu primeiro CD solo. "Também é outro problema de interpretação", afirma Marcelo Castello Branco.
"Aquele foi o grande momento da Ivete. Estamos satisfeitíssimos com ela, que está em plena fase de trabalho do novo disco. Depois da explosão, o disco seguinte da Banda Eva vendeu 400 mil. É injusto comparar um projeto especial ao vivo com um disco de estúdio."
É verdade que o disco ao vivo, que reúne os grandes sucessos, em geral vende mais. Só que não é regra. Prova é o novo fenômeno da música pop -a origem foi sertaneja-, Sandy & Junior.
Após ter vendido 450 mil do disco de 97, ter lançado um álbum ao vivo que alcançou 1,2 milhão, o mais recente trabalho, "Imortal", de 99, já está batendo no 1,5 milhão. Já os pagodeiros do Katinguelê, depois de vender 330 mil do CD de 1998, não passaram de 120 mil do disco gravado ao vivo.


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