São Paulo, segunda-feira, 10 de abril de 2000


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DOCUMENTÁRIO
"Saudade do Futuro", de Cesar Paes, radicado na França, é narrado por repentes e emboladas
"Estrangeiro" mostra o Nordeste em SP

Luiz Carlos Murauskas/Folha Imagem
O casal de cineastas Cesar Paes e Marie-Clémence Blan-Paes


DANIEL CASTRO
da Reportagem Local


Documentarista de relativo sucesso na Europa, mas desconhecido no Brasil, o carioca Cesar Paes, 44, quer chegar às salas de cinema do país com "Saudade do Futuro".
O filme abre hoje a quinta edição do festival de documentários É Tudo Verdade, com apresentação só para convidados no Cinesesc. Mais importante evento do gênero na América Latina, o É Tudo Verdade traz neste ano 104 filmes de 26 países. Acontece em São Paulo e no Rio de Janeiro até domingo (veja quadro com os destaques da programação).
O documentário terá sessões abertas ao público na sexta-feira, às 22h, no MIS, em São Paulo, e no domingo, às 19h30, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio.
O "estrangeiro" Paes -ele vive na França há 20 anos- também está negociando com a RioFilme sua exibição em circuito nacional.
"Saudade do Futuro" retrata a cultura nordestina em São Paulo, com a cidade e seu trânsito caótico como coadjuvantes.
Seus "heróis" são alguns ilustres, como a ex-prefeita Luiza Erundina, e muitos anônimos: os principais deles são a dupla de emboladores Sonhador e Peneira, descobertos na praça do Correio (centro), que pontuam todo o filme. A embolada e o repente fazem o papel de narradores na maior parte da película.
Paes filmou "Saudade do Futuro" entre maio e julho do ano passado. A produção custou cerca de R$ 500 mil e foi parcialmente financiada por emissoras de TV e bolsas de cinema da França, Bélgica, Suíça, Holanda e Portugal.
Ele diz que teve a idéia de fazer o filme em 92, quando documentou repentistas e violeiros no Nordeste. "Todos os repentistas falavam que sonhavam vir para São Paulo. Nossa idéia, ao enfocar a cultura nordestina, foi mostrar o que é totalmente nosso e que existe um desprezo por essa cultura. E São Paulo, dizem, é a maior cidade nordestina", afirma.
Paes pouco conhecia São Paulo, só de algumas viagens. Talvez por isso, e por morar no exterior, "Saudade do Futuro" apresente alguns clichês (embora reais) da cidade/nordestino: o pedreiro construindo prédios e o camelô no viaduto do Chá.
Ele nega, no entanto, que seja um filme para francês (vai ser exibido na TV paga da França em maio) e inglês (está sendo traduzido para a língua) verem. "A minha intenção é que os heróis do filme, os nordestinos, o vejam."
Mas se contradiz. "Até agora não houve um filme com essa poesia oral tão acessível ao estrangeiro", conta -na França, "Saudade do Futuro" terá os versos dos repentistas, com suas rimas, adaptados ao francês.
Além da TV paga, o filme será exibido em cinemas da França e da Suíça.
A maioria dos documentários de Paes já rodou toda a Europa ocidental. No Brasil, entretanto, eles tiveram breves passagens: "Aos Guerreiros do Silêncio" passou no Videobrasil de 92 e o elogiado "Ensopado de Awara-Dendê" foi exibido no É Tudo Verdade e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 97.
O nome "Saudade do Futuro" vem de um texto de Clarice Lispector e é citado em versos de Sonhador e Peneira. "Vivo na França, onde se olha para o passado. Aqui em São Paulo só se olha para o futuro", afirma. Os personagens não são identificados com legendas, de propósito, "para igualar todo mundo".


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