São Paulo, sábado, 10 de maio de 1997.



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TEATRO/CRÍTICA
Elias Andreato celebra a face sombria de Oscar Wilde

NELSON DE SÁ
da Reportagem Local

"Todo grande amor tem a sua tragédia, e agora o nosso também tem." A frase é de Oscar Wilde, na prisão, por seu amor.
É um Wilde bem diverso, o que surge de "Oscar Wilde", na montagem de Elias Andreato dirigida por Vivien Buckup. Não mais o dândi genial e irresponsável, da comédia "A Importância de Ser Prudente", para dar um exemplo leve e bem conhecido, mas o artista sombrio, místico, já beirando o rancor -não muito distante daquele que escreveu "Salomé".
No monólogo de menos de uma hora, o ator Elias Andreato expõe o gênio caído, inteiramente reprimido, guardado em sua cela. Ele foi condenado por seu homossexualismo, na Londres vitoriana, moralista, do final do século 19. É a tragédia de um grande amor, aliás também um amor traído.
Fechado, oprimido, ele questiona a sociedade, o governo, os amigos, as normas, mas está sem forças. Fala, apenas. "O público é maravilhosamente tolerante", escreveu então. "Ele perdoa tudo, menos a genialidade."
É ainda o gênio que está ali, cercado, mas sem o seu público, gritando as suas "one-liners", as suas frases antes demolidoras, para as paredes e as grades.
O espetáculo é baseado em grande parte em cartas do dramaturgo e romancista anglo-irlandês, também autor de "O Retrato de Dorian Gray", nos dois anos em que esteve preso -depois partiu para o exílio na França, e para a morte não muito tempo depois.
Elias Andreato, ator que já trabalhou a mesma forma, de maneira exuberante, em "Van Gogh", montagem baseada em cartas do pintor, não está tão vigoroso dessa vez. O tema e os textos que escolheu são certamente de maior tristeza e consternação, um grito consciente e brilhante de revolta, e não a insanidade genial e criativa da montagem anterior.
Ainda assim, está presente toda a delicadeza dos sentimentos, o aprofundamento no personagem. Oscar Wilde revelado, como muito se fala e escreve dele, naquele período, mas jamais visto.
Para tanto, a opção de duas pequenas salas, não de palco e platéia, não poderia ser mais feliz. A atmosfera é opressiva. A pequena cadeira, o varal para pendurar as meias, a parede desenhada e escrita, as grades da porta.
Andreato encontrou em Vivien Buckup, a diretora, uma parceira perfeita para esse seu gênero de teatro mínimo, preferencialmente profundo e detalhista a aparatoso.

Peça: Oscar Wilde Quando: sex a dom, às 21h30 Onde: Estúdio Cristina Mutarelli (av. Nove de Julho, 3.913, tel. 885-7454) Quanto: R$ 15


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