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TEATRO/CRÍTICA
Elias Andreato celebra a face sombria de Oscar Wilde
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
"Todo grande amor tem a sua
tragédia, e agora o nosso também
tem." A frase é de Oscar Wilde, na
prisão, por seu amor.
É um Wilde bem diverso, o que
surge de "Oscar Wilde", na montagem de Elias Andreato dirigida
por Vivien Buckup. Não mais o
dândi genial e irresponsável, da
comédia "A Importância de Ser
Prudente", para dar um exemplo
leve e bem conhecido, mas o artista sombrio, místico, já beirando o
rancor -não muito distante daquele que escreveu "Salomé".
No monólogo de menos de uma
hora, o ator Elias Andreato expõe
o gênio caído, inteiramente reprimido, guardado em sua cela. Ele
foi condenado por seu homossexualismo, na Londres vitoriana,
moralista, do final do século 19. É a
tragédia de um grande amor, aliás
também um amor traído.
Fechado, oprimido, ele questiona a sociedade, o governo, os amigos, as normas, mas está sem forças. Fala, apenas. "O público é
maravilhosamente tolerante", escreveu então. "Ele perdoa tudo,
menos a genialidade."
É ainda o gênio que está ali, cercado, mas sem o seu público, gritando as suas "one-liners", as suas
frases antes demolidoras, para as
paredes e as grades.
O espetáculo é baseado em grande parte em cartas do dramaturgo
e romancista anglo-irlandês, também autor de "O Retrato de Dorian Gray", nos dois anos em que
esteve preso -depois partiu para
o exílio na França, e para a morte
não muito tempo depois.
Elias Andreato, ator que já trabalhou a mesma forma, de maneira
exuberante, em "Van Gogh",
montagem baseada em cartas do
pintor, não está tão vigoroso dessa
vez. O tema e os textos que escolheu são certamente de maior tristeza e consternação, um grito
consciente e brilhante de revolta, e
não a insanidade genial e criativa
da montagem anterior.
Ainda assim, está presente toda a
delicadeza dos sentimentos, o
aprofundamento no personagem.
Oscar Wilde revelado, como muito se fala e escreve dele, naquele
período, mas jamais visto.
Para tanto, a opção de duas pequenas salas, não de palco e platéia, não poderia ser mais feliz. A
atmosfera é opressiva. A pequena
cadeira, o varal para pendurar as
meias, a parede desenhada e escrita, as grades da porta.
Andreato encontrou em Vivien
Buckup, a diretora, uma parceira
perfeita para esse seu gênero de
teatro mínimo, preferencialmente
profundo e detalhista a aparatoso.
Peça: Oscar Wilde
Quando: sex a dom, às 21h30
Onde: Estúdio Cristina Mutarelli (av. Nove
de Julho, 3.913, tel. 885-7454)
Quanto: R$ 15
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