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"Mundo reconhece modernismo brasileiro", diz membro do MoMA
DO ENVIADO A LONDRES
O diplomata e crítico de arquitetura André Correa do Lago diz
nesta entrevista à Folha que o
movimento modernista exagerou
na pretensão de resolver os problemas da humanidade.
Membro do Departamento de
Arquitetura do Museu de Arte
Moderna de Nova York, o MoMA, Correa do Lago é co-autor,
com Lauro Cavalcanti, diretor do
Paço Imperial, no Rio, do livro
"Ainda Moderno?" (ed. Nova
Fronteira), sobre a arquitetura
contemporânea brasileira.
(RJL)
Folha - O modernismo envelheceu mal, como escreveu Robert Hughes na imprensa britânica?
André Correa do Lago - O modernismo envelheceu porque não resolveu os problemas da humanidade como pretendia, o que era
pretensiosíssimo. Mas uma revisão permite detectar novas qualidades que antes eram descartadas. Esse novo olhar permite
apreciar o lado estético e até prático (quando não econômico) do
movimento, agora liberado do lado ideológico. Hughes até tem
certa razão ao criticar os conjuntos habitacionais do Le Corbusier.
Mas hoje muitos jovens querem
morar lá porque é "cool".
Folha - Qual a importância do modernismo no Brasil?
Correa do Lago - Foi a demonstração de que um país periférico
podia se inserir em um movimento internacional altamente sofisticado. Deixamos de ser colônia do
ponto de vista da arquitetura. Não
copiávamos mais modelos. Desenvolvíamos uma arquitetura
própria com bases teóricas importadas. Somos um dos raros
países do mundo no século 20
com uma arquitetura moderna
"nacional".
Os Prêmios Pritzker de Niemeyer e Paulo Mendes da Rocha
mostraram que o mundo reconhece a complexidade da nossa
arquitetura. Acho que só Japão,
Estados Unidos e algum europeu
já receberam dois Pritzker. Não
podemos deixar de valorizar isso.
Folha - Brasília fracassou? Os ricos ficaram com o Plano Piloto e os
pobres foram jogados em favelas
fora da cidade.
Correa do Lago - Na situação
econômica, social e demográfica
do Brasil, não haveria arquitetura
ou urbanismo que impedisse a
"divisão". Olhe para o passado.
Na Europa hoje, as áreas e construções então pobres nas cidades
medievais se transformaram em
habitações disputadas: olhe as cidades da Toscana, do sul da França, da Espanha... Foram as circunstâncias econômicas, sociais e
culturais que mudaram, aquilo
que a arquitetura não controla.
Folha - O sucesso do pseudoneoclássico, que mistura adornos gregos e franceses, é uma reação conservadora ao modernismo?
Correa do Lago - Justificou-se como reação aos erros do modernismo, mas uma coisa é conservadorismo arquitetônico inglês ou
francês de qualidade, outra coisa é
construção "neo-alguma-coisa"
no Brasil. O uso de formas chamadas "clássicas" exige muito conhecimento. Caso contrário se
transforma em pastiche ou simplesmente cafonice.
Folha - Por quê?
Correa do Lago - Pode-se entender que, em uma rua de Paris, um
arquiteto opte por usar materiais
e até elementos decorativos que
busquem evitar o choque entre o
edifício novo e aqueles que o circundam. Isso é a idéia de "contextualismo". Por acreditar firmemente na importância de fazer
uma arquitetura contemporânea,
acho que esse recurso não é o
ideal, pois há maneiras de ser contemporâneo e contextualista,
quando necessário.
Mas o que se vê muito em São
Paulo, por exemplo, é o uso de referências ao classicismo totalmente erradas. O classicismo é
uma linguagem: você tem de
aprender vocabulário e gramática. Esses edifícios em São Paulo
são um insulto, pois está tudo errado. É como escrever em uma
língua que não se domina. Esses
edifícios estão errados: têm erros
de ortografia, gramática, regência
no uso da linguagem clássica. Ou
seja, são patéticos.
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