São Paulo, terça-feira, 10 de maio de 2011

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Anthony McCall ganha retrospectiva em SP

Artista plástico inglês realizou alguns dos principais experimentos com imagem e movimento dos anos 1970

Fumaça usada nas obras, hoje produzida por máquinas, era gerada por cigarros na época de sua criação

FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

Como é possível fazer um filme que só aconteça uma vez? Como escapar de produzir uma obra artística que não represente nada e seja efêmera?
Foi a partir dessas questões um tanto paradoxais que o inglês Anthony McCall criou uma das mais instigantes obras dos anos 1970: "Line Describing a Cone" (linha que descreve um cone, em livre tradução).
Composta por um projetor que exibe o processo de criação de um círculo numa tela, em meio a um ambiente cheio de poeira e fumaça de cigarro, a obra, que deu origem à série "Solid Light Films" (filmes de luz sólida), cria no espaço um cone luminoso, que nunca é exatamente igual, já que as precárias condições para sua realização tampouco se repetem.
O trabalho, visto por poucos na época, é hoje um dos mais representativos exemplos dos experimentos com imagem e movimento daquele período e tem participado de várias mostras. Há dois anos, veio a São Paulo um trabalho derivado para o "Cinema Sim", no Itaú Cultural.
Os quase 20 anos que separam a criação de sua redescoberta representam também um hiato na carreira artística de McCall, que inaugura hoje uma retrospectiva de trabalhos na galeria Luciana Brito.
"Nos anos 1980, com a valorização da pintura, o mercado de arte afastou tudo o que era experimental", conta McCall, que então dedicou-se ao design de livros, em Nova York, onde está radicado desde aquela época.

VOLTA À CENA
Seu retorno à cena artística tem cerca de dez anos. Além de ter ocorrido porque os experimentos que o mercado de arte evitava há 20 anos hoje são bem-vindos nas galerias, como ocorre também com a performance, sua obra pode também ser realizada de maneira mais adequada.
"Foi na década de 1990 que surgiram as máquinas de fumaça e, com elas, pude fazer com que meus trabalhos de fato acontecessem", diz McCall. Há 30 anos, suas instalações necessitavam de poeira e fumaça de cigarro.
"Quando um museu comprava uma obra minha e a expunha, não acontecia nada, porque num museu não há sujeira nem se podia fumar", diz.
Além da emblemática "Line Describing a Cone", o artista apresenta um novo "solid light film" denominado "Meeting You Halfway" (2010), e mais desenhos, cadernos e filmes, tanto obras do início de sua carreira como atuais.
Os filmes são imperdíveis: representam a passagem de uma obra mais performática, em que artistas realizavam ações distintas, para uma reflexão mais pura sobre a imagem em movimento.

ANTHONY MCCALL

ONDE galeria Luciana Brito (r. Gomes de Carvalho, 842, tel. 0/xx/11/3842-0634)
QUANDO ter. a sáb., das 10h às 19h; até 18/ 6
QUANTO entrada franca
CLASSIFICAÇÃO livre


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