São Paulo, quinta, 10 de julho de 1997.



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90 dias depois da Globo, emissora de Silvio Santos põe no ar no fim do mês programas de apelo mais popular; empresa passa ainda por reestruturação interna radical; na mudança, Guilherme Stoliar e Luciano Callegari perdem poder
SBT muda programação e estrutura administrativa MAURICIO STYCER
da Reportagem Local


Com três meses de atraso em relação à Rede Globo, seu principal concorrente, o SBT estréia no próximo dia 28 de julho a sua nova programação de 1997 -na verdade, a segunda mudança drástica na chamada "grade" de horários que a emissora promove este ano.
Em comum, os novos programas parecem apostar no apelo ao chamado gosto popular.
A estréia de uma série de novos programas só no segundo semestre do ano, quando a praxe é levar as novidades ao ar até abril, não é o único sinal de confusão na emissora criada e comandada pelo apresentador Silvio Santos.
O SBT passa por um processo de reestruturação interna considerado radical, que vai resultar na criação de uma série de núcleos independentes (a princípio, sete), com autonomia de gerência, administração de pessoal e recursos.
Os dois mais conhecidos executivos do SBT, muito ligados a Silvio Santos, estão mudando de função e perdendo, segundo a Folha apurou, parte do poder que tinham.
Guilherme Stoliar, sobrinho de Silvio Santos, está deixando de ser vice-presidente da emissora (área financeira) para dirigir um dos novos núcleos. Luciano Callegari, superintendente artístico e operacional (responsável pela programação da emissora), passa a exercer funções de consultor do SBT.
O norte-americano Ricky Medeiros, que trabalha no SBT há muitos anos e fala bem o português, é hoje um dos nomes em alta na emissora. Ele opina tanto no processo de reengenharia quanto nas mudanças da programação.
A grade
A ordem e o horário dos programas do SBT a partir de 28 de julho (a "grade" da emissora, no jargão da TV) foram definidos na última sexta-feira por Silvio Santos e seus assessores. Em seguida, o empresário entrou de férias.
Em conversas informais com a reportagem da Folha, funcionários e ex-funcionários do SBT manifestaram a desconfiança generalizada de que essa nova grade pode sofrer ainda muitas alterações.
Sob o compromisso de não terem os seus nomes revelados, essas pessoas relatam que Silvio Santos adota, às vezes, uma forma intempestiva e errática de gestão.
Há programas, como os de Serginho Groisman e Boris Casoy, que mudaram de horário mais de 20 vezes em alguns anos.
A história da emissora está repleta de programas que foram ao ar durante dois ou três meses -há até o caso de um jornalístico exibido por apenas três semanas.
Na semana passada, o programa "Jornal do SBT", que era apresentado por Leila Cordeiro e Eliakim Araújo, saiu do ar. Ninguém na emissora sabe informar se o programa voltará a ser exibido. A surpreendente justificativa oficial é que os dois estão de férias.
Aposta no popular
Os novos programas e os horários escolhidos para eles (veja quadro) mostram uma mudança radical nas apostas do SBT.
O jornalístico "Aqui Agora", que trocou de horário sete vezes em um ano e depois foi extinto, por se julgar que a sua fórmula estava esgotada, volta a ser exibido, agora apresentado por Ney Gonçalves Dias, que comandava um programa concorrente na Record.
O "TJ Brasil", que era dirigido por Boris Casoy e respondia por cerca de 10% do faturamento da emissora, foi rebaixado para um horário de pouco prestígio, 18h30, e continua sem definição sobre quem vai apresentá-lo e dirigi-lo.
O programa infantil "Disney Club", hoje exibido às 18h, será promovido para o horário das 19h, e será seguido por "Chiquititas", novela brasileira, importada da Argentina e com clara inspiração mexicana.
A aposta numa programação com apelo mais popular, deixando em segundo plano a programação dita "séria" e de "prestígio", representada em particular pelo "TJ Brasil", está sendo reforçada pelo perfil dos novos programas.
"Marcia", apresentado por Marcia Goldschmidt, proprietária de uma agência de matrimônios, se inspira em "Ricki Lake", um programa de auditório norte-americano popularesco.
"Concurso de Paródias" recoloca em cena mais uma vez o apresentador Moacyr Franco, num programa que, como diz o nome, vai tentar fazer rir com imitações.
A própria saída de Boris Casoy da emissora teve origem num episódio que revela a estratégia de Silvio Santos. Como Casoy não apresentava o "TJ Brasil" aos sábados, o empresário disse que gostaria de alterar o programa neste dia, colocando Eliakim Araújo e Leila Cordeiro como apresentadores.
Casoy respondeu que a entrada do "casal 20" (como Leila e Eliakim são chamados até mesmo por Silvio Santos) no seu horário, aos sábados, significava uma quebra de compromissos. "É como um assinante da Folha, em vez de receber o jornal, receber o 'Notícias Populares' aos domingos", teria dito Casoy a Silvio Santos.
O empresário disse a Casoy que considerava o "TJ Brasil" muito sério -o que o jornalista entendeu como crítica, mas que Silvio Santos, numa segunda conversa, um mês depois, disse ter sido um elogio. Na segunda conversa, Casoy formalizou a sua saída do SBT.
Interferência
A saída de Boris Casoy do SBT gerou uma espécie de anedota na emissora, contada por Guilherme Stoliar e Luciano Callegari.
Os dois dizem que enquanto Casoy tratava com eles de todos os assuntos relacionados ao "TJ", o jornalista não tinha problemas no SBT. No momento em que Silvio Santos disse "deixa comigo", Casoy saiu da emissora.
A participação de Silvio Santos nesse episódio é fruto de uma mudança radical na maneira de o empresário atuar na emissora.
Até três meses atrás, Santos não participava da gestão financeira (função de Stoliar) e opinava à distância (por meio de Callegari) sobre a programação. Agora, resolveu assumir as duas funções.
A reestruturação interna parece obedecer a uma vontade de aumentar os níveis de controle e diminuir os desperdícios internos.
Cada um dos novos núcleos (chamados internamente, inclusive por diretores, de "lojinhas" ou "lojas") terá os seus próprios departamentos administrativo, financeiro e de pessoal, além de metas e orçamentos próprios.
Todos os diretores de "loja" vão se reportar a Luis Sebastião Sandoval, hoje presidente da holding que cuida dos variados negócios do empresário Silvio Santos.
Não há ainda uma definição exata sobre quais serão as "lojas", mas fala-se na emissora em sete.
As principais seriam: uma para cuidar da rede e das relações com as emissoras afiliadas, uma para novelas, uma para jornalismo, uma outra para as produções realizadas na sede da emissora, na via Anhanguera, e uma outra para as produções gravadas fora da sede, como as de Hebe Camargo, Gugu Liberato e Silvio Santos.
O fato de Silvio Santos até hoje gravar o seu programa num velho estúdio, quando dispõe de uma sede nova e moderna (apelidada internamente de "palácio do faraó"), gera muitos boatos e rumores dentro do SBT.
Especula-se que o empresário não gosta da sede da Anhanguera e que teria sido contra a sua construção. Oficialmente, a emissora informa que até o final do ano Silvio Santos vai gravar o seu programa na Anhanguera.



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