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RELÂMPAGOS
Vias aéreas
JOÃO GILBERTO NOLL
Quando ela entrou no recinto de olhares pedregosos,
no interior daquele prédio escuro e maltratado, parecendo
uma loja de quinquilharias,
percebeu que caíra numa séria cilada. O vivo no ambiente
era apenas o movimento custoso de algumas pálpebras.
Tinha o bebê que vez ou outra
demonstrava a dissonância
aflita da respiração. Tudo
úmido. Ela, que tanto cobiçava acordar um dia em outra
circunstância que não a sua
de costume, agora não podia
evitar a memória clara de sua
cozinha matutina, dois ou
três farelos no chão. De joelhos, catava um a um. Então
arrancou o gelado bebê do recôncavo trevoso. Fugiu. No
claro, como que sugou a face
inteira da criança. Sentiu na
boca o insuportável líquido
pastoso. E viu que o bebê respirava livre enfim, adormecia.
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