São Paulo, sábado, 10 de julho de 2004

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2ª FLIP

Presença de personalidades famosas na cidade cresce, mas público "que entende do assunto" permanece sendo a maioria

Festa de Parati resiste à "celebrização"

DOS ENVIADOS A PARATI

A presença de Gugu Liberato na cidade, no início da semana, emitiu um sinal de que a transformação da Flip num evento pop-celebridade era inevitável. Mas o sinal ainda não se confirmou. Apesar de, visivelmente, a festa ter aumentado bastante de tamanho, a literatura continua sendo o atrativo predominante para o público.
"A maior parte das pessoas que passam por aqui sabem do que tratam as palestras e conhecem literatura", atesta o belga (radicado em Parati há 11 anos) Marc Buyse, um dos responsáveis por receber o público na entrada da Tenda dos Autores. Na recepção, faz-se outra constatação: os estrangeiros são radical minoria na platéia, já que menos de 10% dos fones disponíveis para tradução simultânea têm sido requisitados.
Estela dos Santos Abreu, 72, confirma a tese de Buyse. Ela é tradutora, vive da literatura e integra a platéia da Flip por achar que em Parati altera-se a relação com os livros. "Aqui o prazer de ler é despertado ou renovado de uma forma intensa, como o dia-a-dia das grandes cidades não está deixando", acredita ela, entusiasmada com a grande quantidade de jovens na fila para assistir a Sérgio Sant'Anna e Luiz Vilela.
A editora paulista Margarida Cintra Gordim, 62, comunga do entusiasmo de Abreu em relação aos jovens e da paixão pelos livros. "São Paulo tem muita coisa. Aqui tem essa coisa. Tudo se volta para a literatura", comemora.
É a mesma impressão de Marco Unjidos, 37, vendedor da loja da Livraria da Vila montada em Parati. "As pessoas conhecem os autores, trocam informações conosco e não compram só os livros óbvios", diz ele, que vendeu todos os exemplares que tinha de "O Ano em que Zumbi Tomou o Rio" depois que Caetano Veloso exaltou longamente a obra do angolano José Eduardo Agualusa.
Estudantes de letras em Juiz de Fora, Nathália Costa, 18, e Bárbara Pessoa, 18, se despencaram até Parati para ter a oportunidade rara de ver de perto ídolos como Lygia Fagundes Telles e Luis Fernando Verissimo.
Estão numa ala numerosa da platéia da Flip: a dos jovens que, candidatos a escritores ou não, são aficionados pelos livros. É a ala a que se filiam Nayara Peres e suas três amigas estudantes egressas de São Paulo, embora a preferência declarada por Chico Buarque e Arnaldo Antunes traia um certo gosto extraliterário.
"Ter contato com esses escritores aqui é uma oportunidade rara, mas poderiam oferecer mais facilidades para os estudantes, como mais descontos, um refeitório e um albergue", diz Peres, 19.
Queixas como essas não têm sido muito ouvidas em Parati, o que já é um contraste em relação à Flip de 2003, quando era comum testemunhar pessoas reclamando de falta de ingressos e informação. Duas tendas grandes, 22 recepcionistas e catracas eletrônicas nas entradas das palestras são ícones de um reforço na infra-estrutura da festa.
"Nós demos uma margem de segurança para tudo. Se diziam que bastavam três catracas, pedíamos seis", exemplifica Belita Cermelli, diretora executiva da Flip, enquanto recebia alguns elogios pela organização. "O evento cresceu, mas não ficou claustrofóbico. Agora vamos poder avaliar qual é o tamanho ideal dele."
Quanto ao número de participantes da festa deste ano, a produção ainda não chegou a um resultado. Mas os 8.000 leitos das pousadas da cidade estão ocupados e há muitas casas servindo de abrigo temporário. Como a prefeitura avaliou em 12 mil o número de visitantes do ano passado, é certo que a marca de 2004 será maior.
Já quanto ao perfil do público, os organizadores da Flip acreditam que terão uma noção pouco depois que a festa acabar. Os formulários que vêm sendo entregues ao público das tendas será tabulado, para se descobrir o que predomina em termos de faixa etária, renda e preferências literárias dos espectadores.
A confiança de que o aumento da Flip não vai desvirtuar seu foco literário não exclui, no entanto, o lado "Ilha de Caras". Cantores e atores como Fafá de Belém, Marina Lima e Regina Casé têm circulado e dado autógrafos pela cidade. E hoje tem Chico Buarque. Mas Gugu já foi embora.
(CEM e LFV)


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