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2ª FLIP
Presença de personalidades famosas na cidade cresce, mas público "que entende do assunto" permanece sendo a maioria
Festa de Parati resiste à "celebrização"
DOS ENVIADOS A PARATI
A presença de Gugu Liberato na
cidade, no início da semana, emitiu um sinal de que a transformação da Flip num evento pop-celebridade era inevitável. Mas o sinal
ainda não se confirmou. Apesar
de, visivelmente, a festa ter aumentado bastante de tamanho, a
literatura continua sendo o atrativo predominante para o público.
"A maior parte das pessoas que
passam por aqui sabem do que
tratam as palestras e conhecem literatura", atesta o belga (radicado
em Parati há 11 anos) Marc Buyse,
um dos responsáveis por receber
o público na entrada da Tenda
dos Autores. Na recepção, faz-se
outra constatação: os estrangeiros
são radical minoria na platéia, já
que menos de 10% dos fones disponíveis para tradução simultânea têm sido requisitados.
Estela dos Santos Abreu, 72,
confirma a tese de Buyse. Ela é
tradutora, vive da literatura e integra a platéia da Flip por achar que
em Parati altera-se a relação com
os livros. "Aqui o prazer de ler é
despertado ou renovado de uma
forma intensa, como o dia-a-dia
das grandes cidades não está deixando", acredita ela, entusiasmada com a grande quantidade de
jovens na fila para assistir a Sérgio
Sant'Anna e Luiz Vilela.
A editora paulista Margarida
Cintra Gordim, 62, comunga do
entusiasmo de Abreu em relação
aos jovens e da paixão pelos livros. "São Paulo tem muita coisa.
Aqui tem essa coisa. Tudo se volta
para a literatura", comemora.
É a mesma impressão de Marco
Unjidos, 37, vendedor da loja da
Livraria da Vila montada em Parati. "As pessoas conhecem os autores, trocam informações conosco e não compram só os livros óbvios", diz ele, que vendeu todos os
exemplares que tinha de "O Ano
em que Zumbi Tomou o Rio" depois que Caetano Veloso exaltou
longamente a obra do angolano
José Eduardo Agualusa.
Estudantes de letras em Juiz de
Fora, Nathália Costa, 18, e Bárbara
Pessoa, 18, se despencaram até
Parati para ter a oportunidade rara de ver de perto ídolos como
Lygia Fagundes Telles e Luis Fernando Verissimo.
Estão numa ala numerosa da
platéia da Flip: a dos jovens que,
candidatos a escritores ou não,
são aficionados pelos livros. É a
ala a que se filiam Nayara Peres e
suas três amigas estudantes egressas de São Paulo, embora a preferência declarada por Chico Buarque e Arnaldo Antunes traia um
certo gosto extraliterário.
"Ter contato com esses escritores aqui é uma oportunidade rara,
mas poderiam oferecer mais facilidades para os estudantes, como
mais descontos, um refeitório e
um albergue", diz Peres, 19.
Queixas como essas não têm sido muito ouvidas em Parati, o que
já é um contraste em relação à Flip
de 2003, quando era comum testemunhar pessoas reclamando de
falta de ingressos e informação.
Duas tendas grandes, 22 recepcionistas e catracas eletrônicas nas
entradas das palestras são ícones
de um reforço na infra-estrutura
da festa.
"Nós demos uma margem de
segurança para tudo. Se diziam
que bastavam três catracas, pedíamos seis", exemplifica Belita Cermelli, diretora executiva da Flip,
enquanto recebia alguns elogios
pela organização. "O evento cresceu, mas não ficou claustrofóbico.
Agora vamos poder avaliar qual é
o tamanho ideal dele."
Quanto ao número de participantes da festa deste ano, a produção ainda não chegou a um resultado. Mas os 8.000 leitos das
pousadas da cidade estão ocupados e há muitas casas servindo de
abrigo temporário. Como a prefeitura avaliou em 12 mil o número de visitantes do ano passado, é
certo que a marca de 2004 será
maior.
Já quanto ao perfil do público,
os organizadores da Flip acreditam que terão uma noção pouco
depois que a festa acabar. Os formulários que vêm sendo entregues ao público das tendas será
tabulado, para se descobrir o que
predomina em termos de faixa
etária, renda e preferências literárias dos espectadores.
A confiança de que o aumento
da Flip não vai desvirtuar seu foco
literário não exclui, no entanto, o
lado "Ilha de Caras". Cantores e
atores como Fafá de Belém, Marina Lima e Regina Casé têm circulado e dado autógrafos pela cidade. E hoje tem Chico Buarque.
Mas Gugu já foi embora.
(CEM e LFV)
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