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Roskilde se rende ao Arctic Monkeys
Banda britânica é destaque de festival na Dinamarca, ofuscando americanos do Killers; ambas estarão no Tim Festival
Enquanto Monkeys tentam aproveitar a simplicidade, Killers abusam do aparato cênico, da pretensão musical e do discurso vazio
THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A ROSKILDE
(DINAMARCA)
A norte-americana The Killers e a inglesa Arctic Monkeys
são duas bandas com algumas
características em comum. São
relativamente novas; viraram
grandes já com seus primeiros
discos; lançaram há pouco os
segundos discos; a cada passo
que dão, ganham destaque
enorme na mídia. A penúltima
semelhança é que ambas tocaram no Festival de Roskilde,
encerrado anteontem na Dinamarca; a última: ambas se apresentam no Tim Festival, em
São Paulo, Rio e Curitiba, no final de outubro.
Agora, depois de Roskilde, é
bem difícil encontrar duas bandas tão diferentes entre si
quanto elas.
O palco do Killers tem decoração excessiva, com cenário
montado para lembrar um musical norte-americano. Há muitas flores; um teclado exibe um
"welcome" em néon; lâmpadas
por todos os lados. O palco do
Arctic Monkeys é pelado. Nada.
Não colocam nem uma cartolina com o nome da banda.
O visual dos quatro garotos
do Killers é todo produzido. O
guitarrista Dave Keuning ostenta uma cabeleira bem tratada; o vocalista, o mórmon Brandon Flowers, com seu bigode
canastrão, veste roupa retrô
cintilante -parece um crooner
de baile de cruzeiro.
Já o visual dos quatro garotos
do Arctic Monkeys é nada produzido. Usam surradas camisas-pólo, e as espinhas exibidas
pelo telão mostram que o vocalista, Alex Turner, acabou de
sair da adolescência.
No palco, os músicos do Killers dão a impressão de ter ensaiado direitinho seus movimentos. Keuning, o guitarrista,
faz pose de "guitar hero"; os
braços de Flowers parecem comandar uma orquestra. Eles levam tudo bem a sério. Os músicos do Arctic Monkeys comportam-se como se estivessem
ensaiando. Dão risada e brincam um com o outro, emendam
uma música na outra, não há
espaço para excessos.
As músicas do Killers são
compostas como hinos, para
serem cantadas em grandes
arenas. Não importa que as letras sejam "nonsense", vazias.
As músicas do Arctic Monkeys tratam de situações do cotidiano jovem, como idas a
pubs, encrencas com os amigos.
O vocal de Turner é rápido e
quebrado, influenciado por vocalistas do grime (espécie de
rap eletrônico britânico).
No show dinamarquês, uma
música emblemática do Killers
é o cover de "Shadowplay", do
Joy Division. Diferentemente
da original -intensa, dramática-, a versão do Killers é opaca,
rasa. Uma música emblemática
do Arctic Monkeys é "When
the Sun Goes Down", que começa à capela e se transforma
em um punk torrencial.
Canções do segundo álbum
do Killers, "Sam's Town"
(2006), como "For Reasons
Unknown", e "Read My Mind",
são musicalmente grandiosas.
Canções do segundo disco do
Arctic Monkeys, "Favourite
Worst Nightmare" (2007), como "Brianstorm" e "Fluorescent Adolescent", são diretas,
secas, um baque que o público
recebe com gosto.
Conservadorismo
Pouco antes de seu show,
Keuning deu entrevista a jornalistas brasileiros. E falou sobre as ambições do Killers.
"Adoraria ser uma banda como
o U2, fazer álbuns respeitáveis
por muitos anos. Sempre quisemos ser uma banda grande."
Refuta a idéia de que a banda
seja politicamente conservadora -há algum tempo, Brandon
Flowers criticou grupos como
Green Day, que fez um disco
criticando George W. Bush.
"Acho que: 1) Brandon deveria ficar quieto algumas vezes;
2) na banda há pessoas com visões diferentes de política.
Brandon não é de direita, ele
apenas quer exaltar as qualidades dos EUA. Não estou orgulhoso com nosso presidente,
mas muita gente hoje fala muito mal dos EUA e dos americanos. Brandon tenta apenas defender nosso país."
Pouco antes de seu show, o
baterista do Arctic Monkeys,
Matt Helders, deu entrevista a
jornalistas brasileiros. E falou
sobre o que espera de seu grupo. "Temos apenas 21 anos, ainda estamos no segundo álbum,
há muita coisa pela frente."
Contou que torce para o
Sheffield Wednesday e que
acha que o principal apelo da
banda são as letras coloquiais.
"Quanto mais as pessoas conhecem as letras, mais se interessam pela banda."
O show do Killers no Festival
de Roskilde aconteceu na quinta, no meio de uma das maiores
chuvas já testemunhadas na
Dinamarca, segundo jornais locais. O show do Arctic Monkeys
aconteceu no domingo, e tinha
gente usando protetor solar.
O jornalista THIAGO NEY viajou a Roskilde a
convite do Tim Festival
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