São Paulo, terça-feira, 10 de julho de 2007

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Roskilde se rende ao Arctic Monkeys

Banda britânica é destaque de festival na Dinamarca, ofuscando americanos do Killers; ambas estarão no Tim Festival

Enquanto Monkeys tentam aproveitar a simplicidade, Killers abusam do aparato cênico, da pretensão musical e do discurso vazio

THIAGO NEY
ENVIADO ESPECIAL A ROSKILDE
(DINAMARCA)

A norte-americana The Killers e a inglesa Arctic Monkeys são duas bandas com algumas características em comum. São relativamente novas; viraram grandes já com seus primeiros discos; lançaram há pouco os segundos discos; a cada passo que dão, ganham destaque enorme na mídia. A penúltima semelhança é que ambas tocaram no Festival de Roskilde, encerrado anteontem na Dinamarca; a última: ambas se apresentam no Tim Festival, em São Paulo, Rio e Curitiba, no final de outubro.
Agora, depois de Roskilde, é bem difícil encontrar duas bandas tão diferentes entre si quanto elas.
O palco do Killers tem decoração excessiva, com cenário montado para lembrar um musical norte-americano. Há muitas flores; um teclado exibe um "welcome" em néon; lâmpadas por todos os lados. O palco do Arctic Monkeys é pelado. Nada. Não colocam nem uma cartolina com o nome da banda.
O visual dos quatro garotos do Killers é todo produzido. O guitarrista Dave Keuning ostenta uma cabeleira bem tratada; o vocalista, o mórmon Brandon Flowers, com seu bigode canastrão, veste roupa retrô cintilante -parece um crooner de baile de cruzeiro.
Já o visual dos quatro garotos do Arctic Monkeys é nada produzido. Usam surradas camisas-pólo, e as espinhas exibidas pelo telão mostram que o vocalista, Alex Turner, acabou de sair da adolescência.
No palco, os músicos do Killers dão a impressão de ter ensaiado direitinho seus movimentos. Keuning, o guitarrista, faz pose de "guitar hero"; os braços de Flowers parecem comandar uma orquestra. Eles levam tudo bem a sério. Os músicos do Arctic Monkeys comportam-se como se estivessem ensaiando. Dão risada e brincam um com o outro, emendam uma música na outra, não há espaço para excessos.
As músicas do Killers são compostas como hinos, para serem cantadas em grandes arenas. Não importa que as letras sejam "nonsense", vazias. As músicas do Arctic Monkeys tratam de situações do cotidiano jovem, como idas a pubs, encrencas com os amigos. O vocal de Turner é rápido e quebrado, influenciado por vocalistas do grime (espécie de rap eletrônico britânico).
No show dinamarquês, uma música emblemática do Killers é o cover de "Shadowplay", do Joy Division. Diferentemente da original -intensa, dramática-, a versão do Killers é opaca, rasa. Uma música emblemática do Arctic Monkeys é "When the Sun Goes Down", que começa à capela e se transforma em um punk torrencial.
Canções do segundo álbum do Killers, "Sam's Town" (2006), como "For Reasons Unknown", e "Read My Mind", são musicalmente grandiosas. Canções do segundo disco do Arctic Monkeys, "Favourite Worst Nightmare" (2007), como "Brianstorm" e "Fluorescent Adolescent", são diretas, secas, um baque que o público recebe com gosto.

Conservadorismo
Pouco antes de seu show, Keuning deu entrevista a jornalistas brasileiros. E falou sobre as ambições do Killers. "Adoraria ser uma banda como o U2, fazer álbuns respeitáveis por muitos anos. Sempre quisemos ser uma banda grande." Refuta a idéia de que a banda seja politicamente conservadora -há algum tempo, Brandon Flowers criticou grupos como Green Day, que fez um disco criticando George W. Bush.
"Acho que: 1) Brandon deveria ficar quieto algumas vezes; 2) na banda há pessoas com visões diferentes de política. Brandon não é de direita, ele apenas quer exaltar as qualidades dos EUA. Não estou orgulhoso com nosso presidente, mas muita gente hoje fala muito mal dos EUA e dos americanos. Brandon tenta apenas defender nosso país."
Pouco antes de seu show, o baterista do Arctic Monkeys, Matt Helders, deu entrevista a jornalistas brasileiros. E falou sobre o que espera de seu grupo. "Temos apenas 21 anos, ainda estamos no segundo álbum, há muita coisa pela frente."
Contou que torce para o Sheffield Wednesday e que acha que o principal apelo da banda são as letras coloquiais. "Quanto mais as pessoas conhecem as letras, mais se interessam pela banda."
O show do Killers no Festival de Roskilde aconteceu na quinta, no meio de uma das maiores chuvas já testemunhadas na Dinamarca, segundo jornais locais. O show do Arctic Monkeys aconteceu no domingo, e tinha gente usando protetor solar.


O jornalista THIAGO NEY viajou a Roskilde a convite do Tim Festival


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