São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 2008
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Esse seu olhar
Maria Fernanda Cândido, premiada como Capitu no cinema, volta a ser a heroína de "olhos de ressaca" em série da Globo
LAURA MATTOS DA REPORTAGEM LOCAL Por que Maria Fernanda Cândido foi, de novo, escalada para interpretar Capitu, a heroína dos "olhos de ressaca, de cigana dissimulada", considerada a maior personagem feminina da literatura brasileira? Luiz Fernando Carvalho, diretor da adaptação do clássico "Dom Casmurro" para a nova microssérie da Globo, não tem dúvidas: "Maria Fernanda é Capitu. Não importa o que fez antes, ou o que fará depois. Basta olhar para ela e você verá Capitu", responde à Folha. Foi o que pensou o cineasta Moacyr Góes quando teve a idéia de um longa-metragem inspirado na obra de Machado de Assis. "Nunca tive dúvidas de que Maria Fernanda seria Capitu. Ela tem os olhos de ressaca, um olhar que arrebata e pode afogar quem se sinta atraído por esse mar", diz. "Dom" (2003), apesar de defenestrado pela crítica e ignorado pelo público, rendeu a ela o prêmio de melhor atriz no Festival de Cinema de Gramado. Ela fica sem graça quando estão em pauta seus marcantes olhos verdes, levemente puxados. Mas admite estar estudando a melhor forma de transformá-los em uma das principais ferramentas para dar vida a Capitu na microssérie, que começa a gravar na próxima semana. "O olhar é certamente um elemento forte na obra, e já estou estudando formas de interpretá-lo", diz Maria Fernanda. Na sessão de fotos para esta reportagem, em São Paulo, ficou claro que, ao menos nesse quesito, a atriz não terá dificuldades no papel. Ex-modelo, ela mira a câmera com um olhar de deixar Bentinho transtornado. A escritora Ana Maria Machado, que abordou a intrigante personagem no livro "A Audácia Desta Mulher", acredita que a dupla escalação de Maria Fernanda como Capitu esteja relacionada "à sua beleza, que não é superficial, de bonitinha vaidosa, mas de quem olha o mundo querendo enxergar o outro". "Como Capitu, ela tem curiosidade intelectual. Não sei nada da vida de Maria Fernanda, mas ouso dizer que fez faculdade e até pós-graduação." Meio certo. Maria Fernanda se formou em terapia ocupacional pela USP, mas não fez pós-graduação. Ainda na faculdade, após deixar de lado as atividades de modelo, se envolveu com a carreira de atriz. Estreou na TV como VJ da MTV, em 1996. No ano seguinte, ficou famosa como a moça que corria na abertura da novela "A Indomada", da Globo. Em 1999, teve seu primeiro papel de destaque, em "Terra Nostra". Mas Maria Fernanda vive envolvida com a academia (não só a de ginástica). Ela é uma das sócias-fundadoras da Casa do Saber, centro com unidades em São Paulo e Rio que promove debates e cursos com professores "estrelados", como o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa. Freqüentado majoritariamente pela elite, já foi apelidado de "Daslusp", referência à Daslu, templo do consumo de luxo. "Ninguém fala dos cursos que damos gratuitamente a professores do Estado e dos 5% de vagas reservados a universitários. Mas podem falar, falar e falar. A Casa do Saber está muito bem, obrigada, e esse trabalho junto a uma classe social mais alta é tão fundamental quanto a um com menos favorecidos. É um conteúdo que pode interferir na forma como as pessoas pensam a sociedade", diz Maria Fernanda. Traiu? De volta a Capitu, ela conta ter lido "Dom Casmurro" pela primeira vez no colegial e ficado "com a impressão de que ela traiu Bento". Já na segunda, um pouco mais velha, achou "que ele é que era louco". Agora, em leitura "mais aprofundada", percebeu "que a obra não trata da traição". Concorda com a definição de Luiz Fernando Carvalho de que é "um ensaio sobre a dúvida". A Globo deve definir nos próximos dias a data de estréia da microssérie, de cinco capítulos. Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Figurino de época oculta a gravidez Índice |
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