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MOSTRAS
Terapia dialoga com arte
Guilleminot
reúne obra e
espectador
CELSO FIORAVANTE
enviado especial a Münster
A artista plástica Marie-Ange
Guilleminot, 36, não está na mostra alemã Documenta, em Kassel,
mas passou bem perto.
A francesa tem um trabalho no
evento "Sculpture Project", na
também alemã cidade de Münster,
e ainda comparece à bienal de Veneza, curada por Germano Celant.
Guilleminot ganhou "menção de
honra" em Veneza por "instaurar
uma nova relação com o público,
que é envolvido na realização do
trabalho e na descoberta muito inventiva dos objetos", segundo a
bienal.
Conceitualmente, porém, é possível dizer que a artista está mais na
Documenta que nas mostras concorrentes no verão europeu.
Curada pela também francesa
Catherine David, a quinquenal
mostra alemã priorizou produções
que privilegiassem a relação do espectador com os espaços (públicos, privados, na mídia) e com a
própria obra, que questionassem
categorias preestabelecidas pelo
mercado e que pervertessem os
papéis e os espaços reservados à
obra de arte.
Partindo desses pressupostos, a
inclusão da artista brasileira Lygia
Clark (1920-1988) em Kassel não
foi uma surpresa, já que ela se encaixa em todas essas categorias.
Também não seria estranha a inclusão de Guilleminot, que se
mostra como uma seguidora de alguns conceitos pregados pela brasileira.
Na última fase de sua carreira,
nos anos 70, Clark passou a se dedicar à criação de seus "Objetos
Relacionais", que ela usava em
sessões de terapia e que privilegiavam as funções terapêuticas às
funções estéticas.
Para Marie-Ange Guilleminot, o
contato físico do espectador com a
obra também é uma necessidade
vital. Em Münster, por exemplo,
apresenta um ambiente fechado de
madeira com buracos onde espectadores podem colocar os pés para
que sejam massageados, sem perderem a individualidade e livres da
observação, em um espaço de segredo e troca.
Outra obra sua, "Chapéu-Vida"
(foto acima), foi criada para um
amigo que costumava bater a cabeça em vários lugares. Longe de
sua função prática, o objeto ganhava ainda uma vida estética. Em
Veneza, apresentou uma série de
objetos criados com funções cotidianas e corporais criadas a partir
de meias femininas de seda.
Sua preocupação é investigar a
relação das pessoas com o espaço e
como isso pode influenciar a formação do Eu, aquilo que a psicanalista Suely Rolnik, estudiosa da
obra de Clark, chama de "construção da subjetividade".
A obra de Guilleminot não exige
contemplação, mas uso. Não é o
olhar viciado, mas novas atitudes
que determinarão a relação com o
objeto de arte.
A Documenta não descartou casos semelhantes ao do artista e esquizofrênico-paranóico Bispo do
Rosario (leia texto abaixo).
Selecionou trabalhos de artistas
que vivem em instituições clínicas
ou penais sob a supervisão das irmãs gêmeas austríacas Christine e
Irene Hohenbüchler. A sala está ao
lado da de Lygia Clark.
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