São Paulo, quinta, 10 de julho de 1997.



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NO PALCO
'Labirinto' associa loucura à criação

FERNANDO OLIVA
da Redação

Loucura e arte também interagem no teatro. "Labirinto", peça inédita que estréia hoje na Jornada Sesc de Teatro, leva ao palco a esquizofrenia criativa de Arthur Bispo do Rosario, paciente da Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio, por cerca de 50 anos.
Dirigido pela coreógrafa e bailarina Márcia Bozon, o espetáculo relaciona os textos bordados por Bispo em suas obras à temática de "Galáxias", livro de poesias de Haroldo de Campos.
"Labirinto" retrata o trabalho compulsivo do artista (diagnosticado como esquizofrênico-paranóico pelos médicos do hospício) na construção de seu "quarto-forte", usando objetos do cotidiano. "No decorrer da peça, Bispo não pára de trabalhar na ampliação de sua cela", afirma Bozon.
A idéia de dirigir "Labirinto" surgiu quando ela fazia um trabalho acadêmico que relacionava a loucura à criatividade. "A mesma energia que produz a loucura pode ser canalizada para a criação. Tanto uma quanto a outra envolvem certo descontrole e surgem da mesma fonte."
Compulsão
Segundo a diretora, a trajetória do artista na peça (interpretado pelo ator Augusto Pompeu) também funciona como metáfora da passagem do tempo.
Arthur Bispo produzia compulsivamente e, conforme aumentava a quantidade de obras, precisava de outras salas no núcleo Ulisses Viana, divisão da Colônia ocupada por ele. "Eu tenho a sensação que só uma pessoa não conseguiria produzir aquilo tudo em uma única vida", diz Bozon. "Ele tinha uma relação atemporal com a existência. Não havia passado nem futuro, só a urgência de fazer."
No palco, os textos do poeta Haroldo de Campos, na voz dos atores, também remetem às mudanças provocadas pela passagem do tempo. "Encontrei em 'Galáxias' imagens semelhantes às que estava desenvolvendo cenicamente", explica a diretora.
Como no último trecho interpretado por Bispo do Rosario, quase no fim da peça: "E a vontade de durar de se agarrar no tempo na borda no rebordo no beiral do tempo o arco de tanto ficar tenso acaba quebrando".

Peça: Labirinto Quando: hoje e amanhã, às 21h Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, Vila Buarque), tel. (011) 256-2281 Quanto: R$ 10 e R$ 5

Quando: de 17 a 20 de julho, às 21h Onde: teatro Arthur Azevedo (av. Paes de Barros, 955, Mooca), tel. (011) 292-8007 Quanto: R$ 10 e R$ 5



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