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NO PALCO
'Labirinto' associa loucura à criação
FERNANDO OLIVA
da Redação
Loucura e arte também interagem no teatro. "Labirinto", peça
inédita que estréia hoje na Jornada
Sesc de Teatro, leva ao palco a esquizofrenia criativa de Arthur Bispo do Rosario, paciente da Colônia
Juliano Moreira, em Jacarepaguá,
no Rio, por cerca de 50 anos.
Dirigido pela coreógrafa e bailarina Márcia Bozon, o espetáculo
relaciona os textos bordados por
Bispo em suas obras à temática de
"Galáxias", livro de poesias de
Haroldo de Campos.
"Labirinto" retrata o trabalho
compulsivo do artista (diagnosticado como esquizofrênico-paranóico pelos médicos do hospício)
na construção de seu "quarto-forte", usando objetos do cotidiano.
"No decorrer da peça, Bispo não
pára de trabalhar na ampliação de
sua cela", afirma Bozon.
A idéia de dirigir "Labirinto"
surgiu quando ela fazia um trabalho acadêmico que relacionava a
loucura à criatividade. "A mesma
energia que produz a loucura pode
ser canalizada para a criação. Tanto uma quanto a outra envolvem
certo descontrole e surgem da
mesma fonte."
Compulsão
Segundo a diretora, a trajetória
do artista na peça (interpretado
pelo ator Augusto Pompeu) também funciona como metáfora da
passagem do tempo.
Arthur Bispo produzia compulsivamente e, conforme aumentava
a quantidade de obras, precisava
de outras salas no núcleo Ulisses
Viana, divisão da Colônia ocupada
por ele. "Eu tenho a sensação que
só uma pessoa não conseguiria
produzir aquilo tudo em uma única vida", diz Bozon. "Ele tinha
uma relação atemporal com a existência. Não havia passado nem futuro, só a urgência de fazer."
No palco, os textos do poeta Haroldo de Campos, na voz dos atores, também remetem às mudanças provocadas pela passagem do
tempo. "Encontrei em 'Galáxias'
imagens semelhantes às que estava
desenvolvendo cenicamente", explica a diretora.
Como no último trecho interpretado por Bispo do Rosario, quase
no fim da peça: "E a vontade de
durar de se agarrar no tempo na
borda no rebordo no beiral do
tempo o arco de tanto ficar tenso
acaba quebrando".
Peça: Labirinto
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila
Nova, 245, Vila Buarque), tel. (011)
256-2281
Quanto: R$ 10 e R$ 5
Quando: de 17 a 20 de julho, às 21h
Onde: teatro Arthur Azevedo (av. Paes de
Barros, 955, Mooca), tel. (011) 292-8007
Quanto: R$ 10 e R$ 5
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