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TEATRO
Frateschi
vive a
geração do
meio
da Reportagem Local
Celso Frateschi, 46, começou a
fazer teatro muito jovem, no Arena, com Augusto Boal. Na peça,
ele é Trigorin, escritor de uma geração intermediária entre os velhos Arkádina e Sorin e os jovens
Treplev e Nina. É um autor de talento. Mas não é, como diz na peça, um Tolstói.
(NELSON DE SÁ)
Folha - Como você está erguendo
o Trigorin, e quais são as relações
entre o ator e o personagem?
Celso Frateschi - A gente tem
três gerações muito definidas na
nossa versão, e eu fico no meio termo também. O Trigorin fica também entre as gerações e procura
acontecer, enquanto geração, enquanto artista. A Daniela buscou
alguma identidade conceitual entre ator e personagem e foi muito
legal. Em princípio, eu não tenho
nenhuma identidade com o Trigorin, mas ele, como todos os grandes personagens, acaba mexendo
com a gente. É um personagem
que, quase pelo antimodelo, faz
você refletir o tempo inteiro. Você
se sente transformado por esse
personagem.
Folha - São escolas muito diferentes, no elenco.
Frateschi - Muito diferentes. E a
Daniela conseguiu dar espaço para
que elas se manifestassem. Ela deu
todo o espaço para eu trabalhar
construtivamente, como é o meu
jeito. Quer dizer, uma coisa brechtiana, no sentido do método e não
tanto da postura. O personagem
vai sendo moldado passo a passo,
lentamente, a emoção surge de
uma maneira diferente. Foi o grande barato desse trabalho. E isso de
alguma maneira deve estar expresso no espetáculo. A gente não sabe
direito como.
Folha - Você vem de um teatro
politizado, na periferia, em sindicato. Ao mesmo tempo, é um ator
de muito refinamento.
Frateschi - O teatro que a gente
fez não era panfletário. Sempre teve uma direção mais brechtiana do
que piscatoriana. Mais no sentido
de apresentar antimodelos que podem sugerir um raciocínio e não
um ato de certeza. A gente ia provocando. E, quando eu resolvi encarar a profissão, o primeiro grande espetáculo que eu fiz foi o
"Hamlet". Aí não dá para não se
refinar (ri). Você faz uma temporada de um ano como Hamlet e
não tem como não elaborar todas
as dúvidas que vinham sendo acumuladas.
Folha - Trigorin é um espelho do
Cláudio, o tio de Hamlet.
Frateschi - É, a cena do teatro
tem uma referência direta. Mas o
Tchecov é muito legal porque ele é
o rei das pistas falsas. Ela coloca
muitas possibilidades. A grande
dificuldade é que não tem rubrica
nenhuma e tem pausas (ri). É um
sufoco para ter uma lógica. E essa é
uma das pistas, a relação hamletiana. No caso da peça-dentro-da-peça, ela é armada para ser a do
"Hamlet", mas acaba sendo como
a dos artesãos do "Sonho de uma
Noite de Verão", que apresentam
com a maior boa vontade, e a nobreza tira o maior sarro deles.
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