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ENTREVISTA
Tully crê em relação entre as mortes
de Londres
James Tully nunca havia lido
nenhum livro da família Brontë
até o dia em que foi passear em
Haworth, onde hoje existe o Museu Brontë. Estimulado pela cor
local, se viu inspirado a investigar
a dramática história da família.
"Estava nevando, a atmosfera
me fez sentir que eu teria de descobrir mais sobre aqueles seres
misteriosos, que viveram isolados
num lugar insalubre e construíram relações doentias entre si."
Tully vive na Espanha e concedeu entrevista à Folha durante o
lançamento do livro em Londres.
Folha - Que relações você vê
entre o drama pessoal de cada
membro da família e sua respectiva atividade literária?
James Tully - Os elementos que
os aterrorizavam na vida real estão em sua construção ficcional: o
medo da morte na juventude, a
doença, a solidão, a perspectiva
de morrer sozinho e a vida provinciana do interior da Inglaterra
na época.
Folha - O que mais o intrigou
sobre o destino trágico da família Brontë?
Tully - Que ninguém tenha desconfiado das supostas causas naturais das mortes. Deveria haver
uma relação dramática entre
aquelas mortes e nem as autoridades locais, habitantes do vilarejo ou amigos dos Brontë demonstraram desconfiar disso. Branwell
morreu em setembro de 1848, seguido três meses depois por
Emily e, cinco meses depois, por
Anne. Três irmãos num período
de nove meses!
Folha - No livro, você demonstra ter confiança de que a chegada de Arthur Bell Nicholls
transformou as relações entre
os Brontë. Qual é seu julgamento pessoal sobre ele?
Tully - Não é possível saber
muito sobre a personalidade de
Nicholls, mas acho que ele não tinha nenhuma vocação para uma
vida tranquila. A chegada dele no
cotidiano aborrecido e isolado
dos Brontë veio alterar o cenário.
Folha - Que tipo de documentos você pesquisou?
Tully - Entrevistei descendentes
de pessoas que os conheceram. Li
e reli a correspondência deixada
pelas irmãs. Colhi também informações de documentos oficiais
da localidade e li as biografias e
cartas de amigos das irmãs.
Folha - Você faz uma análise
dos termos utilizados para definir as causas das mortes das irmãs. Acha que isso diz um pouco sobre como o período vitoriano encarava a vida e a morte?
Tully - Isso me ajudou a entender como no período vitoriano a
medicina era muito genérica.
Quando Emily morreu, foi diagnosticado que ela tinha tuberculose só porque ela tossia muito. O
boletim médico sobre a morte de
Charlotte dizia que ela teria tido
"phtisis". "Phtisis" é um termo
usado na medicina da época que
abrange várias coisas e significa
muito pouco, está associado a
perda de peso causada pela tuberculose.
Folha - Por que você escolheu
o formato do romance para
mostrar a sua versão dos acontecimentos?
Tully - Primeiro, porque se eu
tivesse feito um livro documental,
um ensaio, eu só teria chamado a
atenção de um limitado grupo de
especialistas em literatura. Segundo, porque tentei -foi um desafio e um desejo pessoal- escrever como os Brontë. Queria criar
o mesmo clima de suspense que
elas obtiveram em seus livros.
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