São Paulo, sexta-feira, 10 de agosto de 2001

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LITERATURA

Acadêmicos apóiam viúva para a cadeira de Jorge Amado; Jô Soares desistirá caso escritora concorra à vaga

Candidatura de Zélia ganha força na ABL

DA SUCURSAL DO RIO E
DA REPORTAGEM LOCAL

A sessão de homenagem a Jorge Amado na ABL (Academia Brasileira de Letras), ontem à tarde, foi marcada pelo rumor de que a viúva do escritor, Zélia Gattai, 85, aceitou se candidatar à vaga dele na instituição. O escritor morreu segunda-feira, em Salvador.
O crítico literário Antonio Olinto, 82, membro da ABL, disse à Folha que conversou com Zélia por telefone e que ela, em princípio, aceitou a idéia. Zélia é autora de "Anarquistas, Graças a Deus", entre outros. "O nosso único medo é que muita gente pode chegar para ela e dizer: "Zélia, não fica bem". Eu disse: "Zélia, você é escritora independentemente de Jorge". Agora é preciso que ela se decida", afirmou Olinto. Para ele, Zélia "é imbatível" na eleição.
O acadêmico Arnaldo Niskier, 66, um dos articulistas da candidatura de Zélia, junto com Eduardo Portella, 68, disse que já contabilizou 25 votos a favor dela.
Ao saber da declaração do humorista Jô Soares, 62, dizendo que disputaria com Paulo Coelho, 53, a vaga, mas que retiraria a candidatura caso a adversária fosse Zélia Gattai, Niskier disse: "Então o Jô pode anunciar a retirada".
Procurado ontem pela Folha após a sessão, Paulo Coelho não quis comentar o assunto.
A cadeira de Jorge Amado na ABL, a de número 23, foi declarada vaga ontem pelo presidente Tarcisio Padilha, 73. Até as 18h, ninguém havia apresentado sua inscrição como candidato à ABL.
O acadêmico Marcos Vilaça, 62, defensor da candidatura de Zélia, disse que não conversou com ela sobre o assunto. "Mas elegê-la seria uma excelente homenagem a Jorge Amado." Zélia é considerada candidata forte, capaz até de inibir outras candidaturas, como a do romancista Antonio Torres.
Um acadêmico disse à Folha que, assim que uma vaga é aberta, antes mesmo da declaração oficial, já começa a indicação de nomes nos bastidores, com telefonemas de interessados. Desta vez, disse ele, isso não aconteceu -algo que atribui à importância de Jorge Amado e à possibilidade de que Zélia seja candidata.
O jornalista Murilo Melo Filho, 72, disse que a candidatura de Zélia tem três vantagens: seria mais uma mulher a integrar a ABL, seria um nome "baiano-paulista" (Estados pouco representados na academia) e seria um nome de repercussão internacional.
O escritor, humorista e apresentador Jô Soares afirmou ontem que iria se candidatar à cadeira de Jorge Amado. "Há dois anos, lançaram minha candidatura. Sempre me pediram para tentar e nunca aceitei. Quando soube que o Paulo Coelho seria candidato... Enfim, ele é da mesma geração. Decidi me candidatar também."
Ele disse que só desistiria da vaga se Zélia resolvesse concorrer, em respeito a ela. Ao ser informado pela Folha de que Zélia considera a possibilidade de se candidatar, Jô Soares afirmou: "Se ela é candidata, retiro meu nome".

Cerimônia
A administração do cemitério Jardim da Saudade, de Salvador, entregou ontem a João Jorge Amado, filho do escritor, uma urna com as cinzas do pai. Ele afirmou que as cinzas do escritor serão jogadas hoje sob uma mangueira plantada na casa em que o autor viveu nos últimos 40 anos, no bairro do Rio Vermelho.



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