ALEXANDRA MORAES
DA REDAÇÃO

A arte digital, que já foi restrita apenas a grupos de "geeks" e artistas apaixonados por tecnologia, vira ubiquidade esta semana em São Paulo, já que é tema e razão de duas amplas mostras. Na última quinta-feira, foi inaugurado o File (Festival Internacional de Linguagem Eletrônica), no Paço das Artes. Hoje, é a vez de "Emoção Art.ficial" dar início a uma imersão de dois meses do Itaú Cultural na combinação, muito profícua, de arte e tecnologia.
E, mesmo antes da inauguração, a mostra já dá frutos: acabou ganhando, em cima da hora, o estatuto de evento bienal, a pedido de Milú Vilella, diretora do instituto.
Reunindo 39 obras realizadas em suportes digitais, a exposição se espelha em "media centers" e festivais como o austríaco Ars Electronica e o espanhol Sónar.
"Fizemos uma pesquisa de mais de um ano sobre esses "media centers" e mandamos convites para que eles participassem desta mostra. Apenas os dos EUA (foi pouco depois de 11/9) não responderam; os outros todos estão aqui", conta Ricardo Oliveros, 37, um dos organizadores do festival.
Esses "outros" são grupos europeus, japoneses, indianos, canadenses e australianos, muitos deles nomes importantes da criação digital. O FutureLab, do Ars Electronica Center, é representado por Peter Kogler e seu "Kogler Cave Pierce (Ars Box)", uma peça que adapta para o sistema operacional Linux o conceito da Cave (Cave Automatic Virtual Environment, ambiente virtual automático, desenvolvido há 11 anos para criar ambientes imersivos).
A Cave também é utilizada em "Descendo a Escada", desenvolvida pelo ItauLab com a artista plástica Regina Silveira, a partir de sua obra "Escada Inexplicável 2".
O WRO Center for Media, da Polônia, é representado por Piotr Wyrzykowski, com seu "Cyborg Sex Manual", uma instalação interativa em que o visitante escolhe de que ponto observar um casal de robôs fazendo sexo.
Vindo de Nova Déli, o Raqs Media Collective apresenta a obra "Locationn: Simultaneity, Time and E/motion", composto por relógios, como aqueles de lobby de hotel, indicando as horas em cidades diferentes. Os relógios do Raqs, têm, no entanto, em lugar dos números, palavras que indicam sentimentos. "Podem faltar cinco minutos para a dor em São Paulo, enquanto faltam cinco minutos para a esperança em Déli ou Nova York", disse à Folha Monica Narula, 32, uma das integrantes do Raqs. "Será que você se sentiria diferente se estivesse em outro lugar, apenas pelo fato de estar em Nova Déli ou Paris, e não em São Paulo?", questiona.
"Acredito que o caminho da arte digital seja o mesmo da música eletrônica, que era uma manifestação de gueto e virou um fenômeno de massa", opina Oliveros. Caminho que, como se vê, já está parcialmente trilhado.